Vereador de SP teve morte decretada pelo PCC e foi salvo por ladrão de banco, diz Polícia Civil

Senival Moura (PT) nega envolvimento em esquema alvo de operação nesta quinta (9)

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São Paulo

Uma investigação da Polícia Civil apontou que o vereador de São Paulo Senival Moura (PT) teve sua morte decretada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) após a organização encontrar desvios de verbas em uma empresa de ônibus.

Os policiais realizaram na manhã desta quinta-feira (9) uma operação para apurar a suposta participação do crime organizado no transporte urbano na capital paulista. Entre os alvos estão integrantes da direção da Transunião, empresa que atua na zona leste e que teria o vereador como um de seus fundadores.

Moura também é suspeito de envolvimento na morte de Adauto Soares Jorge, ex-presidente da cooperativa, e na lavagem de dinheiro do PCC, de acordo com a polícia. Duas pessoas foram presas na operação.

Dono da empresa de ônibus Transunião é morto a tiros em estacionamento em padaria da zona leste de SP em março de 2020 - Reprodução

Em nota, o vereador afirmou após a operação da manhã que se surpreendeu com a ação policial e negou envolvimento com os casos investigados. "Eu estou à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos, eu que sou formado em direito confio plenamente na Justiça e sou um defensor do Estado democrático de Direito", afirmou ele (leia abaixo a íntegra da nota).

Ele foi novamente procurado no início da noite, após a Polícia Civil apresentar mais detalhes do caso, mas sua assessoria informou que um novo posicionamento só deve ser divulgado nesta sexta (9).

A Folha não conseguiu contato com a Transunião até a publicação desta reportagem.

Conforme as investigações, Adauto atuava como um "testa de ferro" de Moura e foi colocado pelo parlamentar no comando da empresa de ônibus, que era usada para lavar dinheiro do PCC. De acordo com a polícia, a dupla não teria feito o repasse de parte das verbas para a facção criminosa.

Quando o PCC descobriu isso, ordenou a morte de ambos, disse o diretor do Deic (departamento especializado em combate ao crime organizado), Fábio Pinheiro, unidade responsável pela investigação. Segundo ele, um ladrão de bancos que atuava na Transunião e foi identificado como Leonel defendeu o vereador e impediu que ele fosse morto pela facção.

"Perdoaram ele, tomaram os 13 ônibus dele e expulsaram ele da cooperativa. Em contrapartida, eles exigiram sangue. Foi a hora que o Adauto foi executado", disse Pinheiro.

Adauto foi morto a tiros em 4 de março de 2020 logo após chegar em uma padaria. De acordo com a Polícia Civil, no dia do crime, ele foi levado ao local por Devanil Souza Nascimento, vulgo "Sapo", motorista de Moura. O atirador seria Jair Ramos de Freitas, vulgo "Cachorrão", que até então atuava como motorista da Transunião e, depois disso, virou diretor da empresa.

Ainda segundo a Polícia Civil, o vereador sabia que sua morte havia sido decretada pelo PCC, enquanto Adauto achou que tinha sido perdoado.

"Um dia antes de morrer ele [Adauto] parou no banco e cancelou o seguro de vida que ele tinha, porque estava precisando de dinheiro", afirmou o diretor do Deic. "Acho que o Senival sabia, sim. Por isso acho que ele teve colaboração na morte, forneceu seu motorista."

Sapo e Cachorrão foram presos durante a operação policial desta quinta. A Justiça acatou o pedido de prisão temporária por 30 dias. A Folha não conseguiu contato com a defesa de nenhum deles.

A Polícia Civil também pediu a prisão de Moura, mas o pedido foi negado pela Justiça.

Segundo a investigação, o vereador era dono de 13 dos ônibus da Transunião, mas declarou em sua campanha eleitoral em 2020 que era proprietário de apenas um veículo.

Nesta quinta, os investigadores estiveram nas duas sedes registradas da empresa, ambas na zona leste da capital paulista, no escritório político de Moura e em outros endereços ligados ao caso. No total, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão, além dos dois mandados de prisão.

Segundo a polícia, no escritório do vereador foram encontrados documentos que comprovariam que ele era proprietário dos ônibus da cooperativa. Já em uma das garagens da empresa teriam sido achadas rifas do PCC e uma relação com nomes de integrantes da facção.

Ainda conforme a Polícia Civil, integrantes da organização criminosa são donos de 30% a 40% da frota da Transunião. A empresa recebe atualmente da prefeitura de São Paulo cerca de R$ 100 milhões por ano —o total do contrato de concessão, válido por 20 anos, é de cerca de R$ 2 bilhões.

Procurado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que o município está investigando o caso. "Não tem o que fazer do ponto de vista legal. Estamos acompanhando para que, eventualmente, com o desenrolar, não haja prejuízo no atendimento da população", afirmou ele. "Havendo condenação judicial que indique uso do contrato para lavagem de dinheiro, aí sim tomaremos as medidas contratuais."

O presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo, Milton Leite (União), também afirmou em nota estar acompanhado o caso. "Por ora, cabe ao vereador prestar os devidos esclarecimentos enquanto a polícia faz o seu trabalho", disse ele.


Nota do vereador Senival Moura

"Eu, vereador Senival Moura, venho me manifestar através desta nota pública sobre os acontecimentos noticiados em todos os meios de comunicação hoje.

Antes de comentar sobre os fatos ocorridos no dia de hoje quero reafirmar a minha história de atuação, liderança e organização do transporte alternativo na cidade de São Paulo, da qual tenho muito orgulho disso.

Sobre o Adauto Jorge Soares, sinto até hoje essa perda, principalmente pela forma cruel e violenta que foi.

Adauto junto comigo e vários outros companheiros lutamos pela regulamentação do transporte coletivo na cidade de São Paulo. Entre o início da operação clandestina e a transformação em empresas passaram-se 30 anos.

Portanto, Adauto era um companheiro de luta, trabalhador e meu amigo.

Vale ressaltar que no momento da morte do Adauto, nem eu e nem ele tínhamos mais qualquer vínculo com a empresa Transunião S/A.

Essa manhã fui surpreendido por uma operação policial em minha casa, mas quero aqui reafirmar que eu não tenho nenhum envolvimento com as ações que estão sendo noticiadas. Entretanto eu estou à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos, eu que sou formado em direito confio plenamente na Justiça e sou um defensor do Estado democrático de Direito.

Por fim, passarei por esse momento com a mesma serenidade, tranquilidade e consciência tranquila que sempre nortearam a minha vida."

Colaborou Carlos Petrocilo

Erramos: o texto foi alterado

O nome do vereador suspeito de envolvimento na morte de Adauto Soares Jorge é Senival Moura, não Sinval.

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