Antes sinal de policial de elite de SP, boina é liberada para toda a tropa da PM

Equipamento antes só podia ser usado por unidades como a Rota; corporação diz que mudança faz parte de modernização

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São Paulo

O Comando da Polícia Militar de São Paulo adotou a boina cinza como parte do uniforme oficial de toda a tropa.

Antes da mudança, o equipamento era de uso restrito, permitido apenas para integrantes de unidades consideradas de elite. A lista incluía a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e o COE (Comandos e Operações Especiais), além de Força Tática e Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia). A Corregedoria, por sua vez, utiliza boina na cor azul.

A maior parte dos policiais, assim, utilizava um chapéu cinza com duas pontas e uma faixa quadriculada conhecido como bibico. Agora, eles devem ser substituídos pela boina cinza —alguns policiais do patrulhamento de rua convencional já estão utilizando o novo modelo.

Policial usa a nova boina em patrulhamento na rua (esq.); agente usa o antigo bibico durante demonstração de equipamento
Policial usa a nova boina em patrulhamento na rua (esq.); agente usa o antigo bibico durante demonstração de equipamento - Rivaldo Gomes/Folhapress e Divulgação/Policia Militar

Segundo a PM, a modificação é parte da modernização dos equipamentos. A ordem de serviço sobre a alteração foi publicada em maio.

A instituição, no entanto, não informou o valor gasto com a aquisição da nova vestimenta e disse que ela não representa custo adicional, já que os antigos bibicos já seriam substituídos por modelos novos de qualquer maneira. Atualmente, PM de São Paulo tem cerca de 90 mil agentes.

"Tal cobertura foi tecnicamente aprovada por proporcionar maior ostensividade à população, oferecendo aos policiais militares maior amplitude de visão durante as atividades do policiamento ostensivo, melhor conforto ao policial e melhor resistência a intempéries, sendo operacionalmente mais eficaz", diz trecho da nota encaminhada para a reportagem.

Conforme a PM, a boina possui resistência três vezes superior à das coberturas antigas, constituindo, em médio e longo prazo, economia com custeio na substituição das peças, além de facilitar o processo licitatório na aquisição dos uniformes.

A mudança na vestimenta é vista como retrocesso pelo coronel aposentado da PM José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "A boina passa imagem de combate e pouco diálogo, quando estávamos avançando na conduta mais comunitária de mais proximidade e diálogo", afirmou ele.

"Contrariamente ao que muitos policiais imaginam, o aparato mais agressivo, usado por tropas tipo Rota e Bope, assustam o cidadão e não intimidam o infrator. Melhor que [as boinas] sejam restritas para uso pontual", disse.

Silva afirmou ainda que o uso da boina causa incômodo para o policial e que o modelo utilizado anteriormente era mais leve.

Ex-comandante da Rota, o deputado estadual Coronel Telhada (PP) disse que a PM deveria ter outras prioridades. "A Polícia Militar tem que voltar os olhos dela para problemas de valorização da nossa tropa. Na saúde, na parte salarial, isso sim é o que interessa no momento."

O deputado defendeu ainda que o governo deveria tornar o uso da vestimenta opcional para os policiais que realizam o patrulhamento nas ruas. "Já que não sabe se põe boina, se põe boné, bibico, deixa a tropa descoberta no policiamento. É um trabalho a menos para o policial, um gasto a menos para o Estado, e é uma preocupação a menos para a Polícia Militar."

Doutor em psicologia pela USP e tenente-coronel aposentado da PM, Adilson Paes de Souza, não crê que a alteração traga algum resultado nas ruas. "Na minha opinião não será isso que influenciará na atuação policial".

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