Descrição de chapéu transporte público

Ato pede preservação de sítio arqueológico e novo nome para futura estação de metrô de SP

Manifestações culturais e religiosas foram realizadas neste sábado em frente a obra da linha 6-laranja, na praça 14 Bis

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São Paulo

Movimentos sociais e moradores da Bela Vista, no centro de São Paulo, realizaram um ato neste sábado (2) em frente à futura estação 14 Bis, da linha 6-laranja do metrô. O grupo, com cerca de 300 pessoas, fez duas reivindicações: a troca do nome para Saracura/Vai-Vai e a preservação de um sítio arqueológico que teria sido encontrado no local em abril.

O evento teve manifestações culturais e religiosas. Cerca de 30 mulheres do coletivo Ilú Obá De Min entoaram canções de matrizes africanas e composições próprias. Representantes da Embaixada do Samba também compareceram. As obras do metrô pararam durante a manifestação.

Todo o ato foi acompanhado por cerca de 100 policiais militares. Havia ainda agentes da Companhia de Engenharia de Trafego (CET).

Mulher em perna de pau, com toupa vermelha, chapéu e máscara, defende a mudança de nome da futura estação 14 Bis
Mulher em perna de pau defende a mudança de nome da futura estação 14 Bis - Tatiana Cavalcanti/Folhapress

Em nota, a Secretaria de Transportes Metropolitanos diz que solicitações, como a troca de nomes de estações, devem ser formalizadas oficialmente para análises técnicas. Representantes do movimento afirmam que ainda não fizeram o pedido oficialmente ao governo estadual, mas que a questão já foi discutida em reuniões com o Metrô e outros envolvidos no processo.

A empreiteira Acciona, responsável pela obra e que integra o consórcio Linha Uni, que vai fazer o gerenciamento da linha-6, confirmou que foram encontrados vestígios de sítio arqueológico a cerca de 3 metros de profundidade na obra, o que gerou a necessidade de elaboração de um projeto de resgate que permitisse a investigação do que se tratam os achados.

A Acciona afirma que a empresa A Lasca, responsável pela investigação arqueológica, enviou um projeto de resgate ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

À reportagem, o instituto disse está à espera do relatório final da A Lasca sobre as condições no local.

Na manifestação, os ativistas distribuíram panfletos explicando que não são contra a construção da estação do metrô.

A jornalista e ativista do movimento negro Luciana Araújo, 45, moradora no bairro desde 2007, defende que a mudança do nome da estação é importante para dar conhecimento à população dessa história pouco explorada.

"O Bixiga [onde fica a futura estação] é conhecido como bairro italiano, mas a origem dele é negra. Existiu aqui o quilombo Saracura, construído na beira do rio Saracura, onde hoje passa a avenida 9 de Julho. Admiramos muito Santos Dumont, mas ele já é homenageado [com o nome de seu avião 14 Bis] na estação de ônibus na praça. Essa história dos negros não pode ser esquecida", afirma Luciana.

Segundo a Acciona, de acordo com relatório, objetos resgatados no sítio arqueológico poderão fazer parte do acervo do Centro de Arqueologia de São Paulo, vinculado ao Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura, ou serão identificadas alternativas de exposição em conjunto com a comunidade do entorno.

"Também foi autorizada a continuidade da etapa construtiva com a execução das paredes de contenção do local, necessárias como medida de segurança para que os arqueólogos possam iniciar a escavação e para que a continuidade das obras mantenha a integridade do patrimônio cultural."

Em seu site, a A Lasca afirmou que no último mês de abril recebeu autorização do Iphan para o salvamento emergencial do sítio arqueológico Saracura/14 Bis e que está investigando a origem dos objetos encontrados, possivelmente mais recentes.

No local, no século 19, ficava o quilombo Saracura, um dos mais antigos da capital paulista, e o córrego Saracura, canalizado e aterrado ao longo do tempo com sedimentos provenientes de outras partes da cidade.

"Os achados arqueológicos iniciais presentes em relatórios enviados ao Iphan são provenientes desses aterros e, no que toca ao antigo quilombo da Saracura, ainda não foram encontrados vestígios materiais", diz a empresa. "O que não significa que o material histórico identificado não possa estar vinculado ao cotidiano de seus ocupantes e descendentes, já no século 20."

Em nota, o Iphan confirmou as informações da A Lasca e disse que o material arqueológico citado consiste de épocas mais recentes, como louças, vidros, moedas. "Conforme a fase atual de pesquisa, os dados obtidos por meio das intervenções executadas nesta área sugerem que, de modo geral, a camada de aterro é presente em todas as áreas averiguadas. Isso remete a drástica alteração na paisagem derivada da consolidação da malha urbana e, sobretudo, do processo de aterramento do córrego Saracura".

O instituto disse ainda que o sítio Saracura/14 Bis-Estação está cadastrado no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão.

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