Descrição de chapéu cracolândia

Cracolândia fecha rua dos Gusmões e gera insegurança na Santa Ifigênia

Medo de furtos e roubos tem diminuído número de clientes na rua dos produtos eletroeletrônicos, dizem comerciantes

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São Paulo

Dependentes químicos bloquearam a rua dos Gusmões e a transformaram em mais um fluxo da chamada cracolândia, no centro de São Paulo. A via está localizada nas proximidades de um dos mais conhecidos centros comerciais da cidade, a rua Santa Ifigênia, com lojas especializadas em produtos eletroeletrônicos.

Fluxo é o nome dado para a concentração de usuários de drogas em um determinado ponto.

Devido à quantidade de pessoas, tornou-se impossível acessar tanto a pé quanto de carro a rua dos Gusmões na altura da avenida Rio Branco, fazendo com que o motorista precise encontrar caminhos alternativos para chegar até a Santa Ifigênia.

Por volta das 16h desta terça-feira (5), apenas uma dupla de policiais militares, que estava na calçada de uma concessionária de veículos desativada na Rio Branco, monitorava a situação.

Usuários de drogas estão concentrados na rua dos Gusmões, no centro de São Paulo
Fluxo da cracolândia concentrado na rua dos Gusmões, na esquina com avenida Rio Branco, no centro de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

No mesmo horário, usuários de drogas também caminhavam pela avenida com caixas de som portáteis pedindo dinheiro a motoristas parados em semáforos. O trânsito na Rio Branco seguia normalmente e nenhuma de duas vias estavam bloqueadas.

Além da rua dos Gusmões, um outro fluxo continuava concentrado na rua Helvétia, entre a avenida São João e a alameda Barão de Campinas. O grupo estava isolado por faixas e cones, com um trecho liberado para passagem de veículos e pedestres.

Até a semana passada, os usuários de drogas que hoje ocupam a rua dos Gusmões estavam fixados na Rio Branco, em um trecho entre a a própria Gusmões e a rua General Osório. Após uma ação da polícia na última quinta (30) para impedir a presença do grupo na avenida, eles se mudaram para o ponto atual.

À reportagem, comerciantes da rua Santa Ifigênia disseram que os clientes sumiram devido ao medo de transitar pelo local.

O gerente comercial Eder Perez, 35, trabalha há 12 anos na Santa Ifigênia, e contou que pedestres e motoristas já eram vítimas de furtos e roubos na região, mas que a situação piorou após a dispersão de usuários e moradores de rua da praça Princesa Isabel, em maio. A nova mudança para as proximidades da Rio Branco deixou o cenário ainda mais preocupante, diz ele.

"O quarteirão entre a Gusmões e Santa Ifigênia está intransitável. Temos relatos de clientes que estão assustados e estão deixando de frequentar a nossa rua. Temos queda de 40% no número de clientes para este período do ano. Tenho este controle com relação ao nosso número de cupons fiscais emitidos", disse Perez.

Além da ausência de clientes, ele conta que os funcionários das lojas também tiveram que alterar suas rotinas para evitar crimes.

"Estamos apreensivos. Nossos fiscais de loja estão trabalhando praticamente nas calçadas. No sábado, por exemplo, em pleno funcionamento tivemos de baixar as portas das lojas por duas vezes, devido ao fluxo dos usuários subirem a rua na tentativa de saquear os produtos", afirmou.

"Fica aquele corre-corre, os clientes assustados correm para dentro das lojas, para se proteger e não serem furtados", acrescentou.

Um outro comerciante com estabelecimentos na rua Santa Ifigênia classificou como "estado de pânico" a situação atual. "Temos que fechar as lojas várias vezes ao dia", disse o empresário Eduardo Salim, 51, sobre o medo de furtos e roubos.

Ele também notou um recuo na quantidade de pessoas em busca de sua loja após as mudanças recentes de endereço da cracolândia.

"A quantidade de clientes caiu 50%. E, os clientes que vem, nos relatam que não voltariam mais", disse Salim. Para ele, falta policiamento no local, e uma base policial poderia amenizar a situação.

Diante do quadro, os comerciantes da rua Santa Ifigênia pretendem realizar um protesto na próxima quinta-feira (7). A intenção é fechar as lojas entre 9h e 11h, como forma de chamar atenção para a insegurança.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse que "trabalha de forma permanente na região central ofertando acolhimento, atendimento médico e terapêutico para usuários de drogas e pessoas em situação de rua."

"A atuação dos agentes municipais integrado com as ações de combate ao tráfico, realizadas pelas Polícias Civil e Militar com apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM), está reduzindo o fluxo da cracolândia e os novos focos estão sendo atendidos com os serviços sociais e terapêuticos e monitorados pelos policiais, afirma a nota.

"A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) informa que as equipes do Seas [Serviço Especializado de Abordagem Social] realizam atendimentos sociais diariamente nos arredores da Avenida Rio Branco a adultos, idosos, crianças e adolescentes que vivem em situação de rua ou de vulnerabilidade social, incluindo cenas de uso de álcool e outras drogas", diz o texto.

"No período entre 25 de março até a última segunda-feira (04), os orientadores registraram mais de 11.000 abordagens no território que resultaram em cerca de 2.800 encaminhamentos e mais de 8.000 orientações. As ações são realizadas sempre com o objetivo de proporcionar acesso à rede de serviços socioassistenciais e às demais políticas públicas, bem como desencadear o processo de saída das ruas e promover o retorno familiar", completa a prefeitura.

Também procurada, a Secretaria de Segurança Pública do governo estadual disse que uma nova ação na região seria realizada nesta terça e que a Polícia Civil "tem avaliado todas as possibilidades para combater o tráfico de drogas, dentro dos limites da lei, nas ruas de São Paulo, em especial na região central".

"A instituição monitora os deslocamentos mencionados pela reportagem e realiza trabalho de inteligência para identificar os traficantes que atuam na área central. A Operação Caronte, cujo objetivo é combater o tráfico de entorpecentes na região da cracolândia e seu entorno, é realizada constantemente e já resultou na prisão de 126 criminosos, que permanecem detidos", afirma a nota. "Cabe ressaltar que a pasta presta constante apoio aos órgãos de Saúde e de Assistência que também atuam na região, no acolhimento de usuários de drogas".

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