Discussão por choro de criança termina com dois mortos em Teresina

Instrutor de tiros atingiu cunhado e também acabou baleado com a própria arma; uma babá está em estado grave

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Rio de Janeiro

Dois homens morreram baleados em Teresina após uma discussão familiar motivada pela irritação de um deles pelo choro de uma criança com transtorno do espectro autista. Uma babá, Juliana da Silva, 36, foi atingida por um tiro na cabeça e está internada em estado grave.

Segundo a polícia, o instrutor de tiros Daniel Flauberth Gomes Nunes Leal, 38, saiu de casa para brigar com o garoto de quatro anos que chorava, na sexta (29). O menino é filho do servidor público Felipe Guimarães Martins Holanda, 37, irmão da esposa de Leal, que morava no mesmo terreno que o cunhado.

No dia seguinte, o pai da criança apareceu na casa de Leal com uma faca, segundo relato da mulher do instrutor à polícia.

Imagem de revólver em chão de terra
Revólver em área rural de Foz do Iguaçu (PR) - Paulo Lisboa - 10.jul.2019/Folhapress

"[Holanda] perguntou 'cadê o teu marido, eu tô aqui esperando ele'. Ela pediu calma a ele. Nesse momento, Daniel [Leal] escutou e já ia descendo. Quando ele desceu, a mulher dele fechou a porta. Nesse instante o Felipe [Holanda] começa a chutar a porta, a querer arrombar", relata o delegado Francis Costa-Baretta.

O instrutor então efetuou um disparo de sua pistola 380 contra a porta, mas, em vez de acertar o cunhado, atingiu a babá que cuidava das crianças na área de lazer comum.

Houve confronto físico entre os cunhados e, na briga, Holanda foi atingido por um tiro na virilha e morreu após cirurgia no Hospital de Urgência de Teresina.

Leal foi atingido por tiro na cabeça, provavelmente por acidente com a própria arma, e morreu poucas horas depois. A polícia ainda investiga as circunstâncias, mas as apurações iniciais indicam que a arma do instrutor foi a responsável por todos os tiros disparados durante a briga.

Leal tinha, além da arma do crime, uma pistola 9 mm e um revolver 357, ambos em um cofre. Segundo a esposa relatou aos policiais, comprou recentemente um fuzil, que ainda não foi entregue.

"Hoje as pessoas com a prática esportiva de tiro estão conseguindo arma como se consegue um suvenir qualquer. Arma não resolve nada, te digo isso com 42 anos de polícia", afirma o delegado.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de pessoas com licenças para armas de fogo disparou no governo Jair Bolsonaro (PL) e registrou aumento de 473% em quatro anos. Em 2018, antes do presidente assumir, havia 117,4 mil registros ativos para caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs.

No ano seguinte, esse número saltou para 197,3 mil registros, uma alta de 68%, e seguiu em curva ascendente até chegar em 673,8 mil em junho deste ano —o maior valor da série histórica, que começou em 2005.

Além disso, o anuário mostra que o Brasil tem 2,8 milhões de armas de fogo particulares, um aumento de 39% em relação a 2020, quando o país registrava pouco mais de 2 milhões de armamentos particulares.

O governo Bolsonaro editou até o momento 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei que flexibilizam as regras para ter acesso a armas e munições.

Para especialistas ouvidos pela Folha, a série de medidas enfraqueceu um dos principais pilares do Estatuto do Desarmamento, a proibição de o cidadão comum andar armado, e causa insegurança jurídica.

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