Imóvel do podcast A Mulher da Casa Abandonada atrai curiosos em São Paulo

Comerciantes relatam aumento da movimentação na região

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A publicação do podcast A Mulher da Casa Abandonada provocou uma espécie de romaria urbana para a rua onde fica o imóvel que serve como cenário para a série da Folha.

Nos dois últimos fins de semana, houve pequenas aglomerações na frente da casa em Higienópolis, região central de São Paulo, onde vive Margarida Bonetti. Protagonista da história, ela é suspeita de ter mantido por quase 20 anos nos Estados Unidos uma empregada doméstica em condição análoga à escravidão.

Quando o caso estava sendo investigado por autoridades americanas, no fim dos anos 1990, Margarida deixou o país, retornou ao Brasil e passou a morar no imóvel, que pertence a sua família.

A capa do podcast tem o desenho de um casarão, em branco e preto. A imagem escorre até o nome do programa: A Mulher da Casa Abandonada
O podcast A Mulher da Casa Abandonada investiga a vida de uma brasileira procurada pelo FBI - Editoria de Arte

Na última quinta (14), um grupo de pessoas foi até a calçada em frente ao imóvel. Um dos presentes era a produtora audiovisual Ingrid Dias, 25, que disse ter ouvido o podcast por indicações de amigos e ficado curiosa para conhecer o local.

"Quando você está lendo um livro, você imagina aquilo de uma forma. Vindo aqui, por exemplo, eu vi que a casa está muito pior do que eu imaginava, fiquei mais chocada ainda", afirmou ela.

Mesmo sem ter escutado o podcast, o músico Yann Rossi dos Anjos, 27, também decidiu ir até a casa. Ele disse que estava de passagem pela região e decidiu ir até o imóvel para mandar fotos para a noiva, essa sim ouvinte da série.

Comerciantes da região dizem que notaram um crescimento na movimentação de seus estabelecimentos recentemente.

O taxista Levi Ferreira de Queiroz, 60, disse que o movimento nas proximidades da casa foi mais forte nos dias logo após o lançamento do podcast, em 8 de junho, especialmente aos finais de semana. "Juntou muita gente, tinha gente xingando, gente querendo invadir", afirmou.

O taxista conta que trabalha naquele ponto há mais de vinte anos e que, em diversas ocasiões, ele atendeu Margarida. "Ela estava sempre com o creme branco no rosto [do jeito que o podcast descreve]. Levei ela algumas vezes à praça da Sé. Eu pedia para ela abrir a janela por causa do cheiro da pomada, mas ela preferia andar com os vidros sempre fechados", diz.

Nessas últimas semanas, ele atendeu passageiros que foram visitar o local. "Eles estavam muito curiosos, perguntavam coisas; a gente que está aqui conhece esse caso há muito tempo", diz.

Chico Felitti, autor do podcast, pediu que as pessoas não se comportem de maneira agressiva na frente da casa. "Se as pessoas sentiram alguma coisa ouvindo o podcast, se despertou alguma coisa nelas, o que eu aconselho é usar essa energia para debater esse assunto, que é maior. É um assunto que permeia o país inteiro. Vamos discutir trabalho análogo a escravidão. Vamos procurar denunciar", afirmou ele à reportagem.

Seis episódios do podcast estão disponíveis nas principais plataformas de áudio, como Spotify, Apple Podcasts e Deezer. Todas as quartas-feiras, às 7h , um novo episódio vai ao ar —o último sai nesta quarta (20).

O podcast é apresentado e escrito por Felitti, autor do livro "Ricardo & Vânia", que narra a história de vida de um artista de rua conhecido como Fofão da Augusta, e que foi finalista do Prêmio Jabuti de 2020. Felitti também criou e apresenta "Além do Meme", série documental em áudio exclusiva do Spotify —eleita o Podcast do Ano pelo Prêmio Splash UOL em 2020.

A série tem participação da atriz e dramaturga Renata Carvalho, que interpreta em português as entrevistas feitas em inglês, e de Magê Flores, que apresenta o Café da Manhã, podcast diário da Folha, e também coordena a produção de A Mulher da Casa Abandonada. A edição de som do podcast é de Luan Alencar, e a produção é de Beatriz Trevisan e Otávio Bonfá.

O podcast é uma reportagem que se baseou em registros de um caso de notório interesse público, procurou ouvir todos os envolvidos e deu espaço às versões dos que se manifestaram. A série não é uma investigação policial nem um processo judicial. A Folha condena qualquer tipo de agressão e perseguição contra as pessoas retratadas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.