A jornalista Luciana Bistane fez jus à profissão. Contou histórias difíceis e, como diz o jargão jornalístico, sujou os sapatos nas suas idas e vindas da rua, o lugar onde está a notícia que impacta diretamente a vida de milhares de pessoas. Ela morreu no último dia 4 de julho após 20 anos convivendo com o câncer de mama.
"Passamos 2021 inteiro em Portugal. Minha irmã mora lá e estava grávida. A minha mãe queria acompanhar esse momento. Foi muito gostoso, porque estivemos as três juntas e ela pôde ver a neta nascer", diz Luiza Bistane Spetic, 21, filha da jornalista.
Luciana cresceu ouvindo histórias. Nascida em Ribeirão Preto, é a irmã do meio dos cinco filhos de uma professora de alfabetização e de um vendedor itinerante. Decidiu ser jornalista.
"Quando soube que ela queria ser jornalista, meu avô disse 'filha, seus irmãos vão enriquecer e você ficará pobre, não faça jornalismo. Essa é uma profissão de homens e não vale a pena'", conta Luiza. "E ouviu tudo o que meu avô tinha para dizer e respondeu 'bom, é isso que eu vou fazer'."
Formada na Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), na década de 1980 Luciana começou a trabalhar como repórter na TV Manchete. Ela deixou o emprego para fazer intercâmbio de um ano na França e na Espanha. De volta ao Brasil, conheceu o primeiro marido, com quem teve a filha mais velha, Luana Bistane da Cunha, 35.
Por cerca de quatro anos, a jornalista não trabalhou fora e se dedicou a cuidar da filha. A volta às redações de jornais televisivos aconteceu após o divórcio. Luciana se mudou para Belo Horizonte, onde atuou como chefe de reportagem do MGTV, da Rede Globo. Passou três anos em Minas Gerais e então foi transferida para São Paulo.
Foi na Globo, em 1998, que conheceu o segundo marido e pai de Luiza. O relacionamento chegou ao fim pouco tempo após o nascimento da filha, em 2000.
Em São Paulo, ela trabalhou como editora do Jornal Hoje, do Jornal da Globo e do Fantástico.
Luciana escreveu o livro "Jornalismo de TV", trabalhou como professora de jornalismo na PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica) e na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, formando uma geração de jornalistas.
Ela ganhou dois prêmios Vladimir Herzog em sua carreira, um deles por uma reportagem que revelou agressões de policiais a crianças em situação de rua do centro de São Paulo.
Deixa duas filhas e uma neta, Beatriz.
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