Multidão encara calor e lota ruas na volta da Marcha para Jesus em São Paulo

Reencontro dos fiéis com a Marcha, após a pandemia, também serviu para agradecer cura da Covid e pedir saúde

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Multidão toma as ruas para acompanhar a Marcha para Jesus Ronny Santos/Folhapress

São Paulo

A Marcha para Jesus voltou a tomar as ruas da capital paulista neste sábado (9), e uma multidão de fiéis encarou o calor de até 27ºC –segundo os termômetros de rua na região– para demonstrar sua fé, além de agradecer e pedir saúde.

Nos últimos dois anos, por causa da pandemia, a organização realizou eventos menores, como carreatas, lives e shows no estilo drive-in. A deste ano, portanto, marcou o reencontro do público com a Marcha. O Campo de Marte ficou tomado pelos participantes, que ocupavam até as ruas laterais.

Por volta das 18h30, os organizadores estimaram que público presente girou em torno de 2 milhões de pessoas. Em 2012, a organização da Marcha anunciou mais de 5 milhões de participantes, mas uma medição feita pelo Datafolha apontou 335 mil pessoas.

Fiéis durante oração; após dois anos só com eventos menores, por causa da pandemia, Marcha para Jesus voltou a tomar as ruas de São Paulo - Ronny Santos/Folhapress

A aposentada Maria Aparecida Teixeira, 68, pegou um paninho do Neto Lucas, 3, para se sentar numa grama com sombra atrás do palco onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursava na praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira, por volta das 12h40 deste sábado.

"Essa sombra foi um achado", disse a idosa, pouco antes de erguer as mãos para o céu quando Bolsonaro disse que esse é um país laico, mas que o presidente é cristão.

Com mais três pessoas da família, ela disse ter encarado metrô da zona leste para agradecer pela recuperação de um sobrinho que chegou a ser intubado no ano passado por causa da Covid-19.

Reclamando de dores na perna esquerda, Maria Aparecida disse que caminharia tudo de novo - para chegar até a sombra atrás do palco, a família precisou dar uma volta no quarteirão e passar por entre as grades que fecham as ruas do entorno ao trânsito.

"Tem muita gente, mas vale a pena", afirmou.

Perto dali, a estudante Larissa Chagas, 22, que veio de Cajamar, na Grande São Paulo, tentava gravar o primeiro show após a fala do presidente, apesar de a altura do enorme palco não ajudar aos que não estavam de frente para ele. "Não dá para ver direito, mas aqui não tem empurra-empurra e o som é perfeito", afirmou.

Armanda Ferreira, 16, veio com um grupo de 35 fiéis da igreja Assembleia de Deus, da cidade de Alumínio (SP). Sua primeira marcha teve uma emoção especial, nas palavras delas. A jovem veio agradecer a Deus pela vida, pela superação da Covid, que atingiu sete primos e dois tios de sua família. "Vim orar por eles, que superaram esse mal, sem sequelas ", disse, emocionada. "A marcha é também uma forma de agradecer essa benção alcançada."

A irmã, Sarah, 19, contou que os fiéis que estavam com elas aguardavam o momento dos shows de música gospel. "Por enquanto foi só adoração. Falta agora o momento da ferveção", disse Sarah. O amigo delas, Fabrício Hermenegildo Silva, 20, alertou para o que o grupo se mantivesse unido em meio à multidão. A previsão era de retornar para Alumínio às 21h.

A 30ª edição da Marcha reuniu muitos casais com filhos, incluindo bebês, em carrinhos. A doméstica Jussara Aparecida da Silva, 31, conta que pulou da cama antes das 5h, em Cidade Tiradentes, na zona leste, para chegar antes das 9h. "Achei muito organizada e segura", disse ela, acompanhada por um grupo de amigas e crianças.

Ela, porém, fez algumas ponderações. "Está difícil encontrar lugar para comer e ir ao banheiro. Quiseram cobrar R$ 10 por um espetinho. Onde moro, sai pela metade", contou.

Com a falta de banheiro químico, longas filas se formavam para ir a sanitários abertos por empresas nos arredores do Campo de Marte. O acesso custava R$ 5 em um dos deles, cuja fila contava com mais de 200 pessoas por volta das 13h30, na avenida Santos Dumont.

Ruanita, 6, uma cachorra da raça shih-tzu , estava devidamente trajada com a camiseta do encontro. Deitada num carrinho de bebê, era conduzida pela sua tutora, a vendedora Marineide Vitória, 53, evangélica da igreja Renascer. Conta que a pequena sofre de leucemia, displasia e hérnia de disco. "Ela é uma criatura de Deus. Só o Senhor pode curá-la", disse, emocionada, Vitória.

José Henrique Batista, 37, da Universal do Reino de Deus, veio de Piracicaba para participar da Marcha. "Não estou interessado em discurso de político, mas faz parte, né? Olha a multidão. Tem muita gente aqui que acredita no que eles [políticos] falam. Eu acredito em Deus", disse ele, bandeira do Brasil enrolada ao corpo.

De Embu das Artes (Grande São Paulo), a dona de casa Silvana Rodrigues dos Santos, 41, da igreja Batista da Promessa, afirma que, mesmo entre os evangélicos, a corrida presidencial está bastante dividida. Na avaliação dela, a vinda de Bolsonaro à marcha foi bastante equilibrada. "Ele falou mais da importância de Deus em nossas vidas do que sobre política. Afinal de contas, a marcha é para Jesus, não para políticos. Aqui não é um espaço para se promover", disse ela. "A presença dele não me influenciou em nada. Ainda não decidi em quem votar."

Já o influencer Rodrigo Libório, 36, que mantém um canal cristão no YouTube, avalia que a participação de Bolsonaro na marcha atendeu a dois interesses, tanto o do poder da fé quanto o do poder político.

Morador do Tatuapé, zona leste da capital, eleitor de Bolsonaro, Libório diz que o presidente não teria como não levar seu discurso para o lado político, apesar de trazer para a Marcha os seus ideais cristãos. "Foi meio a meio", disse. "A Marcha é um movimento grandioso, forte. Ele soube fortalecer esse vínculo com os evangélicos, diferentemente dos representantes da oposição."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.