Ampliação de praia de Balneário Camboriú faz um ano com alta de turistas e temor de poluição

Ambientalista teme que substâncias químicas possam afetar peixes e banhistas

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Balneário Camboriú (SC)

Um ano após o início das obras de alargamento da faixa de areia da praia central de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, a cidade registra aumento de preços dos imóveis e maior circulação de visitantes, segundo a prefeitura e entidades ligadas à construção civil e ao turismo.

Ambientalistas críticos à obra, porém, temem que os produtos químicos remexidos do fundo do mar afetem peixes e crustáceos e, a médio e longo prazo, possam causar problemas de saúde nas pessoas.

A obra foi iniciada em 22 de agosto do ano passado, mas a praia só foi totalmente liberada no início de dezembro. Com a entrega, a faixa de areia passou de 25 metros para 75 metros de largura.

imagem área de banhistas em praia com prédios ao fundo
Praia central de Balneário Camboriú (SC) após o alargamento da faixa de areia, em imagem de dezembro de 2021 - Prefeitura de Balneário Camboriú - 26.dez.21/Divulgação

Após a liberação total, houve aumento no valor da venda de imóveis residenciais na cidade. Segundo o FipeZap, a elevação foi de 24,77% em maio deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores.

Para o presidente do Sinduscon (Sindicato da Construção Civil) de Balneário Camboriú e Camboriú, Nelson Nitz, o aumento do índice não tem relação direta com a ampliação da faixa, mas devido ao "déficit de oferta" de imóveis na cidade.

E isso acaba influenciando no preço do metro quadrado na cidade, considerado o maior do país. A cidade, segundo o presidente do Sinduscon, atrai investidores pela liquidez, ou seja, a facilidade de negociação do imóvel, tanto para compra quanto para aluguel.

"Aqui o investidor tem garantia do seu investimento. Sabe que se comprar apartamento aqui, tem garantido o dinheiro dele", afirma Nitz.

Dados do sindicato apontam a criação de mais de 1.000 novas vagas na construção civil entre janeiro a agosto deste ano. O número é superior aos dois últimos anos.

A cidade também percebe aquecimento do turismo. Em janeiro deste ano, a taxa média de ocupação em hotéis e pousadas na cidade ficou em 81,19% o que não era visto desde janeiro de 2020, pré-pandemia, quando ficou em 84,88%. Os dados são do Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau.

A vice-presidente de captação de eventos da entidade, Margot Rosenbrock Libório, espera para a próxima temporada crescimento ainda maior de turistas.

"A nova praia central influencia na decisão do turista para vir para a cidade, principalmente turistas de alta temporada. A ampliação da faixa de areia tem uma aprovação muito grande de turistas e da própria população", diz Libório.

A avenida Atlântida margeia a praia e só é separada pela areia da praia pelo passeio público, que deve passar por ampliação de quatro metros para 15 metros de largura, segundo o prefeito Fabricio Oliveira (Podemos).

Com a reurbanização, a intenção é criar espaços separados para caminhada, corrida e ciclistas, além de disponibilizar outros serviços à população na praia.

A obra, segundo o prefeito, só vai ser possível devido à ampliação da faixa de areia.

A mudança, no entanto, recebe críticas de especialistas. O biólogo e professor na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Paulo Antunes Horta Junior diz que obras do gênero têm reflexos no meio ambiente "nada desprezíveis" e, por isso, este tipo de intervenção precisa ser revisto devido às mudanças climáticas e aumento no nível do mar.

imagem área de faixa de areia com predios ao fundo
Faixa de areia alargada, em imagem de fevereiro deste ano; setor imobiliário projeta aumento nos valores de apartamentos após a obra - Flávio Tin-14.fev.2022/Folhapress

Entre os impactos, segundo o pesquisador, estão a redução da transparência da água, além de mudanças em ecossistemas.

Além disso, a dragagem da área acabou por remexer poluentes que foram se acumulando ao longo dos anos no fundo do mar, conforme o professor.

Peixes, crustáceos e outras espécies acabam consumindo esses poluentes e, a média e longo prazo, vão ser consumidos pelos seres humanos, o que pode virar um problema de saúde pública, segundo Horta Junior.

Para o pesquisador, uma análise apenas mercadológica da ampliação da faixa de areia simplifica a questão e não leva em conta os reais impactos da obra para a sociedade. O professor questiona se o gasto de R$ 66,8 milhões com a obra será duradouro, já que há risco da areia ser levada pelo mar.

"O fundo do oceano vai acumulando poluentes diferentes [ao longo dos anos]: metais pesados, hidrocarbonetos e mesmo aqueles poluentes emergentes como antibióticos, fármacos, microplásticos. Tudo isso vai afundando no fundo do mar", diz

Já a oceanógrafa e professora da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) Débora Ortiz Lugli Bernardes entende que os impactos da obra ao meio ambiente ocorreram principalmente no momento de retirada dos sedimentos. Porém, ela observa que é preciso acompanhar a hidrodinâmica (direção das correntes) ao longo dos meses para ver se há alguma alteração.

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