Cônsul alemão diz que marido surtou, caiu e bateu a cabeça antes de morrer; veja vídeo

Uwe Hebert Hah, preso sob suspeita de homicídio, enviou foto do marido no chão a amigo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

O cônsul alemão Uwe Herbert Hah, 60, preso sob suspeita de ter matado o marido, o belga Walter Henri Maximilien Biot, 52, afirmou que o companheiro teve um surto, caiu e bateu a cabeça antes de morrer na última sexta (5), no apartamento do casal em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro.

O exame de necropsia do IML (Instituto Médico Legal) constatou que o belga possuía hematomas, escoriações e outros tipos de lesão em mais de 15 pontos do corpo e que a causa da morte foi traumatismo craniano causado por "ação contundente" (pancada violenta ou não).

0
O belga Walter Henri Maximilien Biot (à esq.), 52, morto nesta sexta (5), e o marido e cônsul alemão, Uwe Herbert Hahn, que foi preso - Divulgação/Policia Civil

Hah teve a prisão em flagrante convertida em preventiva neste domingo (7). O juiz Rafael de Almeida Rezende escreveu que sua liberdade "poderia acarretar sérios gravames à colheita das provas", citando que a casa foi limpa antes da chegada da perícia.

Em depoimento prestado na tarde deste sábado (6) à delegacia do Leblon, a que a Folha teve acesso, o alemão disse que os dois estavam casados havia 23 anos e moravam no Brasil havia 4 anos. Biot não trabalhava, mas possuía passaporte diplomático.

O cônsul declarou que em maio deste ano foi avisado de que eles teriam que se mudar para o Haiti, como é de praxe na profissão a cada quatro anos, e que seu marido estava nervoso e angustiado com a organização da mudança.

Há um mês, o belga teria então começado a beber de forma excessiva e a usar medicamentos para dormir de forma desordenada. "Passou a ter algumas reações irracionais, a saber: dormia demais e costumava acordar durante as madrugadas gritando, tendo pesadelos frequentes", diz o depoimento.

Hah afirmou que essas reações se intensificaram alguns dias atrás e que seu marido caía da cama, tropeçava nas mobílias e, na madrugada de quinta (4) para sexta, chegou a ter uma diarreia muito intensa a ponto de sujar a casa toda, incluindo a cama, o banheiro e o chão.

Como não dormiu durante a noite, o belga voltou a dormir e acordou novamente às 10h, enquanto o alemão trabalhava em regime de home office. Por volta das 11h, Biot saiu para passear com o cachorro com as roupas sujas, sem se alimentar e "completamente em desalinho", segundo o marido.

Quando voltou, cerca de 20 minutos depois, o alemão pediu que ele tomasse um banho e continuou trabalhando na sala. Em seguida, ouviu seu marido gritando palavras desconexas no banheiro e foi até lá ajudá-lo.

Ele "gritava desesperadamente, tremia e estava com os olhos arregalados como se estivesse em surto", contou. O cônsul procurou acalmá-lo, desligou o chuveiro, o secou, o ajudou a se vestir e voltou para a sala para trabalhar. O marido depois foi ao seu encontro e eles tomaram champanhe juntos, segundo o relato.

O belga então voltou a dormir. Por volta das 16h, Hah saiu para passear com o cachorro por 30 minutos e, depois, para comprar comida e bebida na padaria por 20 minutos. Ao voltar, acordou o companheiro e o convenceu a se alimentar e a tomar um suco.

O cônsul alemão então afirmou que foi para a cozinha preparar uma massa e, enquanto ela cozinhava, voltou para a sala para fumar com o esposo no sofá. "De forma repentina, seu marido teve um surto, se levantou, começou a gritar e correu apressadamente em direção ao terraço", diz o documento.

Apartamento em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, onde o belga Walter Henri Maximilien Biot foi encontrado morto - Divulgação/Polícia Civil

Ele afirmou ainda que "acredita que seu marido tropeçou no carpete e caiu com o rosto no chão", entre a sala de estar e o terraço, onde permaneceu caído emitindo gemidos —que o cônsul não conseguiu identificar se eram de dor ou gemidos desconexos.

O cônsul alemão disse que tirou uma foto do companheiro ao chão e enviou a um amigo que mora em Nova York, que havia perguntado como o alemão estava, mostrando que o marido estava bêbado novamente.

Ele contou que depois disso tentou levantar Biot, que continuava gemendo, e viu uma mancha de sangue próxima à sua cabeça. Não soube dizer se ele havia batido a cabeça no móvel ou no chão. A perícia na cobertura encontrou manchas de sangue em ambos.

O cônsul continua o depoimento afirmando que ficou desesperado e chegou a dar um tapa nas nádegas do marido para reanimá-lo. O laudo do corpo descreve uma equimose (roxo) na região dos glúteos.

Ele foi até a portaria para pedir ajuda ao porteiro, a quem entregou o celular para que chamasse a emergência já dentro do apartamento. Uma mulher também tentou reanimar o belga antes de o Samu chegar. Quando a equipe médica chegou, disse, o companheiro já não estava mais respirando.

O alemão então foi levado à delegacia por policiais militares, onde ficou por cerca de duas horas. De volta ao prédio, avisou aos amigos sobre a morte e dormiu. O porteiro e sua secretária, que ligou pela manhã perguntando se poderia levar algo para comer, também já prestou depoimento.

Uwe Herbert Hah foi preso em flagrante na noite de sábado. Sua defesa entrou com um pedido de habeas corpus alegando ilegalidade na prisão, ausência de flagrante para a sua custódia e considerando a imunidade diplomática.

A juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Tribunal de Justiça do RJ, porém, negou o pedido, afirmando que por se tratar de um processo do plantão judiciário "deve se limitar ao aspecto formal e da circunstância do delito praticado", diz nota do tribunal.

A Folha tentou entrar em contato com dois advogados do cônsul que constam no processo por telefone e por email. Um deles visualizou a mensagem da reportagem, mas não respondeu até o momento. A Embaixada e o Consulado da Alemanha ainda não se manifestaram.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.