Descrição de chapéu Folhajus

Entidade vai pedir ao CNJ afastamento de juiz acusado de assédio em São Paulo

Projetos contra abuso sexual receberam quase 90 relatos contra Marcos Scalercio, do TRT, que nega as acusações

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São Paulo

A organização Me Too Brasil planeja pedir ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) o afastamento emergencial de Marcos Scalercio, juiz do TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região) acusado por mulheres de abuso sexual. A defesa do magistrado nega as acusações.

O ofício deve ser apresentado ao órgão nesta quinta-feira (25). O documento pede, entre outras coisas, a abertura de um procedimento administrativo disciplinar contra o magistrado e que, caso seja comprovada a veracidade das denúncias e relatos das vítimas, ele seja exonerado sem os vencimentos.

Segundo o TRT-2, Scalercio está de férias e deve permanecer de recesso até 6 de setembro. Além disso, ele já foi desligado do Damásio, curso preparatório para carreira jurídica onde lecionava em São Paulo.

Marcos Scalercio, juiz do trabalho de São Paulo, acusado por mais de 15 mulheres de assédio sexual entre 2014 e 2020
Marcos Scalercio, juiz do trabalho de São Paulo, acusado por mais de 15 mulheres de assédio sexual entre 2014 e 2020 - @marcosscalercio no Twitter

"Ele sempre utilizou do poder de influencia para coagir e chantagear [as vítimas]", diz Luanda Pires, advogada e Diretora de Políticas Públicas do Me Too Brasil, que está à frente do caso há dois anos. "Não podemos permitir que um juiz do trabalho, que analisa processos que tenham como objeto assédio sexual e moral, tenha tantas denúncias da mesma espécie contra ele mesmo."

De acordo com o Me Too Brasil, as acusações contra Scalercio foram encaminhadas para a Ouvidoria da Mulher, do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), que acionou os órgãos responsáveis: CNJ, TST (Tribunal Superior do Trabalho) e MPF (Ministério Público Federal).

O TRT-2 realizou uma investigação e diz ter concluído que não havia provas suficientes para a abertura do processo de assédio. O caso foi arquivado por insuficiência de provas, e a medida está sob análise no CNJ.

Já o MPF encaminhou ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) as denúncias. O órgão confirma que há um processo no âmbito criminal contra o juiz, que tramita sob sigilo.

No ofício que será protocolado, a advogada relata possíveis problemas que ocorreram durante a primeira investigação no TRT-2 e relata, por exemplo, que as vítimas foram atribuídas como testemunhas, o que pode ter contribuído para o arquivamento do processo. Além disso, ela ressalta que duas das vítimas foram ouvidas na presença do juiz.

O magistrado foi acusado por três mulheres de assediar, forçar beijos e fazer reunião enquanto estava nu e se masturbando. As denúncias foram recebidas pelo Me Too Brasil em parceria com o Projeto Justiceiras. De acordo com a organização, uma das pessoas que fizeram a queixa era sua aluna —as outras duas atuavam como servidora e estagiária.

Desde que o caso se tornou público, os projetos já receberam 87 relatos de assédio por suas redes de atendimento. Do total, 18 foram encaminhados como denúncia ao CNMP, que possui a Ouvidoria da Mulher, e dois ao Ministério Público do estado de São Paulo.

A defesa do juiz, realizada pelo escritório de advocacia Capano, Passafaro Advogados Associados, diz que ele é "um profissional de reconhecida competência e ilibada conduta pessoal, quer seja no âmbito acadêmico, quer seja no exercício da judicatura".

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