Galeria de família alvo de roubo de quadros está vazia, suja e com contas acumulando

Espaço em Ipanema, no Rio, está sem movimento há um ano, dizem comerciantes

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Rio de Janeiro

Com CNPJ ativo desde 1978, a galeria Jean Boghici, em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, tem sinais de abandono e sujeira. O espaço foi criado pelo romeno Eugene Boghici, também conhecido como Jean, um dos maiores marchands brasileiros que morreu há sete anos, e chegou a ser administrado pela esposa, a francesa Geneviève Rose Coll Boghici, 82.

Sabine Boghici, a filha do casal, foi presa nesta quarta-feira (10) sob suspeita de roubar da própria mãe mais de R$ 725 milhões. a maior parte em obras de arte. Entre os quadros estão obras de Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Também foram roubadas joias e feitas transferências bancárias. A reportagem não conseguiu ouvir a defesa de Sabine Boghici.

imagem de contas de luz no chão sujo
Entrada da galeria Jean Boghici com sinais de abandono, acumulando sujeira e contas de água; local está sem movimento há um ano, segundo comerciantes da região - Matheus de Moura/Folhapress

O espaço funcionava na rua Joana Angélica 180. Contas de água e internet no portão de ferro da entrada se acumulam no local que está sem atividades há quase um ano, segundo comerciantes da região ouvidos pela reportagem.

A inatividade do local coincide com o período em que a polícia aponta que a idosa foi mantida pela filha em cárcere privado, por um ano.

Funcionários do prédio na avenida Atlântica, em Copacabana, onde a francesa Geneviève residia numa cobertura, afirmam que ela não era vista havia quatro meses. O período coincide com a primeira denúncia que a mãe fizera contra a única filha na Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade.

Segundo policiais, a francesa teria denunciado que, nos últimos dois anos, a filha a extorquia e a ameaçava e chegou a ser mantida em cativeiro por um breve período em 2021.

Agentes encontram obra "Sol poente" (1929), de Tarsila do Amaral (1886-1973), embaixo de cama de suspeitos de terem roubado idosa no Rio de Janeiro
Agentes encontram obra 'Sol Poente' (1929), de Tarsila do Amaral (1886-1973), durante operação que investiga o roubo de R$ 720 milhões em obras de arte no Rio; este foi um dos quadros que teria sido vendido pela quadrilha - Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro

CARTOMANTE

De acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, a idosa foi abordada por uma mulher que se passou por cartomante, que disse que a filha estava doente e morreria em breve. A quadrilha de falsos videntes agia havia cerca de 20 anos e convenceu a idosa de que as obras estavam amaldiçoadas. ​

"Por ter um lado místico e uma filha que enfrenta problemas psicológicos desde a adolescência, a idosa foi convencida, inclusive pela filha, a realizar os pagamentos solicitados para o tratamento espiritual proposto", divulgou a polícia.

Os suspeitos serão indiciados por suspeita de associação, cárcere privado, estelionato e roubo e extorsão, contou o delegado.

VEJA A LISTA DE OBRAS:

  • "O Sono", de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 300 milhões
  • "Sol Poente", de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 250 milhões
  • "Pont Neuf", de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 150 milhões
  • "Ela", aquarela de Cícero Dias, avaliada em R$ 1 milhão
  • Aquarela sem título, de Cícero Dias, avaliada em R$ 1 milhão
  • Desenho representando uma paisagem, de 1935, de Alberto Guignard, avaliada em R$ 150 mil
  • "Rue des Rosiers", de Emeric Marcier, avaliada em R$ 150 mil
  • "Eglise Saint Paul", de Emeric Marcier, avaliada em R$ 150 mil
  • "Porto de Pesca em Hong Kong", de Kao Chien-Fu, avaliada em R$ 1 milhão
  • "Coruja ao Luar", de Kao Chi-Feng, avaliada em R$ 1 milhão
  • "Retrato", de Michael Macreau, avaliada em R$ 150 mil
  • "Mulher na Igreja", de Ilya Glazunov, avaliada em R$ 500 mil
  • "Mascaradas", de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 1,5 milhão
  • "O Menino", de Alberto Guignard, avaliada em R$ 2 milhões
  • "O Maquete Para Meu Espelho", de Antônio Dias, avaliada em R$ 1,5 milhão
  • "Elevador Social", de Rubens Gerchman, avaliada em R$ 1,5 milhão
Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do texto afirmava que o valor dos quadros foi atestado pelo perito Nilton ​​Thaumaturgo Rocha Júnior. Os preços foram estimados pela idosa vítima do crime, segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro.

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