Idosos: saiba como denunciar roubos e golpes dados pela própria família

Para antropóloga, pessoas mais velhas precisam enfrentar vergonha para dar queixa de um filho; ter uma 'rede de proteção' ajuda

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São Paulo

Durante quase dois anos —sendo o último em cárcere privado dentro de seu próprio apartamento no Rio de Janeiro— a francesa Geneviève Rose Coll Boghici, 82, foi vítima de um golpe milionário, de acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro.

A filha dela, Sabine Coll Boghici, presa na última quarta-feira (10) com mais três pessoas, é a principal suspeita do crime, que só chegou a fim quando a idosa conseguiu dar um basta na ação e denunciou o caso à polícia.

Mas para que isso ocorra e conseguir proteção, é preciso enfrentar o problema, apesar do medo e da vergonha. É o que diz Mirian Goldenberg, antropóloga da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e colunista da Folha, que estuda envelhecimento há décadas.

Policiais retiram do porta-malas de uma viatura obra de arte que teria sido roubada de uma idosa pela filha, no Rio de Janeiro - Mariana Moreira - 10.ago.22/Folhapress

"Quando acontece uma coisa dessas, a pessoa idosa pode pensar que que é culpada, porque criou um filho ou uma filha assim. Mas ela precisa entender que isso está acontecendo em boa parte das casas brasileiras", afirma. "Por isso, deve enfrentar esse bandido para que ele não aplique um golpe ou roube outra pessoa."

Um pai dar queixa de um filho não é fácil, como admite a própria polícia. Segundo o delegado Milton Gomes de Oliveira, titular da Delegacia do Idoso, da 4ª Delegacia Secional de São Paulo (na zona norte), geralmente um outro parente, insatisfeito com a situação, vai até ele e faz a denuncia do que está ocorrendo. Ou um advogado representando a vítima.

"O que mais chega aqui são casos de parentes que se aproveitam do benefício do idoso, gastando por conta própria", afirma o policial.

O advogado João Paulo Iotti Cruz, vice-presidente da Comissão de Direitos da Pessoa Idosa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, confirma que há resistência de idosos em formalizar um denúncia.

E segundo ele, crise econômica, recortes sociais e desigualdade também são fatores que dificultam ainda mais que pais ou avós procurem órgãos como a polícia, o Ministério Público, os conselhos de idosos ou a Defensoria Pública para denunciar violência patrimonial ou física.

"Não denunciam a retenção de seu cartão porque sabem que os filhos precisam da sua aposentadoria", afirma.

Por isso, a comunidade na qual o idoso vive precisa ficar alerta a sinais dados por ele e denunciar suspeitas de abusos financeiros ou de violência —o médico pode desconfiar de uma marca no corpo de seu paciente, por exemplo.

Há várias formas de o idoso se proteger, direta ou indiretamente, caso não queira ir a uma delegacia de polícia, mesmo a especializada em atendimentos a pessoas com mais de 60 anos —apenas na cidade de São Paulo há oito destes endereços, em todas as regiões.

Goldenberg diz que outros filhos e os netos devem ficar atentos. "Muitas vezes não prestam atenção no que está acontecendo", afirma.

Idosos, segundo ela, devem tentar montar uma espécie de "canal" ou "rede de proteção" para buscar ajuda. O porteiro do prédio onde mora, vizinhos e amigos podem ser bons aliados. "Falo com meus amigos velhos todos os dias por telefone. Eles precisam ter para alguém ligar", lembra ela. "A família vai saber que ele está sendo monitorado."

O ideal, segundo ela, é que o idoso crie laços de confiança antes mesmo de problemas na família começarem a acontecer.

"Não ter com quem contar é pior do que ser roubado. Se a idosa do Rio de Janeiro tivesse alguém, teria percebido o crime há muito mais tempo", afirma a antropóloga.

A pandemia de Covid-19, que confinou, principalmente, as pessoas idosas em casa, acabou com uma rede indireta de amparo, formada por funcionários de bancos, supermercados e farmácias, lugares que essas pessoas mais velhas iam rotineiramente. E, na opinião de Goldenberg, filhos se aproveitaram da situação na exploração dos pais, que não saíram mais para a rua.

"Essa rede de apoio, formada pela comunidade e por amizades é importante. Uma ligação para o Disque 100 [serviço de denúncias de violações de direitos humanos] pode ser feita a partir de alguém daí", explica o advogado Cruz.

PARA DENUNCIAR

Monte uma rede

  • Procure outros parentes, como filhos e netos que não estão envolvidos em roubos, golpes ou qualquer tipo de violência ou violação de direitos
  • Dê sinais para vizinhos e porteiros de que algo pode estar errado
  • Tenha sempre em mãos o número do telefone de um amigo ou de uma pessoa de confiança, e fale sempre que possível com ela
  • Interaja com a comunidade, que vai perceber se há algum problema e pode fazer a denúncia aos canais competentes

Denuncie por telefone, mensagem, aplicativo e internet

Disque 100
Serviço anônimo que recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos

190
Polícia Millitar

WhatsApp
Basta mandar mensagem para (61) 99656-5008

Telegram
Digite "Direitoshumanosbrasil" na busca do aplicativo

APP SABE
Ferramenta Interativa conectada diretamente ao Disque 100. Pode ser baixado nos sistemas Android e iOS

Pela internet
Digite no navegador www.gov.br/mdh/pt-br/ondh

Onde denunciar

Delegacia
Veja se seu município tem uma delegacia especializada no atendimento a idosos; caso contrário, vá a uma comum mesmo​

Em São Paulo, casos de estelionato contra idosos podem ser registrados também pela Delegacia Eletrônica

Ministério Público
Procure a Promotoria do Idoso de seu estado

No caso do estado de São Paulo

  • é possível formalizar a denúncia, inclusive de forma sigilosa, pela internet. Basta clicar aqui
  • o idoso também pode entrar em contato vai email idoso@mpsp.mp.br
  • pelo telefone (11) 3119-9000
  • presencialmente na rua Riachuello, 115, Sé, das 9h
  • Nas demais regiões, o idoso deve comparecer à Promotoria Cível do Foro Regional

Defensoria Pública
Clique aqui e veja contatos da Defensoria Geral da União no seu estado
Para levar o caso diretamente à Defensoria Pública do Estado de São Paulo, o agendamento pode ser feito pela internet ou pelo telefone 0800 773 4340. disponível em dias úteis das 7h às 19h

Conselho Municipal de Direitos da Pessoa Idosa da cidade de São Paulo
Atendimento presencial na Rua Líbero Badaró, 119, 1º andar, centro das 9h as 16h, mediante agendamento. Os telefones são 2833-4218/4360/4359Ou
Ou pelo e-mail; gcmidoso@prefeitura.sp.gov.br

Endereços de delegacias de idosos na cidade de São Paulo

1ª Delegacia Seccional de Polícia - Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Rua do Arouche S/N loja516/517(estação República do metrô) - 1º piso, República

2ª Delegacia Seccional de Polícia - Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Avenida Engenheiro George Corbisier, 322, Jabaquara, zona sul

3ª Delegacia Seccional de Polícia - Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Rua Itapicuru, 80, Perdizes, zona oeste

4ª Delegacia Seccional de Polícia - Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Rua dos Camarés, 94, Carandiru, zona norte

5ª Delegacia Seccional de Polícia - Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Rua Antônio Camardo, 69, Vila Gomes Cardim, zona leste

6ª Delegacia Seccional de Polícia - Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Rua Padre José de Anchieta, 138, Santo Amaro, zona sul

7ª Delegacia Seccional de Polícia - Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Rua Padre Estanislau de Campos, 750, Artur Alvim, zona leste

8ª Delegacia Seccional de Polícia -Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
Rua Osvaldo Pucci, 180, Parque do Carmo, zona leste

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