Descrição de chapéu Obituário Elza Marina Mazzei Adolpho (1946 - 2022)

Mortes: Fez da natação um estilo de vida vitorioso

Elza Marina Mazzei Adolpho transformou a piscina de sua casa em uma escolinha para crianças carentes

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São Paulo

Elza Marina Mazzei Adolpho nunca precisou colocar seus óculos de natação para enxergar fundo. Já aposentada e morando com a vida feita em um condomínio de alto padrão na região de Cabreúva (a 78 km de São Paulo), ela observou que jardineiros levavam seus filhos para brincar na piscina das casas vizinhas. Receosa de que algum deles pudesse se afogar, a multicampeã das águas passou a dar aulas de graça para a meninada.

Nascia ali o projeto Nado Livre, que durante quase 20 anos ensinou mais de 500 crianças do bairro a nadar, na piscina com raia profissional que havia construído no quintal de casa para treinar.

A nadadora Elza Marina Mazzei Adolpho com a tocha das Olimpíadas de 2016; esportista morreu no último dia 13 de julho em uma estrada que liga Bonito a Jardim, em Mato Grosso do Sul; o táxi em que ela estava com uma amiga, que também acabou morta, capotou - @elzamarina.mazzeiadolpho no Facebook

O trabalho cresceu tanto que uma marca de material esportivo e outros nadadores passaram a fornecer nadadeiras, óculos, tocas e maiôs para a turminha boa de braçada, que ao final de cada verão ganhava medalha, certificado e lições de cidadania.

Mais velha de cinco irmãos, Elza Marina herdou do pai, um italiano que se mudou criança para o Brasil e virou jogador de vôlei, e da mãe, nadadora, a vocação para o esporte. Cursou faculdade de educação física na USP (Universidade de São Paulo) e se especializou em natação —foi professora, inclusive.

E com o esporte ganhou reconhecimento. Foi escolhida, por exemplo, para levar a tocha das Olimpíadas do Rio de Janeiro, de 2016, em Jundiaí (a 58 km da cidade de São Paulo).

"Ela não tinha limites, não parou nem quando quebrou o braço ou teve Covid-19", afirma a irmã Rossana Mazzei.

O condomínio onde morava fica na região da Serra do Japi e a proximidade geográfica permitia que Elza Marina realizasse duas de suas paixões: pedalar por trilhas e cuidar de animais.

A tutora de 18 gatos e também pós-graduada em ecologia e educação ambiental parou uma estrada com seu carro porque notou que uma pata havia fugido assustada, largando os filhotes para trás. Pois ela pegou os patinhos e os levou primeiro para a piscina de casa e depois os soltou em um lago. "Os patos nadavam com ela", diz a irmã.

Porém, a natação foi sempre sua maior paixão. Elza Marina, que chegou a ficar entre as dez melhores do mundo em nado borboleta em sua categoria, aposentou-se do trabalho, mas nunca da água.

Com fôlego de sobra, apesar da idade, era sempre chamada para competições no mar. "Ela só não atravessou o Canal da Mancha", brinca Rossana.

Elza Marina Mazzei Adolpho, que tinha projeto para ensinar crianças a nadar - @elzamarina.mazzeiadolpho no Facebook

Certa vez, ao ser questionada sobre quais provas havia ganhado, preferiu fugir da raia, literalmente. "Já venci várias competições, principalmente no Brasil e na América do Sul, mas é chato falar. A gente nada pela gostosura de participar."

No mês passado, a atleta viajou para disputar um torneio em Bonito, Mato Grosso do Sul. Entre uma prova e outra foi com uma amiga, a também nadadora master Elvira Rita Valente Almeida, conhecer as belezas do lugar, quando o táxi em que estavam capotou e caiu em uma vala. As duas morreram e chocaram a comunidade esportiva, tanto que a Federação Aquática Paulista soltou uma nota de pesar.

Elza Marina Mazzei Adolpho morreu no último dia 13 de julho, aos 75 anos. Deixou o marido Paulo, os filhos Pedro e João Paulo, e a neta Beatriz.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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