Descrição de chapéu Obituário Célia Couto Teixeira (1917 - 2022)

Mortes: Passou por dois séculos, sobreviveu a pandemias e guerras

Célia Couto Teixeira gostava de artes, em geral, e de declamar poesias

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São Paulo

Sobrevivente de pandemias, guerras, revoluções e golpes ocorridos nos séculos 20 e 21, Célia Couto Teixeira tinha muita história para contar.

Ela chegou aos 104 anos —em 8 de agosto completaria 105— lúcida e permaneceu assim até três dias antes de morrer. A centenária partiu certa de que deixou amor, esperança e muitas lições de vida.

Natural de Belo Horizonte, desde cedo Célia mostrou talento para as artes e pela poesia. Adorava declamá-las.

"Ela costumava contar com entusiasmo que, certa vez, recebeu uma candidata a aluna e, assim que ouviu o primeiro verso cantado por ela, disse que aquela menina já era uma artista pronta. A menina era a cantora lírica Maria Lúcia Godoy", conta o jornalista e radialista Xico Teixeira, 69, um dos filhos.

Célia Couto Teixeira (1917-2022)
Célia Couto Teixeira (1917-2022) - Arquivo pessoal

Em 1935, aos 18 anos, teria sido eleita a Rainha do Carnaval de Belo Horizonte, se não fosse a intervenção do pai, o comerciante mineiro Francisco Gonçalves Couto.

Em 1939, Célia casou-se com o médico Mozart Geraldo Teixeira e se mudou para Juiz de Fora (MG). Os dois ficaram casados durante 60 anos e tiveram 17 filhos. Mozart batiza um hospital e uma praça da cidade mineira.

Talentosa por natureza, a arte corria em seu sangue. Uma vez, Célia foi questionada sobre o que faria se não tivesse casado e constituído família. Ela respondeu: "queria ser do palco".

Célia acompanhava o marido nos compromissos políticos e sociais. Na cidade, participava de grupos de mulheres católicas e militava em prol dos direitos humanos, sempre com um olhar sensível à população mais carente. Ela integrava a Fraternidade Dominicana e foi uma das fundadoras da Ação Católica.

Pelos serviços prestados a entidades filantrópicas, recebeu da Câmara Municipal o título de cidadã honorária de Juiz de Fora.

Os filhos a chamavam de dama da delicadeza. O título foi dado por um dos filhos, Faustino, que é teólogo. Para ele, o apelido é a expressão mais real da sensibilidade e da visão de vida que Célia tinha.

Dona de um amor incondicional, gratuito e comprometido pela vida, sua família e pelas pessoas, Célia tratava todos de forma especial.

Acolhedora, carinhosa, firme e decidida, ao mesmo tempo, sabia se posicionar e mediava conflitos quando necessário. Ela deixa um legado de otimismo, esperança e solidariedade.

O único sonho não realizado foi o de ver o país melhor, sem a maldade humana.

Célia manteve a lucidez até três dias antes de morrer. Acamada há dois anos, nunca reclamou da vida ou das condições adversas que se encontrava. Por duas vezes, foi infectada pelo coronavírus —a última pouco antes de morrer.

Célia morreu dia 25 de julho, em decorrência de uma broncopneumonia. Viúva, deixa 13 filhos, 31 netos e 33 bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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