Processo para demissão da PM de tenente que atirou em Leandro Lo pode durar até 20 anos

Decisão pela exoneração do policial Henrique Velozo não depende do governador

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São Paulo

O processo administrativo que pode resultar na demissão da Polícia Militar do tenente Henrique Otavio Oliveira Velozo —preso por ter atirado na cabeça do lutador Leandro Lo Pereira do Nascimento— é demorado e pode levar até duas décadas para ser concluído.

A reportagem conversou com três advogados —um deles pediu para não ser identificado— que atuam na esfera militar e que foram unânimes em dizer que o procedimento não é simples, e que não depende de uma ação do governador Rodrigo Garcia (PSDB).

Por ter patente de tenente, Velozo deve passar pelo Conselho de Justificação, como é chamado o processo em que se apura se um oficial da Polícia Militar tem requisito para permanecer na tropa.

O campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Pereira do Nascimento Lo
O campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Pereira do Nascimento Lo, de 33 anos, foi baleado numa festa dentro do Clube Sírio, no bairro Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo, na madrugada deste domingo (7) - @leandrolojj no Instagram

A apuração é aberta e iniciada a pedido do secretário de Segurança Pública. "Esse Conselho de Justificação é instruído por três oficiais da Polícia Militar, de patente mais elevada que esse oficial", explicou para a Folha o professor de direito militar João Carlos Campanini.

Uma vez aberto, o procedimento possui duas fases. A primeira acontece dentro da própria PM, na qual o trio oficiais pode decidir pelo arquivamento do processo, se considerarem que a conduta de Velozo foi justificada, ou decidir pela exclusão do policial.

Concluído, o processo deve ser encaminhado para o Tribunal de Justiça Militar. "Somente o Pleno do Tribunal de Justiça Militar, composto por sete juízes, é que tem competência para julgar a conduta desse policial e dizer se esse oficial deve permanecer ou não na Polícia Militar", explicou Campanini.

O professor explicou que, em caso de cassação do posto e da patente do tenente, isso representa, para militar da ativa, a perda da função pública, o que o exclui da corporação. É quando a decisão é encaminhada para conhecimento do governador.

"O governador não tem competência para decidir, ele só cumpre a decisão do Tribunal de Justiça Militar, após o trânsito em julgado do processo administrativo", pontuou.

Campanini explica que o Conselho de Justificação prescreve em seis anos, desde que não se tenha um crime envolvido. Como no caso do tenente Velozo existe uma suspeita de crime, o prazo é diferente. "Quando tem um processo administrativo que também tem um crime envolvido, a prescrição do processo administrativo se dá pela prescrição do crime, que no caso de homicídio, são 20 anos".

"Enquanto ele sendo processado administrativamente pela instituição, o processo criminal estiver em curso ou caso ele seja condenando criminalmente, a administração ainda tem até 20 anos da data do fato para apurar a conduta dele administrativa", detalhou o professor.

Caso Velozo seja absolvido, aí apaga-se a prescrição criminal, fixando o prazo administrativo para prescrição em seis anos.

A advogada Joice Vanessa dos Santos, que também atua na esfera militar, afirmou ter presenciado um Conselho de Justificação que levou sete anos. Joice, inclusive, é advogada de um soldado que abriu um procedimento na Justiça comum contra um ato praticado pelo tenente Velozo, que vetou a devolução da arma da corporação para ele, que passa por um processo de exoneração.

"A mídia parando de divulgar, para a pressão. Eles deixam engavetado. Se puxar o índice de oficial demitido da corporação é mínimo", disse. Para ela, o caso envolvendo o tenente Velozo deve levar ao menos cinco anos para ser concluído.

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