Descrição de chapéu Independência, 200

Museu do Ipiranga reabre com vaia a governo Bolsonaro e chuva

Depois de nove anos fechado, instituição realizou cerimônia de reinauguração nesta terça (6)

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Fachada do Museu Ipiranga recebe iluminação especial durante a cerimônia de inauguração nesta terça (6)

Fachada do Museu Ipiranga recebe iluminação especial durante a cerimônia de inauguração nesta terça (6) Eduardo Knapp/Folhapress

São Paulo

Após nove anos fechado ao público, o Museu do Ipiranga reabriu oficialmente nesta terça-feira (6) em uma cerimônia para cerca de 600 pessoas, entre patrocinadores, políticos e professores.

O evento foi marcado por uma troca de críticas entre autoridades do governo estadual e do federal —o ministro do Turismo, Carlos Brito, chegou a ser vaiado durante seu discurso. Além disso, a chuva que começou a cair ao fim da solenidade fez os convidados correrem para se abrigarem dentro do museu.

A reabertura estava prevista inicialmente para quarta (feriado do 7 de Setembro), mas foi adiantada para esta terça exatamente para evitar manifestações políticas. A instituição fica na zona sul de São Paulo.

O evento contou ainda com uma visita livre pelo museu e apresentações da Osusp (Orquestra Sinfônica da USP), que executou o hino nacional, além dos discursos de autoridades. Houve ainda a exibição de uma placa para marcar a reinauguração.

Entre os presentes, estiveram o secretário de estadual de Governo, Marcos Penido, e o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior.

A diretora do museu, Rosária Ono, fez um aceno as mulheres em seu discurso e enumerou diversos postos que foram liderados por elas durante a obra. "Sou a única a estar nesse palco, mas represento outras que estiveram antes e ao meu lado durante essa jornada", disse ela.

O secretário de Cultura e Economia Criativa do estado, Sérgio Sá Leitão, criticou o que chamou de tentativa do governo Jair Bolsonaro (PL) de se apropriar do evento e da reforma do espaço.

"É um absurdo que o governo federal se árvore para tentar capitalizar em cima da entrega do Museu do Ipiranga, sendo que o governo federal não fez absolutamente nada para que isso acontecesse, a não ser sua obrigação de disponibilizar os incentivos fiscais da Lei Rouanet", disse o secretário à Folha. "O governo federal se ausentou do papel constitucional de promotor, incentivador e financiador da cultura".

Devido à legislação eleitoral, políticos que são candidatos em outubro não puderam comparecer ao evento —incluindo o governador Rodrigo Garcia (PSDB) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já o ex-governador João Doria (PSDB), que comandou o estado durante a maior parte da reforma, participou do evento e adotou um tom de conciliação. "Nosso bom sentimento é pela paz, harmonia, chega de briga e confusão", disse ele, que agradeceu aos representantes do governo federal.

Sem perder o tom político, o ex-governador disse que a abertura do museu representa uma vacina contra o obscurantismo. "Chega de divisões. Dentro de mim, há uma certeza de que a passagem pela vida pública tenha permitido tantos legados. Esta obra eterniza esse esforço coletivo."

Em sua fala, Leitão citou também a vacina contra Covid e os esforços da gestão Doria para conseguir o imunizante. Isso gerou uma resposta de Brito, que representou Bolsonaro no evento.

"Você falou de vacina, nem era o momento para isso, mas gostaria de dizer que nenhuma vacina chegou a nenhum município que não fosse através do governo federal", disse ele, em referência a Sá Leitão.

O ministro ainda agradeceu Deus, fez aceno a mulheres e elogiou ações do governo federal. "Enquanto o mundo fala em inflação, o Brasil fala em deflação. Nosso governo não trabalha com promessas, mas com entregas", disse. A plateia respondeu com vaias e gritos de "mentiroso" e "chega".

Também representante do governo federal, Hélio Ferraz, secretário especial de Cultura, agradeceu ao governo federal. "A casa da Independência está reformada e de portas abertas a toda a população", disse.

Já o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) relembrou o tempo que as obras do museu ficaram paradas e alfinetou gestões anteriores. "Por quê? Quem estava à frente?", afirmou.

Secretária municipal de cultura, Aline Torres lamentou as vaias. "Vivemos em uma sociedade democrática em que cada um tem uma visão. É chato porque estamos em um momento de respeitar as visões, mas acho que o evento é maior que isso", disse à Folha.

Ela também elogiou os esforços de diferentes gestões para a realização da reforma do museu .

"Tenho uma criança de 12 anos em casa que não conhece o museu e eu conheci quando tinha 12 anos com o meu pai. Tenho certeza que vai ser um museu com um giro de público muito alto", disse ela.

Após os discursos, foi feita uma nova apresentação da Osusp, com peças como "Bachiana nº 7", composição de 1942 de Heitor Villa-Lobos.

Na quarta-feira (7), está programada uma inauguração simbólica para 200 estudantes de escolas públicas e trabalhadores que fizeram parte da reforma. No mesmo dia, acontece a abertura do parque, seguida da apresentação da DJ Luísa Biscardi, o balé de drones e a projeção mapeada na fachada do museu.

A partir das 19h, acontece a apresentação da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo e shows de nomes como Criolo, Margareth Menezes, Fafá de Belém, Gaby Amarantos, João Carlos Martins e Johnny Hooker.

O público em geral poderá visitar o museu a partir do dia 8. As visitas desta semana já estão esgotadas —os lotes semanais serão liberados sempre às segundas, às 10h, no site do museu.

O orçamento da reforma e da ampliação do museu alcançou R$ 235 milhões. Cerca de dois terços desse valor são oriundos da Lei Rouanet, e um terço vem de aportes do governo estadual, da USP e do patrocínio direto das empresas. Também foram gastos outros R$ 19 milhões no restauro do jardim francês, obra completamente custeada pela administração estadual.

O edifício-monumento, fundado em 1895 a partir de projeto do italiano radicado no Brasil Tommaso Gaudencio Bezzi (1844-1915), foi fechado em 3 de agosto de 2013, visando a segurança dos visitantes e dos funcionários. Em mau estado de conservação, o museu foi interditado após a queda de forros em algumas salas do edifício.

Em 2019, foram iniciadas as obras de ampliação, reforma e restauro assinadas pelo escritório H+F, dos arquitetos Eduardo Ferroni e Pablo Hereñu.

O Novo Museu do Ipiranga vai além do edifício-monumento. Há ainda a nova área construída, que fica à frente e abaixo da antiga construção, onde estarão duas amplas entradas para o museu, um auditório, um café e um salão para exposições temporárias, entre outras áreas; e o jardim francês, situado logo à frente deste novo pavimento.

"É um novo museu, é um projeto que nos orgulha muito. Nós não nos limitamos a restaurar o edifício e pronto", disse Leitão. "Quem conheceu antes, viu que era uma expressão e visão mais oficial e conservadora da história, sendo que agora tem uma história mais abrangente, democrática, inclusiva em relação ao acervo".

As obras do museu

Em fevereiro deste ano, a instituição terminou a recuperação de 7.600 m² de fachadas, ou seja, toda a parte externa do prédio. Já em abril, botou ponto final na restauração dos ambientes internos, que incluem saguão, salas de exposição e corredores.

Depois disso, foi realizada a montagem das exposições permanentes; a finalização dos equipamentos de modernização (elevadores, principalmente); e a instalação do aparato multimídia, que vai auxiliar os visitantes.

O museu vai exibir em torno de 3.700 itens –entre pinturas, esculturas, fotos, objetos, relíquias arqueológicas– divididas em 11 exposições. "Independência ou Morte", a controvertida pintura de Pedro Américo, integra a mostra "Uma História do Brasil", que compreende o hall, a escadaria principal e o salão nobre

Outro destaque é a maquete de gesso que representa a cidade de São Paulo em 1841, parte da exposição "Passados Imaginados".

No prédio, há 49 salas expositivas. A maior delas terá 900 m², tamanho equivalente ao de uma quadra esportiva —o cômodo está localizado na área ampliada da instituição ligada à USP, resultado de uma ampla escavação em frente ao prédio antigo, onde está a esplanada.

Esse espaço na área ampliada, no entanto, só estará aberto aos visitantes no início de novembro. A administração do museu aguarda a estabilização do novo sistema de climatização para levar as obras para o local.

Com duração de quatro meses, a exposição "Memórias da Independência" vai inaugurar esse espaço, que fica no setor oeste do museu, à direita de quem entra neste novo pavimento.

A mostra lembrará como o processo de emancipação do Brasil em relação a Portugal tem sido celebrado ao longo dos séculos 19, 20 e 21 em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.

Museu do Ipiranga

  • Quando Ter. a dom., das 11h às 16h (horários válidos para o mês de setembro); a partir de 8/9
  • Onde R. dos Patriotas, 100, São Paulo
  • Preço Grátis até 6/11
  • Ingressos Via agendamento a partir de 5/9, no site www.museudoipiranga.org.br
  • Acessibilidade
    • Acessibilidade Arquitetônica
      Acessibilidade Arquitetônica Há acesso e circulação sem barreiras físicas, sanitário adequado e local reservado para cadeirantes com acompanhante
    • Audiodescrição
      Audiodescrição Recurso de acessibilidade que transforma o visual em verbal e amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual
    • Intérprete de Libras
      Intérprete de Libras Há profissional que interpreta o conteúdo sonoro para pessoas com deficiência auditiva

PRINCIPAIS MOMENTOS DA HISTÓRIA DO MUSEU

  • Inaugurado em 7 de setembro de 1895
  • Foi integrado à Universidade de São Paulo em 1963
  • Em 1998, foi tombado pelo Iphan
  • O edifício foi fechado em agosto de 2013, visando à segurança dos visitantes e dos funcionários
  • Ainda em agosto de 2013, foram iniciados os trabalhos de proteção do acervo
  • Em novembro de 2016, começou o diagnóstico estrutural do edifício
  • Em 2017, foi realizado concurso para definir o projeto de restauro
  • Em novembro de 2019, começaram as obras da reforma
  • Conclusão da restauração e das obras de ampliação em setembro de 2022
Erramos: o texto foi alterado

Marcos Penido é secretário estadual de Governo, não de Cultura, como afirmava versão anterior deste texto   

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