Descrição de chapéu Datafolha LGBTQIA+

Proporção de pessoas LGBTQIA+ entre os mais jovens é o triplo do que entre os mais velhos

Pesquisa do Datafolha mostra que 9,3% dos brasileiros dizem fazer parte da comunidade

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São Paulo

A proporção de pessoas que se identifica como LGBTQIA+ no Brasil é maior entre grupos mais jovens e diminui de acordo com a faixa etária, aponta nova pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta (21).

A parcela de pessoas entre 16 e 24 anos que se identifica como integrante do grupo é de 18%, valor que cai para 5,3% dos indivíduos com 60 anos ou mais.

No total da população, 9,3% dos entrevistados afirmaram que pertencem a comunidade LGBTQIA+ —81% dizem não fazer parte do grupo e 8% não quiseram se identificar.

A pesquisa foi realizada com 3.674 pessoas, maiores de 16 anos, em 120 municípios das cinco regiões brasileiras. Foram duas etapas: de 10 a 13 de maio e 7 a 13 de junho deste ano. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

O levantamento foi contratado pela Havaianas e a organização All Out, movimento global focado no apoio jurídico à comunidade.

Público durante a 26° Parada LGBTQIA+, realizada em junho de 2022 na cidade de São Paulo. - Eduardo Knapp/Folhapress

A proporção de LGBTQIA+ varia pouco entre as regiões do país. O Centro-Oeste lidera (com 10,1%), seguido de Sudeste (9,9 %), Norte (9,8 %), Sul (8,7%) e Nordeste (8,5%). A incidência do perfil tende a ser maior nas regiões metropolitanas (10,9%) do que em cidades do interior (8,2%).

O Datafolha também perguntou à população não LGBTQIA+ sua opinião sobre a comunidade. Para o extrato, foram realizadas 3.194 entrevistas em 120 municípios de todo o país.

De acordo com a pesquisa, 85% desses entrevistados disseram respeitar as pessoas LGBTQIA+ (85%).

A taxa cai para 79%, porém, quando a questão é se a população LGBTQIA+ deve ter os mesmos direitos da população não LGBTQIA+.

Quando a pergunta é se os LGBTQIA+ tem direito de realizar demonstrações públicas de afeto, o valor é ainda mais baixo, de 53%.

Ana Andrade, do All Out América Latina, diz que a pesquisa é de extrema importância para entender como este grupo é percebido pelo restante da população brasileira.

Para ela, a discrepância geracional e a visão de indivíduos fora da comunidade LGBTQIA+ são um retrato da violência no país.


"Muitas pessoas LGBTQIA+ não vivem 60 anos. Travestis e transexuais femininas, por exemplo, têm uma expectativa de vida de 35 anos. Sobre a população heterossexual e cisgênero, as respostas evidenciam um instinto violento. Dizer que respeita, mas não aceita o afeto, é ser extremamente violento quanto à existência do outro como igual", diz Andrade.

Para Regina Facchini, pesquisadora e docente do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a pesquisa é importante, mas os resultados não equivalem aos divulgados por órgãos oficiais, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

"É uma pesquisa que nos incentiva a aprimorar a coleta de dados oficiais sobre pessoas da comunidade LGBTQIA+, mas ela não pode ser tratada como algo maior do que realmente é. O que precisamos é de uma pesquisa ampla, comandada por um órgão de governo, sobre a comunidade", declara Facchini.

Sobre a alta proporção de jovens declarados, a pesquisadora diz ser uma faixa que está se descobrindo não heterossexual ou cisgênero em meio a um mundo com mais acesso à informação, o que auxilia no autoconhecimento.

Em maio deste ano, a divulgação dos primeiros dados sobre orientação sexual da população brasileira feita pelo IBGE indicou que cerca de 95% da população brasileira se declara heterossexual, 1,13% homossexual e 0,69% bissexual.

O dado, porém, foi visto por especialistas como frágil por ignorar a sexualidade de pessoas transgênero e promover um reforço simbólico da heterossexualidade como padrão.

A pesquisa foi feita por meio da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) em 2019. O instituto, porém, não investigou o tamanho da população transgênero e a prevalência de cada orientação sexual nesse grupo —uma pessoa transgênero pode se declarar como heterossexual ou homossexual, entre outros.

Na pesquisa realizada agora pelo Datafolha, 1,7% da população que se declarou LGBTQIA+ se identificou como trans ou travesti, 0,8% como não binário e 0,98% como intersexo.

Já sobre orientação sexual, 2,7% dos entrevistados se identificaram como bissexuais, 1,6% como gays, 1,5% como heterossexuais —pessoas que se identificam como trans e travestis—, 1,2% como lésbicas e 0,9% se disseram assexuais, a mesma proporção dos pansexuais. Outros 0,4% não quiseram responder e 0,1% não se identificaram em nenhuma das alternativas.

Erramos: o texto foi alterado

O nome de Regina Facchini, pesquisadora e docente do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu da Unicamp, foi grafado incorretamente em versão anterior do texto.

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