SP tem R$ 847,4 milhões do BID para adotar tecnologias que diminuam filas do SUS

Com empréstimo, governo estadual quer ampliar telemedicina e implantar histórico clínico digital; recurso também irá para serviços digitais

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São Paulo

O Governo do Estado de São Paulo conseguiu um empréstimo de US$ 164 milhões (R$ 847,4 milhões) junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para investimentos em inclusão digital e telemedicina. O objetivo é diminuir a fila de espera para atendimento no SUS com a ampliação do serviço.

O estado definiu quatro componentes para o investimento: ampliação da plataforma de serviços, inclusão digital, transparência e a saúde digital, este último apontado como o mais delicado.

"Que a gente possa garantir a telemedicina de especialidades, o tão esperado e necessário histórico clínico digital. Fazer com que o sistema digital possa interagir com o sistema de saúde", diz Marcos Penido, secretário de Governo do Estado de São Paulo.

"Ele [sistema digital] nunca irá suprir uma consulta pessoal, mas poderá, através do histórico, facilitar o médico, facilitar as orientações no dia a dia, no acompanhamento, seja de consulta ou num pós-operatório. Ter tudo isso integrado."

Imagem colorida mostra a médica Cláudia Grubba; ela está sentada à esquerda, olhando em direção a uma tela posicionada à direita. Cláudia tem cabelo curto, usa óculos, jaleco branco e máscara de proteção facial. Está em uma mesa, manuseando o mouse do computador com a mão direita.
Cláudia Grubba, médica da Atenção Básica de Cubatão (SP), conversa por meio da teleconferência com Arina Tavares de Souza Matos, médica do teleatendimento da AME de São Vicente, durante atendimento por telemedicina de uma paciente. - Secretaria de Comunicação Social de Cubatão/Divulgação

O conceito de telemedicina é a prática médica por meio de tecnologias de comunicação e informação.

O projeto que regulamenta a telessaúde no país foi aprovado na Câmara dos Deputados em abril deste ano e está em discussão no Senado. Na cidade de São Paulo, um projeto regulamentando o serviço foi aprovado em outubro de 2021.

Já existe uma resolução do Conselho Federal de Medicina que instrui e regulamenta o uso da telemedicina por parte dos médicos, com as regras que devem observadas no atendimento remoto de seus pacientes.

Chao Lung When, professor da Faculdade de Medicina da USP e responsável pela revisão técnica do projeto aprovado na capital paulista, defende duas terminologias: telemedicina de logística, que aumentaria a eficiência do sistema de saúde usando os meios digitais, e telessaúde integrada, quando é feita uma linha de cuidado com o paciente, que seriam ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação.

"O Brasil perde muito dinheiro por desperdício. Seria prioridade investir em telemedicina e telessaúde. Com isso, nós conseguiríamos reduzir muito o desperdício e aumentar a eficiência da resolução dos problemas", diz o professor.

Em algumas regiões da capital paulista, o tempo de espera para uma consulta médica na rede de atenção especializada pode passar dos 100 dias, de acordo com o boletim anual da Ceinfo (Coordenação de Epidemiologia e Informação) da Secretaria Municipal de Saúde.

Para When, a telemedicina ajudaria a diminuir essa fila. "Principalmente se fizermos a teletriagem referenciada, porque nós poderíamos identificar as situações mais graves ou prioritárias para atendimento. Quase 70% das situações poderíamos resolver na modalidade não presencial."

Antonio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia da Informação da APM (Associação Paulista de Medicina), também entende que o serviço poderá favorecer os casos mais urgentes. Porém, diz que ainda é necessária uma melhor capacitação.

"Para uma ampliação do uso da telemedicina, um dos pontos que mais nos preocupa é a capacitação dos médicos no relacionamento com seus pacientes de forma remota. Então, nós da APM recomendamos que os médicos façam um treinamento para esse tipo de atendimento."

O aporte à telemedicina deverá começar quando todos os trâmites do empréstimo do BID forem realizados. Segundo o estado, o processo está sendo finalizado, como a interiorização dos recursos e a contrapartida —que será de R$ 61 milhões, de acordo com Marcos Penido.

OUTRAS FRENTES DIGITAIS

O crédito do BID também será usado para a ampliação dos serviços digitais no estado. A ideia é que todo o sistema possa ser integrado. Isso inclui a modernização da plataforma Poupatempo Digital e ações para aprimorar a conectividade para a população vulnerável.

Segundo o estado, hoje são 238 serviços disponíveis na plataforma Poupatempo Digital. O objetivo é fechar o ano com 250.

"Por exemplo: temos a Isabella [nome fictício] que mora em Apiaí, no Vale do Ribeira. Isabella é uma pessoa não alfabetizada, que não tomou a vacina contra a Covid e tem direito à Bolsa do Povo. Em vez de ela procurar o serviço, nós que vamos identificá-la. Poder fazer com que todos os sistemas conversem", explica o secretário de Governo.

O exemplo citado por Penido está alinhado ao investimento em alfabetização digital para mulheres, um dos outros tópicos que estão incluídos no programa, assim como a universalização da tecnologia para pessoas com deficiência para a digitalização de serviços públicos estaduais.

Para Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), a pandemia mostrou que ainda existem muitas pessoas desconectadas, que não têm acesso à internet.

"Mesmo as que têm, vivem em uma situação de vulnerabilidade que não sabem usar a internet para o seu desenvolvimento."

"A conectividade hoje é um serviço de infraestrutura básica. Nas escolas, a gente diz que é igual luz elétrica. Existe uma parcela de população que não aproveita os benefícios que a tecnologia pode gerar porque não tem essa capacidade de usar a tecnologia desse modo inteligente e produtivo", diz.

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