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Padre Kelmon visita Funai e faz oração em encontro com Marcelo Xavier

Candidato derrotado à Presidência se encontrou com presidente do órgão e coordenadores

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Brasília

Candidato derrotado à Presidência, o bolsonarista Padre Kelmon (PTB) esteve na sede da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Brasília nesta segunda-feira (17) e puxou uma reza durante uma reunião com o presidente do órgão, Marcelo Xavier, e outros coordenadores.

A Folha teve acesso a imagens do encontro, que circularam entre os presentes após o evento e que mostram os todos reunidos, de mãos dadas, em oração.

O coordenador de Identificação e Delimitação da Funai —setor responsável pela demarcação de terras indígenas, algo que não ocorreu durante o governo de Jair Bolsonaro (PL)— postou uma foto com Kelmon nas redes sociais.

Padre Kelmon, candidato à presidência derrotado, durante visita à Funai, ao lado de Mracelo Xavier, presidente da Funai
O presidente da Funai (ao fundo, na ponta da mesa) durante oração com Padre Kelmon (segundo à direita) na sede da Funai em Brasília - Arquivo pessoal

Na legenda, Maurício Ricardo Anjo Teixeira Pires diz que recebeu a visita do ex-candidato "na luta do bem contra o mal" e que ele veio "rezar e abençoar nosso trabalho na condução da política indigenista no Brasil".

Em nota, a Funai diz que Padre Kelmon "realizou uma visita de cortesia à presidência da instituição". "Cumpre salientar que missas e cultos são realizados no auditório da Funai desde gestões passadas, sendo as cerimônias abertas a quem quiser participar", afirma.

"Enquanto agente público, o presidente da entidade, Marcelo Xavier, desempenha seu trabalho baseado no amplo diálogo com os diferentes segmentos da sociedade, estando permanentemente à disposição de setores interessados em discutir demandas relacionadas à política indigenista", completa.

O órgão diz também que "atua em estrita obediência aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência na condução de suas atividades".

A reportagem procurou também a assessoria de Kelmon e o coordenador diretamente para questionar sobre o motivo do encontro, os temas debatidos, de quem partiu o convite e por que houve uma oração. Até a publicação deste texto, não houve resposta.

Segundo um dos participantes, que pediu para não ser identificado por medo de retaliações, Marcelo Xavier convidou diversos coordenadores e dirigentes da Funai para o encontro, que pediram para tirar fotos com Kelmon.

Ainda segundo o relato, Xavier entregou ao político um mapa com a relação de áreas indígenas e os minerais encontrados no solo de cada uma das áreas. O presidente da Funai disse, de acordo com essa pessoa que testemunhou o momento, que aquilo seria um patrimônio brasileiro que um possível governo de esquerda entregaria a interesses estrangeiros.

Ainda de acordo com pessoas da Funai que pediram para permanecer sob anonimato, a fundação optou por não divulgar o encontro.

Nas imagens obtidas pela Folha é possível identificar a coordenadora de licenciamento ambiental, Carla Fonseca Aquino Costa, o coordenador de monitoramento territorial, Alcir Amaral, a coordenadora de assuntos geracionais e participação social, Maria Aureni Gonzaga da Silva, um integrante da assessoria parlamentar, Sebastião Terenã, a esposa de Marcelo Xavier, Jucilene Xaviero, e seu chefe de gabinete, Matheus de Almeida —além, claro, do coordenador citado anteriormente e do próprio presidente do órgão.

Cinco pessoas posam para foto
Padre Kelmon ao lado de Marcelo Xavier, presidente da Funai - Arquivo pessoal

O governo Bolsonaro vem aparelhando a Funai e designando pessoas sem experiência para áreas importantes do órgão.

Como mostrou a Folha, 17 dos 39 coordenadores regionais da fundação, todos cargos de confiança, não têm, nos currículos apresentados ao órgão, nenhuma palavra relacionada aos povos indígenas ou ao indigenismo.

Entre os nomes, há um ex-assessor do senador Fernando Collor (PTB-AL), um ex-vendedor de automóveis, militares com experiência no Haiti e em favelas do Rio de Janeiro, além de um ex-policial rodoviário com curso de atirador de elite e que participou de ação contra garimpeiros.

Dos 39 coordenadores regionais, 25 nunca tinham passado pela Funai e chegaram na gestão Bolsonaro. O órgão teve até 22 militares nesses postos —atualmente, são 16. Três policiais militares e um policial federal também foram designados para essas funções.

Xavier é acusado por organizações que atuam na área de ter construído uma política anti-indígena na Funai, que desde a posse de Bolsonaro não demarcou novas terras indígenas.

Entidades como o Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e a INA (Indigenistas Associados - Associação de Servidores da Funai) afirmam que o atual chefe da Funai, que é policial federal, persegue servidores e lideranças indígenas ao mesmo tempo que aparelhou o órgão com militares.

No último dia 7, por decreto, o governo reestruturou a Funai e excluiu de seu estatuto as diretrizes de atuação das coordenações regionais.

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