Indígenas cobram autoridades de RR após assassinato de mulher yanomami

Tiros foram disparados em direção ao grupo de 30 pessoas; entidades alertam para crimes de ódio e vulnerabilidade social

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Após o assassinato a tiros de uma mulher yanomami, em Boa Vista (RR), seguido da tentativa de homicídio a um homem da mesma etnia, no último dia 11, entidades ligadas aos direitos indígenas cobram providências urgentes das autoridades estaduais e federais.

Eles expõem a situação de vulnerabilidade pela qual passam os indígenas que vivem em Roraima e os constantes crimes de ódio e discriminação que sofrem.

O crime aconteceu por volta das 18h30, no bairro São Vicente. Segundo a Polícia Militar, testemunhas disseram que duas pessoas de bicicleta passaram pelo local atirando em direção a um grupo de aproximadamente 30 indígenas.

Ana Yanomami Xexana morreu no local. Um homem da mesma etnia também ficou ferido no ataque, foi encaminhado ao hospital. Ele não corre risco de morte.

O grupo estava acampado próximo a um ponto chamado Feira do Produtor e a polícia informa ter encontrado várias cápsulas de calibre 9 milímetros no local.

A Urihi Associação Yanomami publicou nota em que lamenta e repudia o crime e cobra as autoridades, especialmente a Funai, para que disponibilize locais adequados para indígenas que precisarem ir à cidade.

A nota aponta que o grupo atacado pertence à região de Ajarani, município de Caracaraí, que sofreu com o impacto da abertura da estrada Perimetral Norte," levando à morte grande parte dos yanomamis". O texto reforça que é dever do estado melhorar a situação que os indígenas se encontram.

A cobrança também é feita pela Hutukara Associação Yanomami, que destaca a situação de vulnerabilidade dos indígenas que passam pela cidade.

Segundo a entidade, a permanência deles em suas comunidades é dificultada pela falta de regularidade no atendimento do posto de saúde e do funcionamento da base de proteção etnoambiental no local.

"Em vez da discriminação e hostilização contra os indígenas pela sua presença, deveriam se preocupar em cuidar de escutar suas demandas e apoiá-los para que viajem em segurança à cidade e de volta a sua comunidade."

A Terra Indígena (TI) Yanomami é uma dos mais atingidas por casos de violência, com registros de ataques armados nas comunidades, onde atuam mais de 20 mil garimpeiros, segundo relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

Em 2021 foram 176 assassinatos de indígenas, seis a menos do que em 2020, ano do número recorde desde o início da análise, em 2014. Já o número de suicídios entre indígenas no ano passado foi de 148, o maior já registrado pelo Cimi. Foram 355 casos registrados de violência contra indígenas apenas em 2021, um aumento de 17% em relação a 2020.

O Ministério Público Federal de Roraima diz que acompanha há anos a situação dos indígenas yawari, sub-grupo da etnia yanomami, e atua para assegurar seus direitos.

"Como resultado de ação na Justiça Federal, foram instalados posto de saúde e base da Funai na região de origem dos indígenas. Além disso, em setembro do ano passado, o MPF criou um grupo de trabalho permanente para estudar e propor soluções para estimular a permanência do grupo em suas comunidades de origem e garantir acolhimento digno quando de sua permanência nos centros urbanos, em especial para as crianças e adolescentes."

O órgão afirma que acompanha as medidas de proteção ao grupo empreendidas pela Funai e a investigação do homicídio pela Polícia Civil, "aguardando o esclarecimento das circunstâncias de seu cometimento, bem como da sua motivação, a fim determinar o juízo competente do caso, assim como providências criminais e cíveis cabíveis".

A Polícia Civil afirma que as investigações sobre a morte de Ana Yanomami Xexana estão sob sigilo e que informações sobre o crime podem ser repassadas para Delegacia-Geral de Homicídios pelo (95) 98413-3216, com sigilo de identidade.

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