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Metrô e trens de SP têm ao menos 15 roubos por dia no 3º trimestre

Onda de assaltos no transporte da capital provoca mudanças na segurança, como convênio com PMs e instalação de detectores

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São Paulo

A Polícia Civil registrou ao menos 15 roubos por dia nos trens e no metrô da capital paulista no terceiro trimestre deste ano. Ao todo, foram 1.343 casos entre julho e setembro. A comparação com outros trimestres é afetada pela falta de padrão no registro das ocorrências.

Roubos são crimes cometidos mediante ameaça e violência, algo que era visto, no passado, como incomum no transporte sobre trilhos —diferentemente dos furtos, quando o ladrão aproveita uma oportunidade ou um descuido da vítima, o que sempre foi um problema em trens e estações.

Plataforma da estação República, na linha 3-vermelha do Metrô, na região central de São Paulo - Rubens Cavallari - 27.jun.2022/Folhapress

O impacto dessa onda de assaltos levou o metrô a promover nos últimos meses uma mudança no setor de segurança e a buscar convênio com a Secretaria estadual da Segurança Pública para contar com 180 policiais militares no dia a dia das estações, por meio de uma operação delegada —a Dejem (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Militar).

O convênio também existe na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), segundo informa pasta.

O governo Rodrigo Garcia (PSDB) chegou, ainda, a resgatar portas detectoras de metais, já usadas sem sucesso no passado.

A operação delegada com PMs é alvo de críticas por parte dos metroviários, que apontam uma redução significativa no número de seguranças próprios do Metrô como uma das causas da onda de violência em trens e estações.

Para chegar aos números da criminalidade, a reportagem usou como parâmetro os roubos apontados em boletins de ocorrência especificamente dentro do sistema metroferroviário, a partir de dados solicitados via LAI (Lei de Acesso à Informação).

Foram descartadas, por exemplo, aquelas ocorrências que são citadas apenas como em terminais e estações de maneira genérica, sem detalhamento claro sobre onde teriam acontecido (se dentro ou ao redor das paradas, por exemplo). Ou seja, embora o número ao qual se chegou seja elevado, trata-se ainda assim de uma contagem bastante conservadora.

Os 1.343 roubos de julho a setembro somente na capital paulista correspondem a mais de oito vezes o número de crimes da mesma natureza registrados no trimestre anterior, entre abril e junho (161 ocorrências). Também é um montante bastante superior a qualquer outro período analisado ao longo dos últimos quatro anos, mesmo no pré-pandemia, em 2019.

Questionada sobre a discrepância entre os dados apresentados pela própria pasta via LAI, a Secretaria da Segurança Pública afirma que "melhorou a forma de preenchimento dos boletins de ocorrência registrados no metrô, que passaram a incluir, de forma mais precisa, a geolocalização do crime noticiado, em lugar da expressão genérica via pública ou outros". Não foi informado, porém, desde quando isso passou a ser regra.

A SSP também apontou que o registro online ficou mais difundido entre a população e que, no levantamento realizado pela reportagem, cerca de 80% dos casos foram anotados por meio da Delegacia Eletrônica. No segundo trimestre, entretanto, já era bastante comum essa modalidade de anotação dos crimes e, mesmo assim, os números foram consideravelmente mais baixos.

Seja por subnotificação no passado ou atualização na forma de registro, o fato é que a grandeza dos números atuais, todos com data, horário e boletim de ocorrência, se apoia também na impressão de seguranças do metrô com quem a reportagem conversou, sob a condição do anonimato

Os agentes apontam que a redução no número de seguranças está diretamente ligada ao aumento nos roubos. Eles afirmam que a "ação de presença" (funcionários circulando por trens e estações) sempre foi um fator intimidatório para evitar que ladrões agissem de forma violenta, cometendo assaltos. Com menos profissionais, criminosos se sentem mais à vontade.

A estimativa é de um déficit de cerca de 200 seguranças —o quadro atual é de cerca de 1.000 agentes, incluindo aqueles que são afastados rotineiramente por doenças laborais.

Segundo as pessoas com as quais a reportagem manteve contato, a situação é crítica a ponto de algumas estações terem passado a operar na abertura e no fechamento com um único funcionário —mesmo assim integrante do quadro operacional, não um segurança.

Os agentes questionam também a opção pelo convênio com a PM, no lugar da reposição do quadro de funcionários. Segundo eles, o metrô tem uma arquitetura e um sistema complexos, enquanto os policiais estão mais adaptados ao patrulhamento ostensivo, nas ruas.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública afirma que, além dos PMs, policiais civis da Delpom (Delegacia do Metropolitano) "realizam operações periódicas e prenderam 104 criminosos, em flagrante ou por mandados contra envolvidos em crimes cometidos no sistema metroviário".

Já a STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos), responsável por trens e metrô no estado, cita, além do convênio, reforço do patrulhamento nas estações e trens e a ampliação e renovação dos sistemas de segurança. Entre as ações está a chegada de um novo chefe da segurança, o coronel Eduardo Agrella, a compra de detectores de metal e investimento na ampliação e renovação das câmeras.

Fora os 180 policiais para trabalhar no metrô, a secretaria diz que outros cem vigilantes fardados fazem a ronda no entorno das estações. "Com isso, os agentes de segurança do Metrô podem concentrar seus esforços dentro das estações", diz, em nota.

Segundo a STM, o percentual de solução das ocorrências de segurança no Metrô é de 76% e a rápida comunicação dos casos pode ajudar a ampliar esses números. "O passageiro pode informar qualquer caso a um funcionário do Metrô, que vai acionar a rede de agentes e câmeras, auxiliando na captura e detenção dos infratores. A comunicação também auxilia na elaboração de novas estratégias", diz, em nota.

A secretaria diz que a CPTM investe constantemente em ações que reforçam o patrulhamento ostensivo e preventivo no sistema. Cita a escolta em mais de 80% dos trens fora dos horários de pico, equipe de segurança em todas as estações e convênio com a PM em 50% das estações da companhia.

A pasta respondeu também pelas linhas 4-amarela e 5-lilás, de metrô, e 8-diamante e 9-esmeralda, dos trens, sob concessão da ViaQuatro e ViaMobilidade, respectivamente. Segundo a secretaria, houve investimento em bodycams para uso dos agentes de atendimento e segurança.

"As concessionárias também realizam novas contratações de agentes, principalmente mulheres, com o objetivo de tornar o atendimento mais igualitário. Juntas, as quatro linhas contam com 5.052 câmeras que realizam o monitoramento ininterrupto de todo o sistema operado pelas concessionárias, medida que contribui de forma decisiva para a segurança", afirma, em nota.

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