Descrição de chapéu Obituário Lizette Toledo de Negreiros (1940 - 2022)

Mortes: Referência nos palcos, atriz deixou legado no teatro paulistano

Lizette Negreiros também fez história no cinema e na TV e foi curadora na dramaturgia infantil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Atores do grupo Ventoforte andavam por uma rua de Roma, entre uma apresentação e outra da peça "Bodas de Sangue", do espanhol Federico García Lorca (1898-1936), quando uma das estrelas da turma convidou todo mundo para entrar em uma cafeteria, com a promessa de pagar a conta. E valia a pena, pois era naquele lugar especial que Federico Fellini (1920-1993) costumava tomar café.

O sonho de se sentar à mesma mesa do consagrado cineasta italiano foi um dos tantos realizados por Lizette Negreiros, que na juventude trabalhava como secretária na Santa Casa de Santos, sua terra natal, e nas horas de folga fazia aulas de dramaturgia.

Lizette Negreiros, atriz, que morreu no último dia 16 de novembro, aos 81 anos, em São Paulo - @centroculturalsp no Instagram

A paixão pelo teatro, entretanto, falou mais alto e Lizette iniciou, ainda em Santos, a promissora carreira de atriz, com a qual seria consagrada nos palcos paulistanos e até mesmo internacionais, como nos que proporcionaram a viagem para tomar o mesmo café do mestre do cinema na Itália.

A profissionalização veio no fim da década de 1960, já na capital paulista.

Lizette foi referência no teatro brasileiro. Além de "Bodas de Sangue", sucesso do grupo Ventoforte em meados dos anos 2000, a atriz participou de clássicos, como "Morte e Vida Severina" e "Antes de ir ao Baile", esta que lhe garantiu o Prêmio Molière, entre dezenas de peças.

"Ela tinha muita dedicação, trabalhava o dia todo no Centro Cultural São Paulo e ensaiava à noite", afirma o ator Marcello Airoldi, 52, um dos integrantes da trupe que conheceu o café frequentado por Felini.

Foi no centro cultural paulistano que Lizette Negreiros desempenhou um dos seus papéis mais importantes fora dos palcos, pois, durante cerca de 30 anos trabalhou como curadora de teatro infantil e jovem na instituição pública.

"Lizette trouxe espetáculos cheios de novidades que contemplassem a linguagem teatral voltada para formação e letramento dos pequenos", publicou o CCSP em suas redes sociais. "Sua curadoria recebeu os prêmios Unicef e Governador do Estado para a Cultura de 2018."

A atriz sempre foi apontada como perfeccionista. Era extrovertida e brincalhona, mas muito séria e até dura quando precisava.

Mesmo com a avançar da idade, tinha a leveza de uma atriz jovem nas suas interpretações, lembra Airoldi.

Impressionante como se soltava, e não apenas nos musicais. Lizette cantava nas festas de Natal da família em Santos, aonde costumava ir todo fim de ano.

A atriz nunca se casou nem teve filhos. Mais velha de cinco irmãos, sempre buscou integrar os sobrinhos e sobrinhos-netos ao mundo das artes.

"Ela me levava para assistir a peças de teatro, mesmo as de adultos, onde eu entrava escondida", diz a sobrinha Eloíse Negueiros, 48.

Também ensinou a sobrinhada a ouvir música popular brasileira e a apreciar Milton Nascimento e Vinicius de Moraes.

Se brilhou no teatro, a atriz também fez fama nas telas. No cinema, teve papéis em "Eles Não Usam Black-Tie" (1981), "O Baiano Fantasma" (1984), "A Hora da Estrela" (1985) e "André Louco'' (1990).

Na TV atuou na Tupi, Record e Bandeirantes, em "Papai Coração" (1976), "Canção para Isabel" (1979), "Como Salvar meu Casamento" (1979), "Os Imigrantes" (1981), "Moinhos de Vento" (1983) e "Alma de Pedra" (1998).

Seu último trabalho foi no longa-metragem "Três Tigres", deste ano, que ainda não estreou no cinema.

Mas era nos palcos que Lizette Negreiros se realizava por completo. "Ela gostava era de teatro", afirma a sobrinha, ao ser questionada se a tia tinha algum outro passatempo.

Foi em casa, na Bela Vista, região central de São Paulo, que os olhos da atriz se fecharam pela última vez, como se fossem as cortinas do teatro onde sua principal peça estava em cartaz.

Lizette Negreiros morreu em seu apartamento, aos 81 anos, no último dia 16, vítima de edema agudo de pulmão e cardiopatia. Seu corpo foi enterrado em Santos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.