Prefeitura de SP retira bancos do Minhocão, mas não prevê a reinstalação

Estrutura, inaugurada em 2021, custou quase R$ 1,8 milhão; gestão diz que iniciativa passa por reestruturação

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São Paulo

Instalado desde maio de 2021, o mobiliário desapareceu do elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, e a Prefeitura de São Paulo não estipulou data para o seu retorno.

Quem frequentou o local no dia da Proclamação da República sentiu a falta das arquibancadas e bancos de madeira, como de costume instalados às sexta-feiras, após as 20h, e aos feriados. Durante a semana, a via fica aberta ao tráfego de veículos de dia.

O espaço funciona como uma área de descanso e de interação para os frequentadores. O conjunto é composto de 36 praticáveis hexagonais (similares a um palco), quatro bancos e tablados e quatro arquibancadas, além de escada de acesso e gradis.

Bancos e tablados instalados no Minhocão, no centro de São Paulo, aos fins de semana - Nelson Antoine -1.mai.21/Folhapress

O custo da implantação do mobiliário, informado em 2021, foi de R$ 1,8 milhão.

Em nota, a assessoria da prefeitura diz que a estrutura "está passando por uma reestruturação e deverá ser retomada novamente tão logo esse processo seja concluído".

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) também disse que a manutenção e operação do Minhocão serão de responsabilidade da Secretaria Municipal de Turismo.

Antes o espaço vinha sendo administrado pela Secretaria de Urbanismo e Licenciamento, e o mobiliário vinha sendo instalado pela SPTuris, empresa vinculada à prefeitura, até o último dia 6.

A iniciativa se enquadra no chamado urbanismo tático, no qual espaços urbanos são repensados para facilitar a circulação de pessoas e integrar o espaço público à rotina de grandes cidades.

Em geral, as intervenções desse tipo são reversíveis e de baixo custo.

O Minhocão fica aberto aos pedestres de segunda a sexta-feira das 20h às 22h, e aos sábados, domingos e feriados das 7h às 22h. Para veículos, o tráfego é liberado de segunda a sexta-feira das 7h às 20h. O acesso da rua Albuquerque Lins/praça Marechal Deodoro, no entanto, abre mais tarde, às 9h.

A retirada dos bancos e das arquibancadas não é a única baixa para o lazer e as atividades físicas, como caminhada e corrida, à noite e aos fins de semana.

A Folha mostrou, em maio deste ano, que os frequentadores demonstravam sensação de insegurança após a cracolândia ter migrado para rua Helvétia entre a alameda Barão de Campinas e a avenida São João. Antes, os dependentes químicos se aglomeravam na praça Princesa Isabel.

A reportagem também observou diversos trechos, entre os 3,4 km de extensão da via, sem iluminação. Um oficial da GCM (Guarda Civil Metropolitana) contou que a escuridão no elevado só passou a ocorrer depois da chegada do fluxo de dependentes químicos na região.

A prefeitura disse, na ocasião, que os agentes fazem rondas periódicas no elevado para coibir os crimes, incluindo o furto dos cabos. Em relação à luminosidade, a prefeitura afirmou que a manutenção é realizada diariamente.

O apagão tem levado frequentadores a deixar de sair de casa para se exercitar. É o caso da artista plástica Cristina, 40, que preferiu não fornecer o sobrenome. Ela só usa o local enquanto há luz do sol.

"Não cogito ir desde que a cracolândia se instalou na Helvétia. Eles estão do lado da entrada por onde eu costumava subir. Só me sinto segura no Minhocão durante o dia, ou seja, sábado ou domingo", relatou.

Quem também deixou de frequentar o elevado para a prática de atividades esportivas foi a jornalista Fernanda Martins, 33. Ela tomou a decisão após sofrer uma tentativa de roubo ao deixar o Minhocão com duas amigas.

Ela afirma que a sensação de insegurança piorou com a migração da cracolândia para a região próxima à estação Santa Cecília do metrô. De sua varanda, ela conta já ter presenciado vários crimes.

"O que adianta morar ao lado do Minhocão, um dos símbolos de São Paulo, e não poder usar? Infelizmente, a violência nos torna reféns em nossas casas e a coisa só piora", acrescentou.

"Em relação ao furto de fios, isso é uma constante. Sinais de trânsito paralisados, iluminação pública, entre outras coisas, estão em falta. Os porteiros do prédio já foram avisados para monitorar a noite inteira para evitar o furto no prédio."

Fernanda ainda disse não sair mais a pé, utilizando apenas transporte por aplicativo, na tentativa de se esquivar dos roubos.

Há, no entanto, quem se arrisque na escuridão para se beneficiar das práticas esportivas ao ar livre, como o técnico de enfermagem Jefson Lobo, 34, e seu namorado, o professor Jucimar Lima, 36, que caminhavam sob os postes desligados.

"Com luz já é inseguro, eu só vim porque eu não sabia [da falta de iluminação]", disse Lobo.

"A gente está assustado, com um olho no peixe e outro no gato. Fui assaltado na República. Levaram dinheiro, celular, corrente, carteira e sapato", relatou Lobo. Segundo ele, cinco pessoas o atacaram.

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