Descrição de chapéu Cracolândia réveillon

Cracolândia vira 2023 com pancadão e incomoda moradores do centro de SP

Vizinhos relatam carros com caixas de som perto da aglomeração de usuários; alguns deixaram os imóveis para fugir do barulho

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São Paulo

A primeira madrugada de 2023 não foi diferente do que vem ocorrendo na região da cracolândia nos últimos meses do ano que se passou. Barulho, tráfico e brigas marcaram o 1º de janeiro de moradores da rua dos Gusmões, onde está uma das principais concentrações de usuários de drogas do centro de São Paulo.

Vizinhos do fluxo, como são chamadas as aglomerações de dependentes químicos, contaram que o som alto permaneceu por todo o sábado (31) e acabou por volta das 7h de domingo.

Dependentes químicos concentrados rua dos Gusmões com rua do Triunfo
Vista da rua dos Gusmões com rua do Triunfo na tarde de 1º de janeiro, em imagem feita por morador - Arquivo pessoal

Aqueles que tinham outro lugar para passar a virada não perderam tempo e deixaram suas casas, já prevendo que a madrugada seria longa e sem condições de descansar.

A Folha tem publicado diversas reportagens que mostram os transtornos na região da Santa Ifigênia após a dispersão de dependentes químicos da praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, em maio. A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tomou posse neste primeiro dia do ano, indicou que deve continuar ações com polícia e equipes de saúde para conter a crise na cracolândia.

Moradores contaram para reportagem ter telefonado para a GCM (Guarda Civil Metropolitana) e para a Polícia Militar em diversos momentos, mas não tiveram respostas ou ações no local. Diversos números de protocolos de acionamentos à guarda foram encaminhados para a reportagem.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo disse que a Guarda Civil Metropolitana presta apoio sempre que acionada pelas subprefeituras. "Com relação ao caso informado pelo jornalista sobre os protocolos, a GCM está verificando a informação."

A gestão Ricardo Nunes (MDB) declarou ainda que para a fiscalização de ocorrências de bailes funks e pancadões é necessário reforço policial, além da GCM, pelos riscos que a operação oferece à equipe e aos participantes dos eventos.

Procurada neste domingo, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) não se pronunciou.

"Tivemos o desconforto do pancadão, que estava insuportável. Eu, não moro com janela virada para rua e já estava insuportável para mim, penso naqueles que têm suas janelas voltados a ela", disse a dona de casa Stefani Magalhães, 28.


Vídeo: Cracolândia tem pancadão na primeira madrugada do ano


Com o barulho, o jeito foi fechar as janelas, mas o tempo quente atrapalhou os planos na tentativa de diminuir a poluição sonora. "Passamos o Ano Novo, neste calor, com tudo fechado, porque não conseguimos nem ao menos conversar com tamanha altura de som. Era som do pancadão, som dos inúmeros usuários com suas caixinhas", relatou a mulher, que está na última semana de gravidez.

Além das tradicionais caixas de som portáteis carregadas pelos usuários de drogas, moradores contaram que, na virada do ano, eles tiveram o auxílio de caixas de som instaladas em automóveis, que estacionaram próximos de comércios na rua dos Gusmões.

"Estava com visita em casa, minha neta com febre, e ninguém conseguiu dormir. Respeito zero. Está terrível e cada dia pior", disse a aposentada Rose Correa, que chegou em casa por volta das 2h, após curtir a festa na avenida Paulista.

Quem também se queixou da bagunça foi a artesã Marilda Rodrigues, 56, moradora da rua dos Gusmões. "Desanimador. Nós não tivemos um minuto de paz. Nós não aproveitamos a virada. Nós já estávamos exaustas das bombas o dia todo. Quando você pensa que você vai descansar, chegaram os carros com caixas de som gigantes. Ficaram a noite inteira tocando."

Prevendo o caos, alguns vizinhos do fluxo deixaram suas residências, preferindo passar a virada do ano em outros locais.

"Como o Natal já tinha sido terrível passar lá, vi que a virada ia ser pior. Resolvi ir para a casa da minha irmã. Pelo menos passei uma noite mais tranquila", disse a pedagoga Paula Oliveira, 48.

O mesmo caminho foi tomado por uma relações públicas de 29 anos, que pediu para não ser identificada, mas que contou o que fez para fugir do barulho.

Ela decidiu deixar o centro e seguir até o Campo Limpo, na zona de sul da capital, onde se hospedou na casa de uma irmã. A mulher explicou que, devido aos inúmeros assaltos na região, não teve confiança em deixar que seus familiares fossem a seu encontro. Ela se disse envergonhada e com medo dos problemas recentes na Santa Ifigênia.

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