'Vamos rever o programa', diz novo secretário da Segurança sobre câmeras da PM

Capitão Derrite afirma que gestão Tarcísio prepara pacote de medidas de valorização aos profissionais e plano para implementar escolas militares em SP

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São Paulo

Em sua primeira entrevista como titular da Secretaria da Segurança de São Paulo, o PM da reserva Guilherme Murano Derrite disse nesta quarta (4) que a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai rever o programa de câmeras corporais da Policia Militar, o "Olho Vivo".

De acordo com o policial, em entrevista à rádio Cruzeiro, de Sorocaba (SP), terra natal do secretário, uma de suas primeiras medidas à frente da pasta foi pedir o estudo feito pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e uma pesquisa comparativa da PM sobre a efetividade da câmeras no trabalho policial.

O novo secretário da Segurança de SP, Guilherme Derrite, durante cerimônia de posse do governador Tarcísio de Freitas - Greg Salibian/Folhapress

"Nós vamos rever o programa. O que existe de bom vai permanecer. Aquilo que não está sendo bom e que pode ser comprovado cientificamente que não é bom, por isso a importância de analisar esse estudo da Fundação Getulio Vargas, a gente vai propor ao governador possíveis alterações", afirmou Capitão Derrite, como é conhecido, que foi oficial da Rota (tropa da PM).

O Olho Vivo, implementado pela PM paulista em 2020, é considerado por especialistas como um dos principais avanço da corporação na política de redução da letalidade policial. Nos batalhões integrantes do programa, com câmeras que gravam todo o turno de serviço, as quedas de mortes em confrontos chegaram a 85% já nos primeiros meses de uso.

Ainda sobre as câmeras, Derrite disse querer tornar a tecnologia "mais operacional", até com análise placas de veículos roubados, mas não deu detalhes. "Agora, se de fato, a gente chegar à conclusão de que um ou outro aspecto está atrapalhando, que não está sendo positivo, a gente pode rever o programa sim."

Durante a corrida eleitoral, Tarcísio anunciou o interesse em acabar com o programa. Após uma série de críticas, até pela redução da mortes de civis e de policiais, o bolsonarista acabou amenizando o discurso, dizendo que iria estudar mudanças, mas sem desistir da ideia

"O principal motivo da polêmica é a maneira como ela foi implementada. ‘Ó, faz, porque estou mandando, vai ser assim a partir de hoje’", afirmou Derrite, na entrevista à emissora de rádio.

O secretário também afirmou na entrevista à rádio a intenção do governo Tarcísio de anunciar, já a partir de fevereiro, uma série de medidas de valorização dos profissionais da segurança e, para isso, foram iniciadas tratativas com o Legislativo paulista..

"O principal objetivo é melhoria salarial. Isso é ponto pacífico. É a base da nossa valorização. Salário", afirmou o deputado licenciado.

Oficiais da Polícia Militar com as câmeras corporais utilizadas pela corporação - Bruno Santos/ Folhapress

Entre as medidas que também estão sendo estudadas, segundo ele, está a ampliação de mecanismos de assistência jurídica a policiais que acabam respondendo processos judiciais, mesmo no cumprimento do dever legal. "Que fique claro: os desvios de condutas serão apurados e os policiais serão punidos. [...] A gente não vai ter receio de cortar da própria carne."

Derrite disse, sem entrar em detalhes, que o governo pretender criar um plano de carreira para as polícias e disse ter "desenhado" ao governador o que será a meta a ser buscada na valorização dos policiais.

"É como uma pirâmide. A base da pirâmide, de valorização, é o salário. A segunda parte dessa pirâmide, é o plano de carreira. E a terceira, carga horária de trabalho. A gente tem que cuidar do nosso policial. Cuidar de quem cuida da gente, quem nos protege", disse.

O novo secretário da Segurança citou como exemplo de ascensão na carreira militar um cabo da PM do interior do estado que pode prestar um concurso para sargento e, assim, progredir na carreira. "Quero ser um facilitador de ambas as instituições", disse.

O anúncio do nome de Derrite não agradou a setores da Polícia Civil e, também, da própria Polícia Militar –especialmente na cúpula da corporação.

Um dos temores citados pelos oficiais é de um possível uso político da instituição. Citam, por exemplo, o modelo de aumento de salário do Rio de Janeiro que, após uma série promoções sem planejamento, deixou a PM local com mais sargentos do que os soldados –uma distorção na estrutura militar de comando.

Na entrevista, Derrite falou em "comandar" a pasta, expressão mais utilizada entre os militares. "Eles [policiais] têm uma expectativa muito grande na nossa gestão, no nosso comando, como gosto de falar, e vamos superar a expectativa deles", afirmou sobre o pacote de bondades à segurança.

Escolas militares

Sobre outras medidas a serem adotas, Derrite disse que conversou com o novo secretário da Educação, Renato Feder, para planejarem a implantação de escolhas de caráter cívico-militar na rede estadual.

Segundo dele, a conversa foi positiva e ele ficou muito feliz ao saber que Feder implantou, segundo o próprio, 10% de escolas militares na rede estadual do Paraná, onde foi secretário

Como a Folha mostrou, Feder promoveu uma das maiores expansões do país nesse modelo, aplicando-o em 195 unidades paranaenses. Alguns pontos, no entanto, estão sendo alterados.

Ainda segundo o secretário da Segurança, a ideia é "aproveitar a capilaridade dos nossos militares", da PM e Bombeiros, para implantar um programa estadual, já que, segundo ele, o federal deve abandonar essa pauta. "Ele [Feder] conhece o programa, ele gosta, e já implantou. Marcaremos uma reunião em breve para que a gente possa começar a implantação das escolas cívico-militares, se for a consenso do governador."

Na entrevista, o oficial da reserva disse que o estado será duro no combate ao crime organizado e usou uma expressão parecida com algumas candidatos ao governadores paulistas.

"Uma coisa eu digo: o criminoso no estado de São Paulo, ele vai ter duas opções: ou deixa de ser criminoso ou muda do estado de São Paulo"

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