Yanomamis pediram internet em visita em 2021, diz Bolsonaro

Questionado sobre a crise de saúde pública entre os indígenas, ex-presidente não quis responder

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Kissimmee (EUA)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (24), em Orlando (EUA), que, durante viagem a São Gabriel da Cachoeira (AM), perguntou a indígenas da etnia yanomami o que eles queriam e que a resposta foi "internet".

A fala foi feita de passagem, enquanto Bolsonaro conversava com apoiadores e exaltava feitos de seu governo. Os yanomamis estão no centro de uma crise humanitária, com crianças e idosos em estado grave de saúde, principalmente com desnutrição, malária e infecções respiratórias.

Bolsonaro visitou São Gabriel da Cachoeira em 27 de maio de 2021, onde fica a comunidade de Maturacá. É a mesma etnia, mas em uma região diferente da visitada neste ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Roraima, quando o governo decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária na região.

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Criança yanomami recebe alimentação por meio de seringa em Roraima - Junior Yanomami/Condisi-YY

"Nós temos o que o Brasil precisa para o agro. Alguns estão em terras indígenas. Tem um projeto na Câmara, que acho que não vai para frente agora, para poder explorar isso, dando royalties para os indígenas, se assim eles concordarem. Muitas tribos, muitas etnias passaram a investir no agro, o [povo] Paresi já vinha investindo lá em Mato Grosso, outras vieram. Levamos internet para as aldeias. Eu tive uma vez lá em São Gabriel [da Cachoeira], conversei com alguns yanomamis. Eu perguntei: o que vocês querem? Internet", disse a apoiadores em frente a casa onde está hospedado.

Nesse momento, a reportagem da Folha perguntou o que o presidente tinha a dizer sobre a situação atual dos yanomamis, mas o ex-presidente se negou a comentar. "Não vou responder a você. Com todo o respeito a você, não vou te responder."

Na sequência, Bolsonaro também comentou a investigação da Polícia Federal sobre o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira em junho do ano passado. Nesta segunda, a PF afirmou que o mandante do crime foi Ruben Dario da Silva Villar, apelidado de Colômbia.

"Vocês lembram do cara, um brasileiro e um estrangeiro que foram mortos lá na Amazônia. Botaram a culpa em mim, né? Ontem descobriram que veio da Colômbia. Não do governo colombiano, vamos deixar bem claro, veio do pessoal da Colômbia. E assim vai."

Bolsonaro foi alvo de protestos após a morte do indigenista brasileiro e do jornalista inglês. Ele chegou a dizer que Phillips estava em uma "aventura não recomendada", mas depois desejou conforto às famílias das vítimas.

O político viajou à Flórida em 30 de dezembro e, rompendo uma tradição democrática, decidiu não passar a faixa presidencial para Lula. Ele está hospedado na casa do ex-lutador de MMA José Aldo em um condomínio fechado repleto de brasileiros, com Michelle, a filha, Laura, e uma enteada. Tem feito poucas aparições fora do condomínio e costuma receber mais de uma vez por dia apoiadores na porta da casa, onde tira fotos e dá autógrafos.

Ele afirmou nesta terça que não falaria com a reportagem da Folha.

Emergência em saúde pública

O governo Lula declarou emergência em saúde pública e instalou um centro de operações para lidar com a crise de saúde na terra yanomami.

Em 30 de novembro do ano passado, a Polícia Federal e o MPF (Ministério Público Federal) fizeram uma operação para combater um suposto desvio de recursos públicos destinados à compra de medicamentos aos yanomamis.

As supostas fraudes no governo anterior teriam causado a retenção de medicamentos, em especial vermífugos, o que deixou 10.193 crianças desassistidas, segundo a PF. O resultado foi um "aumento de infecções e manifestações de formas graves da doença, com crianças expelindo vermes pela boca".

De 13.748 crianças aptas ao tratamento de verminoses no primeiro semestre de 2022, apenas 3.555 receberam tratamento, segundo os dados usados nas investigações.

Um hospital para crianças em Boa Vista (RR) atendeu mais de 300 crianças yanomamis com desnutrição ou malária num período de 15 meses.

De acordo com o MPF, 52% das crianças yanomamis estão desnutridas. Nas comunidades mais isoladas, o índice chega a 80%.

O quadro crítico é notado também com a malária. Foram 44 mil casos da doença em menos de dois anos, e o cenário é de que toda a população yanomami, de 28 mil indígenas, foi infectada, com descontrole do surto, como descreve o MPF na recomendação em novembro de 2021.

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