Casal e filha de 2 anos continuam desaparecidos em Juquehy

Família estava em casa quando o bairro foi transformado em rio de lama, no último fim de semana

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São Sebastião (SP)

Abrigada no salão de uma igreja, Letícia Araújo, 44, lembra da última vez que falou com o sobrinho, desaparecido após a enxurrada de lama levar a casa onde ele morava com a mulher e a filha de 2 anos no bairro Pantanal, em Juquehy, em São Sebastião, litoral norte paulista.

"Liguei para avisar que o irmão dele ia dormir na minha casa por causa da chuva", diz. "Era por volta de 1h da manhã. Duas horas depois veio tudo abaixo e não tive mais notícias deles."

Família de Letícia Araújo (ao centro) é acolhida no salão da igreja Congregação Cristã do Brasil em Juquehy, em São Sebastião; casa em que moravam foi destruída pelo temporal, e parentes estão desaparecidos - Zanone Fraissat/Folhapress

As buscas por Luan Pedro Araújo, a esposa dele, Karolen Pugleise, e a filha do casal, Paloma, mobilizam equipes do Corpo de Bombeiros de Araçatuba, no interior de São Paulo, e de Santos, no litoral sul, destacadas para ajudar no socorro às vítimas da tragédia que já deixou 49 mortos e dezenas de desaparecidos.

"A lama está muito espessa, com uns quatro metros de profundidade. Demoramos dois dias para conseguir acessar o telhado da casa", disse o capitão Spessotto, que lidera as buscas no bairro Pantanal. Há a expectativa de que as equipes recebam o apoio de cães farejadores ainda nesta quinta (23).

O terreno onde a família vivia havia 30 anos, em uma área plana do morro de frente para a rodovia Rio-Santos, tinha quatro casas.

Letícia conta que, entre sábado (18) e domingo (19), estava tentando tirar a água barrenta que tinha invadido a casa naquela tarde quando ouviu um barulho forte. "Era o morro vindo abaixo. Só tive tempo de acordar todo mundo e sair correndo", lembra. "Todo mundo estava cansado e tinha ido dormir, só eu fiquei acordada. Ainda bem, ou não estaríamos aqui."

Como o sobrinho estava em outra casa, não teve tempo de avisá-lo. "Com certeza eles estavam dormindo, porque era muito tarde."

Ela conseguiu escapar com o marido, a filha grávida de 8 meses, outro filho com necessidades especiais e três sobrinhos. "Somos uma família de dez pessoas e não temos para onde ir."

Letícia trabalha como faxineira em uma casa em um condomínio em Juquehy e disse que a patroa ofereceu uma casa para abrigá-la com a família por 15 dias. Depois, ela deve ir para uma casa alugada pela igreja Congregação Cristã do Brasil.

Apenas com a roupa do corpo, a família depende de doações para se vestir e comer.

A filha dela, Estela Araújo, 20, conta que atravessou a enxurrada com lama acima da cintura e, depois disso, começou a sentir contrações.

"Era para a minha filha nascer só daqui um mês, mas acho que vai vir antes por causa de tudo isso que aconteceu", diz Estela. No salão da igreja, ela é acompanhada por médicos voluntários.

Para fugir da enxurrada, em vez de descer do bairro em direção à estrada, a família atravessou o morro e conseguiu chegar a salvo até um condomínio, onde foram abrigados. "Os moradores nos receberam com toalhas e ofereceram ajuda", lembra Letícia.

Cerca de 140 desabrigados do bairro Pantanal, que ocupavam o salão da igreja, foram realocados para uma creche no centro de Juquehy.

"Lá tem banheiros com chuveiros. Como eles tinham que se deslocar para tomar banho, pedimos ao prefeito para usar a creche como abrigo", diz Omir Antônio dos Santos, diácono da Congregação Cristã.

Paulo Henrique da Silva, voluntário da ONG Ascesa de Guarujá, está em Juquehy para ajudar no resgate de animais e encaminhá-los para adoção - Zanone Fraissat/Folhapress

A igreja é um dos únicos pontos com energia elétrica na região e tem servido também de ponto de apoio para as equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil. "Tivemos que puxar um 'gato' do poste", diz o diácono.

No estacionamento foram montadas tendas, onde são organizados os turnos das equipes de resgate.

Em outra parte, gaiolas foram instaladas por uma ONG de Gruarujá (SP) para abrigar animais de estimação vítimas da tragédia. "Muitos estão perdidos dos donos e serão encaminhados para adoção", diz Paulo Henrique da Silva, 38, voluntário da associação Ascesa.

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