Com chance mínima de sobreviventes, Exército isola área para entrar com máquinas na Barra do Sahy

Diferentemente do que ocorre em terremotos, nos deslizamentos de terra é rara a formação de bolsões de ar

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Com acessos fechados pelo Exército, máquinas pesadas chegam para ajudar a retirar lama e entulho Bruno Santos/Folhapress

São Sebastião (SP)

Na manhã desta quinta-feira (23), Exército e bombeiros isolaram o acesso ao locais que concentraram as mortes na vila do Sahy, em São Sebastião (197 km de SP).

Com chance mínima de ainda encontrar sobreviventes sob a lama, a área precisa ficar livre para a entrada de escavadeiras e máquinas para a fazer a retirada dos corpos.

"Estima-se que 16 ainda estejam soterrados aqui", diz general de divisão Pedro Montenegro, que coordena a operação no local.

Bombeiros, Exército e voluntários trabalham no resgate de vítimas na Vila Sahy - Bruno Santos/Folhapress

"Com cinco dias do evento, as famílias estão muito angustiadas e a gente precisa dar uma resposta", diz o general.

A tenente Erica, do Corpo de Bombeiros, confirma que é muito difícil haver sobreviventes.

Militares que trabalham no local explicam que, diferentemente de terremotos como o que atingiu a Turquia e a Síria, deslizamentos de lama não permitem tanto a formação de bolsões de ar.

Nesses bolsões, em tese, as pessoas podem ficar vivas por dias sob os escombros.

Por isso, em grandes deslizamentos de terra, em geral as pessoas morrem mais rapidamente porque, mesmo que sobrevivam ao trauma, não consegue respirar.

As máquinas do Exército serão utilizadas em duas frentes. A mais urgente é limpar as ruas que dão acesso ao sopé da encosta.

É por lá que os corpos serão colocados nos carros do IML. Socorristas querem evitar uma exposição que causaria mais dor e constrangimento, dizem.

Pela primeira vez desde o início das operações, a Folha foi impedida de chegar às áreas mais críticas da montanha, embora a reportagem tenha sido autorizada a ir muito perto, onde ainda era possível ver as escavações.

Homens do Exército sobem em grande quantidade. Também pela primeira vez forças públicas parecem ser maior em número do que os voluntários que fizeram os primeiros resgates.

O número de mortos chegou a 49 em decorrência das chuvas históricas que atingiram o litoral norte paulista no último final de semana (dias 18 e 19) —são 48 em São Sebastião e um em Ubatuba. O total foi atualizado na manhã desta quinta (23) pelo governo do estado. Ao todo, 38 vítimas já foram identificadas e os corpos liberados para sepultamento. São 13 homens, 12 mulheres e 13 crianças.

O total de pessoas fora de casa, desabrigadas ou desalojadas, chega a 3.529. Os desaparecidos somam 36, mas os números podem mudar, já que, segundo a Defesa Civil, ainda há vítimas sob os escombros de estruturas que cederam.

Múltiplas perdas

"Aqui na casa estavam meu padrasto, minha mãe, minha irmã e sobrinha, que um dia antes fez 9 anos", relata o mecânico Allan Bruno Benício de Siqueira, 31. Ele segura um telefone celular e uma carteira de documentos enlameados. Os objetos foram encontrados na viela íngreme no sopé da encosta que desabou sobre a vila do Sahy, em São Sebastião, no último domingo (19). "É ela sim", disse, ao reconhecer a foto que estava na carteira da mãe.

Da casa mencionada pelo mecânico, sobraram as colunas de concreto que sustentavam o portão por onde dezenas de pessoas entravam para retirar lama e entulho em busca de vítimas. Moradores afirmam haver cerca 30 soterrados somente naquele local, incluindo a família de Siqueira, que não havia sido encontrada até a tarde desta quarta-feira (22). "Perdi quatro entes meus aqui."

Siqueira mora no mesmo bairro. Deixou a casa da mãe há pouco tempo, pois cedeu o quarto onde dormia para a irmã. "Quando cheguei aqui fiquei sabendo que tinha perdido os quatro da minha família. Era para eu estar aqui também. Mudei há pouco tempo. Minha irmã veio ficar no meu lugar, no meu quarto, foi onde eu perdi ela também. É isso."

Não são raros moradores e moradoras que relatam terem perdido múltiplos parentes. Próximo de um locais que o rio de lama devastou, o pedreiro Reginaldo Gomes dos Santos, 49, tinha dificuldade para numerar os familiares que foram vitimados.

"Estão todos enterrados aí. Aqui tem três, lá na rua Um tem uns quatro", calcula, incluindo na conta os parentes que desapareceram também na rua Zero. Ele tinha entes nas duas vielas onde a lama soterrou mais casas. "Eram todos primos e sobrinhos. Tudo morto aí. Tem minha sobrinha, a Jéssica, o Tonho, a Mariana... Um monte".

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