Adolescente que matou professora em SP já havia ameaçado atacar outra escola

Funcionária de colégio registrou BO em fevereiro; em março, aluno foi transferido para a escola Thomazia Montoro

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São Paulo

Em um boletim de ocorrência registrado no dia 28 de fevereiro deste ano, ao qual a Folha teve acesso, o jovem de 13 anos responsável pelo ataque em uma escola na Vila Sônia, na zona oeste paulistana, é descrito como uma pessoa de perfil agressivo.

Na manhã desta segunda-feira (27), o aluno do oitavo ano do ensino fundamental matou a facadas a professora Elisabeth Tenreiro, 71, e feriu outras cinco pessoas na Escola Estadual Thomazia Montoro. Ele foi apreendido pela polícia.

O boletim foi registrado por uma funcionária da Escola Estadual José Roberto Pacheco, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Essa é a unidade de onde o adolescente foi transferido no começo deste mês.

Câmera registrou momento em que aluno ataca professora na escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo - Reprodução

No documento policial, o jovem é descrito como alguém que vinha apresentando comportamento suspeito nas redes sociais, "postando vídeos comprometedores, por exemplo, portando uma arma de fogo e simulando ataques violentos".

"O aluno encaminhou mensagens e fotos de armas aos demais alunos por WhatsApp, e alguns pais estão se sentindo acuados e amedrontados com tais mensagens e fotos", segundo trecho do boletim.

Também consta do registro que os responsáveis pelo adolescente foram convocados para ir à escola, onde a direção os orientou a tomar providências.

Foi esse histórico de violência a causa da transferência de escola, segundo o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite. A mudança se deu no dia 6 deste mês, acrescentou o secretário da Educação, Renato Feder.

A Secretaria da Educação não disse se o jovem recebia algum tipo de acompanhamento especial.

O governo estadual confirmou que o estudante se envolveu em uma briga com um colega na última sexta (24). A diretora da escola estava a par desse caso e conversaria com os envolvidos na manhã desta segunda.

Esse conflito ainda não havia sido incluído na Placon (Plataforma Conviva), sistema no qual devem ser notificadas as ocorrências escolares. As escolas têm um prazo de sete dias para registrá-las.

O desentendimento teria começado depois que o autor dos ataques desta segunda chamou um colega de "macaco" e "ratinho".

Um estudante e a professora Elisabeth Tenreiro tentaram apartar a briga —nesta segunda, a docente foi a primeira a ser atacada, segundo testemunhas.

Depois do episódio, o agressor teria dito "vai ter volta" e que planejava um ataque.

Na manhã desta segunda, ele anunciou o atentado em uma rede social, de acordo com a polícia. Em um post, escreveu ter aguardado por esse momento a "vida inteira" e que esperava matar ao menos uma pessoa.

A Polícia Civil apreendeu na casa do adolescente uma arma de pressão airsoft, uma faca e uma parte de tesoura.

Foram recolhidos ainda uma luva preta, um boné preto, um pano preto com desenho de caveira, três máscaras, uma CPU, um videogame XBox.

Além disso, a corporação disse ter encontrado um bilhete no qual o adolescente afirma que planejava o ataque havia muito tempo.

À tarde, o jovem foi ouvido pela polícia. "Ele [o autor do ataque] passou todas as informações de forma pormenorizada", afirmou o delegado Marcos Vinicius Reis, do 34º DP. "Ele foi frio, não demonstrou muita emoção e admitiu, confessou, na presença da advogada, na presença dos pais."

O delegado disse que a motivação do crime ainda está sendo investigada. Para determiná-la, a polícia deve buscar mais informações sobre as brigas relatadas e, também, analisar o bilhete encontrado na casa do agressor e suas postagens em redes sociais.

Em sua conta no Twitter, o adolescente adotava o sobrenome do autor do massacre que deixou oito mortos em uma escola pública de Suzano, na Grande São Paulo, em 2019.

No ataque desta segunda, ele usava uma máscara sobre o nariz e a boca com o desenho de uma caveira. É o mesmo modelo utilizado tanto pelo atirador de Suzano quanto pelo de Aracruz (ES), que atacou duas escolas em novembro do ano passado.

A balaclava em questão é símbolo de supremacistas americanos. Os grupos extremistas República da Flórida e Divisão Atomwaffen as exibem na internet. É uma referência a assassinos retratados em videogame e a um atirador fictício de uma série americana.

Assim como no ataque de 2019, além da máscara, a vestimenta incluiu roupas pretas. Em Aracruz, o autor usou coturnos e vestes camufladas.

Na internet, circulam imagens de garotos fazendo a saudação nazista ao Terceiro Reich com um braço estendido e o rosto coberto pela mesma imagem da caveira.

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