Descrição de chapéu feminicídio

Cresce taxa de mulheres ameaçadas com armas de fogo, diz pesquisa

Levantamento aponta que há um crescimento agudo de formas graves de violência física no Brasil

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São Paulo

Mais de 5% das mulheres acima de 16 anos do país —o equivalente a 3 milhões de pessoas— sofreram ameaças com faca ou arma de fogo em 2022, segundo a pesquisa "Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil".

A quarta edição do levantamento foi realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que aponta um agravamento em todas as formas de violência contra a mulher.

A incidência do uso de ameaças com armas preocupa, principalmente, pelo crescimento comparado com 2020, quando a pesquisa indicou 2,1 milhões de mulheres nessa mesma condição. Além disso, 1 milhão de mulheres foram vítimas de esfaqueamento ou tiro (1,6%) —o número representa um pequeno crescimento em comparação com a pesquisa anterior, que era de 1,5%.

Praticante dispara arma em clube de tiro, em São Paulo (SP)
Praticante dispara arma em clube de tiro, em São Paulo (SP) - Carla Carniel 28.jul.22/Reuters

O levantamento, que aconteceu entre os dias 9 e 13 de janeiro deste ano, ouviu pessoas acima de 16 anos em 126 cidades do Brasil, abrangendo assim todas as regiões do país. Do total, foram realizadas 2.017 entrevistas, sendo 1.042 mulheres, das quais 818 responderam ao bloco sobre vitimização.

O estudo, publicado nesta quinta-feira (2), aponta que o aumento de ameaças com uso de arma pode ter ligação com a ampliação de licenças para porte e posse de arma de fogo durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A arma de fogo é o principal instrumento utilizado para homicídios no Brasil e é reconhecida como um fator de risco para o feminicídio. Além disso, o estudo relembra que a Lei Maria da Penha prevê a suspensão da posse ou restrição do porte de armas do agressor quando é constatada a prática de violência doméstica.

A pesquisa mostra ainda que, apesar de todas as formas de violência terem crescido, há um incremento acentuado de formas de violência física ou ameaças graves, que podem acarretar na morte da mulher —isso aparece no aumento dos episódios de perseguição, ameaça com faca ou arma de fogo e espancamentos.

Mulheres da faixa etária de 45 a 59 anos experimentaram os maiores níveis de violências graves, como espancamento (8,2%), ameaça com faca ou arma de fogo (8,7%) e esfaqueamento ou tiro (4,5%).

A prevalência entre os casos de violência aguda foi vivida nos últimos 12 meses, principalmente, entre mulheres com baixa escolaridade que concentram maiores taxas de agressão física como empurrões e chutes (14,6%), espancamento ou tentativa de estrangulamento (7,7%), ameaça com faca ou arma de fogo (8,3%) e esfaqueamento ou tiro (2,5%).

Para a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, o crescimento das ameaças pode estar ligado ao clima hostil que tomou conta do país em meio às eleições. "Foi um ano atípico e de extrema violência", lembra ela.

Ela considera que o clima violento afetou a sociedade de forma geral. "Os índices de violência política cresceram, assim violência contra jornalistas, porque que isso não reverberaria no ambiente doméstico?"

Bueno relembra que pesquisas anteriores já apontaram que em dias de futebol é comum um aumentam das taxas de violência doméstica. "Se uma partida de futebol já eleva os ânimos para as pessoas agrediram suas companheiras, imagine o que não foi a eleição do ano passado do ponto de vista da rivalidade que o país viu."

Ela ainda afirma que, apesar de ainda não ser possível relacionar a flexibilização do uso de armas com o aumento no índice de ameaças de uso de arma de fogo contra mulheres, esse cenário não pode ser ignorado.

"Houve um aumento expressivo da circulação de armas na sociedade. Isso faz crescer o número de munições, muitas delas são de alto calibre, de uso restrito que passam a ser compradas pelo cidadão comum que se diz atirador", explica Bueno.

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