Emirados Árabes autorizam Brasil a buscar Thiago Brennand

Acusado por crimes sexuais, empresário responde a oito denúncias e teve cinco prisões preventivas decretadas; 'Será buscado com brevidade', diz ministro Flávio Dino

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São Paulo

A Embaixada do Brasil nos Emirados Árabes recebeu autorização para a extradição do empresário Thiago Brennand, 42, na manhã desta quarta-feira (26). O brasileiro, que está no país árabe desde setembro do ano passado, tem cinco mandados de prisão preventiva e é acusado de crimes sexuais, incluindo agressão e estupro.

A informação foi confirmada pelo Itamaraty. "O Ministério da Justiça dos Emirados Árabes Unidos formalizou a decisão judicial de autorizar a extradição do brasileiro Thiago Brennand", informou o órgão por meio de nota. "O processo de implementação da extradição é conduzido pelo MJSP [Ministério da Justiça e Segurança Pública], autoridade central para a cooperação jurídica internacional."

O secretário nacional de Justiça, Augusto Botelho, não confirmou a data de retorno do empresário, apenas afirmou que a extradição deve ocorrer em breve e que, agora, trata-se de uma questão meramente burocrática.

O empresário Thiago Brennand, que foi preso nos Emirados Árabes e deve ser extraditado para o Brasil - Reprodução/Instagram

O ministro Flávio Dino afirmou que o governo brasileiro vai acelerar a vinda do empresário.

Durante a extradição, o empresário será algemado se apresentar atitudes violentas, segundo fontes da Polícia Federal. A Diretoria de Cooperação Internacional da PF está tratando do caso. A expectativa é que quatro funcionários da Polícia Federal participem da extradição de Brennand, sendo um deles lutador de jiu-jítsu.

Segundo o Painel, os policiais devem embarcar ainda nesta quarta-feira (26) para buscar Brennand.

A ação acontece após as autoridades dos Emirados Árabes terem autorizado a extradição do empresário, em 15 de abril. Dois dias depois, ele foi preso pelas autoridades do país árabe.

A expectativa é que, assim que desembarque no Brasil, Brennand seja levado para uma audiência de custódia. Em seguida, será encaminhado para o sistema penitenciário —o destino, cogita-se, seria o Centro de Detenção Provisoria 2 de Guarulhos (na Grande São Paulo).

Fontes ligadas ao processo de extradição afirmam que os advogados do empresário tentavam negociar uma cela especial para ele.

A Promotoria considera que, com a presença do empresário em solo brasileiro, o andamento das ações será acelerado, assim como as "demais investigações que estão em andamento no âmbito do Ministério Público".

A PF afirma que, por questões de segurança, informações sobre extradição não são divulgadas até a sua efetiva realização, ou seja, até que o extraditando seja recolhido ao sistema prisional.


Entenda 4 dos 5 pedidos de prisão contra Brennand

Os detalhes sobre o quinto ainda não foram divulgados

  1. Após a acusação de agressão à modelo Alliny Helena Gomes, Brennand deixou o Brasil em 4 de setembro, horas antes da denúncia do Ministério Público. O órgão determinou que ele retornasse ao Brasil até 23 de setembro e entregasse o passaporte. Como não cumpriu a medida, ele teve a prisão preventiva decretada no dia 27 de setembro e tornou-se foragido. A viagem inicialmente foi para para Dubai, nos Emirados Árabes.
  2. Logo depois, no dia 17 de outubro, a Justiça decretou uma nova prisão contra Brennand, desta vez sob a acusação de tatuar à força e manter em cárcere privado uma mulher em Porto Feliz, no interior paulista.
  3. No dia 7 de novembro, ele teve a terceira prisão preventiva decretada pela Justiça. Na ocasião, os promotores Evelyn Moura Virginio Martins e Josmar Tassignon Júnior apresentaram denúncia contra ele por suspeita de estupro que teria ocorrido também em Porto Feliz.
  4. No dia 10 de fevereiro, ele teve a prisão preventiva decretada após a denúncia da miss e estudante de medicina Stefanie Cohen. Ela afirma que foi estuprada por Brennand em 2021.
  5. No dia 22 de março, foi decretada o quinto pedido de prisão preventiva também por estupro. A reportagem, no entanto, não obteve detalhes em relação à identidade da vítima deste caso.

Entenda o caso Thiago Brennand

Brennand ficou conhecido após agredir, em agosto de 2022, a modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante discussão em uma academia de ginástica na zona oeste de São Paulo.

Em vídeos postados nas redes sociais, o empresário sempre negou todas as acusações. Em um deles, publicado no início do mês, ele afirmou que pretendia voltar ao Brasil e que devia desculpas a ex-advogados e a autoridades a quem ofendeu, mas que achava que seria preso injustamente no país.

A defesa que o representou no caso da agressão contra Alliny Helena Gomes afirmou que ele compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos às autoridades e disse que os vídeos mostram que as agressões verbais foram iniciadas por ela.

Ele já teve a prisão decretada por lesão corporal e corrupção de menores —segundo a Promotoria, teria incentivado o filho adolescente a ofender a modelo. A viagem aos Emirados Árabes ocorreu horas antes de o Ministério Público apresentar a denúncia contra ele.

Brennand trocou diversas vezes de advogados desde as primeiras denúncias. Ele atualmente é representado pelo advogado Eduardo Leite.

Após o caso de Alliny, ao menos 15 mulheres o acusaram de supostos crimes sexuais. Em decorrência destas denúncias, ele somou ao longo dos últimos meses oito denúncias do Ministério Público de São Paulo e cinco prisões preventivas decretadas.

Por isso, era considerado foragido e teve seu nome incluído na lista da Interpol. Assim, acabou detido em Abu Dhabi em outubro —ele pagou a fiança e respondeu o resto do processo de extradição em liberdade, até a prisão no dia 17.

Brennand teve o registro no CAC (caçadores, atiradores e colecionadores) suspenso. Por isso, no dia 17 de março, 70 armas do empresário foram apreendidas pela polícia de São Paulo. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, os armamentos foram encaminhados para perícia no IC (Instituto de Criminalística) e, depois, ficariam à disposição da Justiça de Porto Feliz, onde o empresário é também é investigado.

Nos últimos meses, Brennand publicou vídeos para falar das investigações, que já foram apagados. Entre eles, xingou promotores e advogados envolvidos, negou os supostos crimes e disse ser alvo de perseguição. Disse ainda que, no Brasil, a maioria das denúncias de assédio sexual é falsa —a tese dele, porém, é refutada por especialistas.

Além dos episódios de crimes sexuais, Brennand acumulava intrigas familiares —ele é filho de uma família tradicional do Recife e tem uma superior a R$ 200 milhões, segundo advogados e familiares.

Uma reportagem da Folha mostrou que, em um documento público de novembro de 2019, os pais do empresário pediram exclusão dele de testamento por ameaças. Entre os motivos mencionados estão a "absoluta inexistência de qualquer afinidade" entre eles e as agressões "de forma reiterada, explícita e pública, pessoalmente e através de emails" que provocou "insuportável nível de sofrimento".

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