Lula critica Carrefour e diz que não vai admitir racismo no país

OUTRO LADO: Grupo diz que afastou funcionário para apurar acusação de professora que disse ter sido perseguida em compra; em protesto, ela tirou a roupa no local

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta segunda-feira (10), que o Carrefour cometeu crime de racismo e que isso não será tolerado no Brasil.

A declaração ocorreu durante reunião de cem dias de governo com ministros e líderes no Congresso, no Palácio do Planalto.

"Ontem, o Carrefour cometeu mais um crime de racismo. Mais um crime. Um fiscal do Carrefour acompanhou uma moça negra, que ia fazer compra, achando que ela ia roubar, ela teve que ficar só de calcinha e sutiã para provar que ela não ia roubar", disse Lula.

O presidente Lula durante reunião ministerial dos 100 dias de governo, no Palácio do Planalto - Gabriela Biló/Folhapress

"É a segunda vez que o Carrefour faz esse tipo de coisa. Então, a gente tem que dizer para a direção do Carrefour, se quiserem fazer isso no seu país de origem, que façam, mas neste país a gente não vai admitir o racismo que essa gente tenta impor ao Brasil", completou.

O episódio a que Lula se refere é o da atriz e professora Isabel Oliveira que ficou apenas com roupas íntimas em uma unidade do mercado Atacadão, em Curitiba, para denunciar racismo que teria sofrido de um segurança, segundo o UOL. O ato foi realizado como um protesto após ela ter ido ao mercado fazer compras e, segundo relatou, ter sido perseguida pelo funcionário.

O mercado pertence ao Grupo Carrefour Brasil, de origem francesa.

Ao UOL o Atacadão negou, em nota, que o segurança tenha agido de maneira racista. Acrescentou que apurou o caso internamente, ouvindo os funcionários e analisando as câmeras de segurança da sociedade.

Questionado pela Folha sobre o episódio, o Grupo Carrefour disse apenas que abriu uma apuração interna e que durante esse período o funcionário indicado pela cliente ficará suspenso.

"O Grupo Carrefour Brasil está completamente comprometido com uma total transparência e segue postura de tolerância zero contra qualquer tipo de racismo", disse em trecho da nota, lembrando que é uma empresa brasileira de capital aberto com 47 anos de presença no país, "sendo a maior empregadora privada do Brasil, com mais de 150 mil colaboradores, e comprometida com uma extensa agenda antirracista".

Outro caso de racismo a que Lula provavelmente se referiu foi a morte de João Alberto Silveira de Freitas, homem negro que foi espancado em um supermercado da rede em Porto Alegre, em novembro de 2020.

Freitas fazia compras com a mulher quando foi abordado violentamente por dois seguranças do supermercado. Agredido com chutes e socos por mais de cinco minutos, foi sufocado e não resistiu. O espancamento foi registrado em vídeos feitos por celular.

O Ministério Público do Rio Grande do Sul denunciou seis pessoas por suspeita de homicídio triplamente qualificado no caso.

Em outra ocorrência recente, o cantor Vinícius de Paula, marido da bicampeã olímpica de vôlei Fabiana Claudino, acusou o Carrefour de racismo. O caso, segundo afirmou em redes sociais, ocorreu na tarde de sexta (7) em Alphaville, na região de Barueri, na Grande São Paulo.

Segundo o artista, que é negro, ele tentava passar pelo caixa preferencial, que estava vazio, quando a funcionária do local disse que não poderia atendê-lo. Quando se dirigiu a outro caixa, viu uma mulher branca, que não se enquadrava nos critérios de cliente preferencial, ser atendida pela mesma funcionária.

Em nota sobre o caso, o Carrefour afirmou que a funcionária estava em período de experiência, foi imediatamente afastada pela gerência e desligada no mesmo dia.

O grupo disse que nos últimos anos assumiu a responsabilidade de fazer uma transformação de dentro para fora no combate ao racismo estrutural no país, com investimento de mais de R$ 115 milhões, com maior foco na área de educação.

Em fevereiro, um ajustamento de conduta fechado entre o Carrefour e os Ministérios Públicos Federal e do Rio Grande do Sul e as Defensorias do estado e da União definiu que o grupo terá que destinar R$ 68 milhões para o pagamento de mais de 800 bolsas de estudo e permanência para pessoas negras em instituições de ensino superior de todo o Brasil, para reparar os danos morais coletivos como consequência da morte de Freitas.

O Grupo Vector, empresa dos dois seguranças, também assinou um acordo de R$ 1,79 milhão com a Justiça. O TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) foi assinado com a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul e também prevê que o recurso seja destinado para o combate ao racismo, à discriminação e à violência.

Colaborou Fábio Pescarini, de São Paulo

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