O que se sabe até agora sobre desaparecimento de brasileira em Paris

Grupo de voluntários faz buscas por Fernanda Santos Oliveira; entidade suspeita que ela sofria assédio sexual no trabalho

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Ana Carolina Peliz
RFI

Um grupo de voluntários foi criado nesta segunda-feira (6) para procurar a brasileira Fernanda Santos Oliveira, desaparecida desde o dia 6 de maio, em hospitais e no Instituto Médico Legal (IML), mas nenhuma pista sobre o paradeiro dela foi encontrada.

Fernanda reside em Paris há nove meses, onde trabalha em um conhecido restaurante português da rede Pedra Alta. Ela mora sozinha no sétimo distrito da capital francesa.

De acordo com Nellma Barreto, presidente da Associação Femmes de la Résistance (Mulheres na Resistência), a entidade foi alertada na noite de quinta-feira (11), seis dias depois do desaparecimento de Fernanda, após alerta da família da brasileira e da realização de um boletim de ocorrência na sexta-feira (12).

Um dos cartazes espalhados por Paris durante mutirão de busca da brasileira Fernanda Santos Oliveira, que desapareceu em 6 de maio - Association Femmes de la Résistance via RFI

De acordo com ela, o desaparecimento já havia sido sinalizado à polícia pela chefe de Fernanda no restaurante, no dia anterior.

"Passamos todas essas informações para o Consulado, para também realizar buscas. Todos os hospitais públicos que a gente já entrou em contato não têm informação. Vamos agora voltar ao IML", diz.

O trabalho de investigação começou vários dias após o sumiço de Fernanda. De acordo com a polícia, as chances de encontrar alguém diminuem após 24 ou 48 horas do desaparecimento.

Na noite de sábado foi realizado um mutirão e voluntários colaram cartazes com fotos de Fernanda nos principais pontos da capital, como estações e parques.

Discussão

Uma colega de trabalho, que preferiu manter o anonimato, disse à RFI que encontrou Fernanda pela última vez na quarta-feira (3) e que ela estava abatida. "Mas achei que era o cansaço do trabalho", diz.

Ela foi a primeira a notar a ausência da amiga, já que haviam combinado de almoçar juntas na segunda-feira (8), e alertou a chefe do estabelecimento, "mas ela não se preocupou na hora", diz.

Ela então decidiu ir até o domicílio da colega com outro empregado do restaurante e amigo da brasileira. Ao chegarem ao apartamento, viram que todas as roupas de Fernanda estavam no armário e que o único documento que faltava era o seu passaporte. Ao lado da cama, encontraram dois celulares, um antigo e o que ela estava usando na França.

Também sentiram falta do patinete que, segundo a amiga, Fernanda tinha acabado de comprar.

"Ela sempre ia ao trabalho de metrô e ainda não tinha muita experiência com o patinete", diz a amiga.

Fernanda pediu ajuda à amiga para encontrar um trabalho e tinha uma entrevista de emprego na quinta-feira, mas não compareceu.

Uma das últimas pessoas a encontrar Fernanda teria sido uma de suas vizinhas, no sábado de seu desaparecimento, com quem a brasileira teve uma violenta discussão.

"Nós estivemos lá e a vizinha falou que a Fernanda estava muito nervosa, que estava estressada", contou Barreto.

De acordo com a vizinha, Fernanda teria apertado o braço dela com força e depois agredido a mãe da dona do apartamento onde mora. Os bombeiros foram chamados, mas ela disse para os agentes que se sentia bem e que não tinha problemas.

"Para mim isso é uma surpresa. Nunca vi a Fernanda com esse comportamento", disse a amiga.

De acordo com Barreto, as histórias das vizinhas são conflitantes. "Uma diz que a viu pela última vez no sábado à noite e a outra no domingo de manhã. Então, cabe à polícia desvendar este mistério", diz.

Fernanda estava sozinha em Paris. Segundo sua irmã, Maria Aparecida Santos Oliveira, que mora em Botucatu, interior de São Paulo, ela se mudou para a França para morar com uma parente, que agora está nos Estados Unidos. A brasileira desaparecida também tem um filho, de 23 anos, que está em Sorocaba, e dois netos.

De acordo com a irmã, ela trabalhava em outros dois lugares, além do restaurante português, e também fazia cursos de francês. "Ela trabalhava e queria regularizar sua situação", disse. No momento, Fernanda vive e trabalha de maneira ilegal na França.

Assédio

Nellma Barreto suspeita que Fernanda poderia estar sofrendo assédio sexual no trabalho. "Isso é muito comum entre as brasileiras que estão em situação ilegal no país", lamenta. "A mulher não denuncia porque está trabalhando em situação irregular, ou com documentação falsa e tem medo de perder o emprego, ou de ser mandada embora. Muitas vezes elas até cedem a esse assédio. Já tivemos muitos casos de mulheres que nos procuraram para pedir ajuda. Isso é muito comum e acontece constantemente", afirma.

Para a colega de trabalho que conversou com a RFI, Fernanda era uma pessoa simpática, amigável e que gostava de se cuidar. Ela frequentava uma academia em Boullogne-Billancourt, cidade nos arredores de Paris onde fica o restaurante onde trabalhava, e também conheceu um português com quem tinha uma amizade.

"Ela me disse que ele estava interessado nela, mas que não queria sair com ele. Mas até aí, achei normal", diz. A colega não tinha conhecimento dos outros empregos e amizades de Fernanda.

Caso misterioso

Nellma Barreto, que participou de outras buscas de brasileiros desaparecidos em Paris, acha o caso misterioso. "Ela era uma mulher muito centrada, que tinha uma rotina de trabalho, trabalhava em limpeza, na cozinha", diz.

"Recebemos uma mensagem bizarra, de um homem muito estranho que disse que sabia onde ela estava e que ela estava bem. Já encaminhamos para a polícia", relata. De acordo com ela, nas outras buscas "nunca ninguém enviou mensagem de trote, é a primeira vez que recebemos".

Na próxima quinta-feira (18), outro mutirão será realizado para espalhar fotos e buscar a brasileira em outras regiões de Paris. Nellma salienta que o bairro onde Fernanda mora é bem vigiado e tem muitas câmeras nas ruas. "A polícia vai descobrir", afirma, confiante.

A Polícia Judiciária está investigando o caso. O consulado do Brasil em Paris disse à RFI que continua as buscas diárias junto às instituições francesas e acompanha a família de Fernanda.

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