Nascida em uma família de físicos, Thereza Borello-Lewin foi um dos grandes nomes da física nuclear no Brasil. Graduada em física pela USP, em 1963, chegou à livre-docência do Departamento de Física Experimental do Instituto de Física da instituição, conquistando destaque por seus trabalhos sobre espectroscopia nuclear.
Em nota, a SBF (Sociedade Brasileira de Física) lamentou a morte da cientista, responsável pelo Laboratório de Emulsões Nucleares e Outras Técnicas, com trabalhos de inserção internacional. Em colaboração com a Universidade de Tóquio, desenvolveu estudos de interações nucleares de altíssima energia, produzidas pela radiação cósmica e detectadas em câmaras de emulsões fotográficas (CEFC).
Thereza participou da criação de uma nova experiência no laboratório Pelletron, com a instalação de um espectrógrafo magnético tipo Enge, que se tornou o centro de sua pesquisa em espectroscopia nuclear, lembrou a SBF.
"Fica a nossa lembrança de uma pessoa séria, responsável, metódica e disciplinada que colaborou de forma significativa para a formação de inúmeros jovens, tanto na pesquisa como através do ensino da física durante meio século", publicou a SBF.
O Instituto de Física da USP ressaltou a história de Thereza com a universidade: foram 60 anos de dedicação.
"Como professora, orientadora, cientista e administradora foi sempre querida e respeitada. Thereza era séria, competente e tinha princípios rígidos, mas estava sempre disposta a ouvir e considerar outros argumentos. Durante sua vida, sempre manteve uma posição rigorosa e nunca deixou de batalhar pelas causas que considerava importantes, a ciência entre elas", descreveu o amigo e também cientista Otaviano Helene.
Ele recorda que muitos dos pesquisadores que hoje compõem o instituto, inclusive docentes, foram alunos de Thereza. "Ela foi chefe do Departamento de Física Experimental, atividade que desempenhou com rigor e competência. Sua dedicação ao departamento é reconhecida por todos que dele participam."
Em seu doutorado, ela foi orientada pelo físico brasileiro Ernst Hamburger, que desenvolveu trabalhos inovadores sobre a organização dos núcleos dos átomos, reconhecido mundialmente. Com ele, realizou pesquisas sobre reações e estruturas nucleares, dando importante contribuição para o desenvolvimento da física nuclear no país.
"Nos orgulhávamos de sermos mulheres na física, e Thereza se preocupava com tudo, era muito dedicada ao ensino e à academia", recorda a amiga e física Lighia Matsushigue.
Marcos Alexandre, que auxiliou Thereza nos últimos anos, conta que a USP era para ela a sua segunda casa, da qual falava com orgulho e sentia falta. "Ela viveu em busca de conhecimento, com o propósito de passar aos seus alunos."
Thereza morreu em 28 de maio, aos 82 anos, de infarto. Deixa o marido e grande contribuição à educação acadêmica e à física nuclear no Brasil.
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