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05/12/2010 - 12h20

"Tráfico no Alemão dará menos tiros, mas pode lucrar mais", dizem especialistas

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AGÊNCIA BRASIL

Com a ocupação policial do Complexo do Alemão --esconderijo de grande quantidade da maconha e cocaína vendidas no Rio e de armas contrabandeadas ou roubadas--, o governo espera reduzir a violência na capital fluminense.

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As apreensões de drogas e de parte do arsenal representaram um duro golpe na organização criminosa que controlava o crime no conjunto de favelas da zona norte da cidade.

Diante dos enormes prejuízos financeiros e da diminuição do seu poder sobre a comunidade, a quadrilha deve buscar um novo modo de agir, segundo especialistas. Nessa reconfiguração, assinalam, o tráfico dará menos tiros, mas pode até lucrar mais.

Com a presença dos policiais, o tráfico funciona de maneira mais tímida, com menos gente e sem armas, como já ocorre em favelas com unidades de UPPs (Polícia Pacificadora).

Nessas locais, observam alguns pesquisadores, as quadrilhas reduzem a sua estrutura, porque não precisam pagar informantes nem corromper policiais.

Além disso, acrescentam os especialistas, elas voltam a atrair os clientes às comunidades. Antes, os consumidores evitavam esses locais por causa dos frequentes tiroteios. Assim, os traficantes economizam no custeio da atividade e, ao mesmo tempo, obtêm mais lucros.

"O tráfico passará a ser mais rentável. Toda aquela fração de recurso disponibilizada para compra de arma e para corrupção é que vai cair. O consumo vai continuar, o número de usuários ainda é o mesmo. Então, a rentabilidade, de forma pulverizada, vai aumentar", afirma Paulo Storani, pesquisador de ciências policiais da Universidade Candido Mendes e ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar.

A economia das quadrilhas com armas e soldados pode variar entre R$ 121 milhões e R$ 218 milhões por ano, segundo estimativas da Secretaria Estadual de Fazenda, baseadas na pesquisa "A Economia do Tráfico na Cidade do Rio de Janeiro: Uma Tentativa de Calcular o Valor do Negócio".

O documento, publicado em 2008 e revisado no ano passado, estima que as quadrilhas chegam a gastar somente com armamentos R$ 25 milhões por ano.

Somados, o percentual gasto com armas e com a folha de pagamento dos soldados consome boa parte do que é arrecadado com a venda de maconha, cocaína e crack, algo entre R$ 316 milhões e R$ 630 milhões por ano - o equivalente a até 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto do estado), mas que pode estar subestimado.

Segundo a pesquisa, cada boca de fumo pode arrecadar em média R$ 15 mil por dia na cidade. No caso do Complexo do Alemão, com dez bocas em cada um de suas 17 favelas, o lucro pode chegar a R$ 900 milhões por ano, calculam os pesquisadores.

A SSP (Secretaria de Segurança Pública) considera prematuro falar sobre como o tráfico vai se comportar em áreas pacificadas. "O projeto das UPPs tem apenas dois anos", afirmou, em nota, a SSP.

Em entrevistas, o secretário José Mariano Beltrame repete que o tráfico só acabará em qualquer lugar do mundo se as pessoas pararem de usar drogas. "O objetivo das UPPS é trazer o Rio para níveis de violência comparáveis a maiores metrópoles", completa a pesquisa.

Diante das incertezas, o Movimento a Marcha da Maconha aproveita para defender a legalização do uso de drogas ilícitas. "A procura sempre vai existir", diz Renato Cinco, um dos fundadores do movimento.

Segundo ele, sem a regularização, a venda no morro, se suprimida, será substituída por outra forma de tráfico, "que continuará sem pagar impostos e nenhum tipo de regra."

 

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