Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
18/09/2011 - 08h32

Detetive particular enfrenta de mulher ciumenta a ameaças

Publicidade

DE SÃO PAULO

Eric M.R., 34, é detetive particular desde 2003, quando descobriu um curso que ensina como entrar nessa carreira. Ele conta a rotina da profissão, quanto custa o trabalho e os riscos que corre. Diz ainda que a maioria dos casos são de traição de um dos cônjuges e que as mulheres perdoam mais e são mais fiéis aos maridos.

Leia abaixo depoimento à repórter Cristina Moreno de Castro:

Sou detetive particular desde 2003. Eu trabalhava como autônomo quando vi num jornal que uma escola estava oferecendo o curso de detetive. Não sabia que existia curso.

Foi ministrado por detetives, policiais, militares, advogados. Eles passaram noções de direito, balística, medicina legal, criminalística, equipamento (filmadora, microcâmera, escuta) etc.

Depois que me formei, tive meu primeiro caso, que era um conjugal. Nas agências, até 80% dos casos que chegam são conjugais.

No primeiro dia, fiz com um outro rapaz, que era superassustado. Ele deixava o jornal aberto, mas não fingia que estava lendo. Depois acompanhei um inspetor da escola, que lapidou meu trabalho.

FLAGRAS

Meu primeiro flagra foi uns três casos depois. Foi de um cara que morava na zona leste e trabalhava numa companhia de ônibus. Avisou a mulher que ia trabalhar durante a noite, mas saiu com uma menina, foi pra uma casa e parou o carro na porta.

A gente pega a movimentação da pessoa entrando num apartamento, ou a pessoa entrando ou saindo num motel, de mãos dadas, passeando na praia, tudo na rua. Não invado a privacidade.

A mulher tem sexto sentido, consegue perceber; o homem não tem essa facilidade. Dos casos que chegam pra gente, 60% têm algo errado mesmo. Os outros são casos em que a pessoa não tem mais afeto pelo cliente e acaba trabalhando demais, mas não está sendo infiel --o cliente que é ciumento. A mulher costuma ser mais fiel.

Paula Giolito/Folhapress
Detetive particular desde 2003, Eric conta que tem que lidar com casos de traição e já passou por apuros
Detetive particular desde 2003, Eric conta que tem que lidar com casos de traição e já passou por apuros

PERDÃO

A maioria dos casos em que a mulher vem buscar a gente não dá em divórcio. A mulher perdoa mais.
Eu tive um caso em que eu já havia feito cinco flagrantes do cara com a amante, e ele nunca mudava --inclusive a amante estava grávida. A mulher só pedia para a gente verificar se ele continuava o relacionamento extraconjugal, mas continuava com ele.

Esses casos são frustrantes porque a gente corre riscos, entrega o serviço para pessoa e um mês depois ela contrata de novo para continuar na mesma.

Eu já tive problemas por causa disso. No caso de um jogador de futebol famoso de um time de São Paulo, dei o flagrante dele com outra menina. Entreguei o material para a cliente, e a primeira coisa que ela fez foi mostrar as filmagens para o cara.

Continuei o trabalho, e o investigado e dois amigos me roubaram, eu apanhei e, no final, a mulher continuou com ele. Tive prejuízo de R$ 10 mil e eles não me devolveram o equipamento.

CUSTOS

Eu costumo pegar de quatro a cinco clientes por mês. Por causa da concorrência não temos tantos casos como antes. Eles duram de um dia a vários meses.

O preço de uma investigação varia desde R$ 450 a R$ 1.000 por dia, ou mais. Varia de acordo com o risco, as condições que o cliente pede, a forma como ele quer que a gente trabalhe etc. A gente pode trabalhar a pé ou até de helicóptero, se o cliente quiser.

SHERLOCK

O trabalho do detetive é mais intelectual. A gente basicamente segue o investigado e se aproxima das pessoas com quem ele convive.

Tive um caso de uma pessoa que estava desaparecida havia 25 anos, e a única informação que a cliente tinha é que o irmão brigou com a família, ficou magoado e foi pra Bahia. A gente começou a fazer levantamento e aí fui pegando a trilha da pessoa.

Até fui para a Bahia e, no final, descobri o endereço do irmão em uma favela aqui em São Paulo e achei a pessoa.

Em outro caso, fui para uma favela no litoral só para ver a idade de uma criança. Quando eu estava indo embora, não me deixaram sair.

Fui arrastado por três traficantes para um terreno no meio da favela, começaram a me questionar.

No dia eu estava com a credencial no bolso. Eles começaram a olhar os meus bolsos e, se a pegassem, eu não estava mais vivo aqui. Mas ele pulou o bolso em que estava a credencial.

Minha sorte é que eu tinha uma história de cobertura boa. Eles acreditaram, eu tive que falar com o líder comunitário e eles me liberaram. Passei até mal depois.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página