Um homem de letras e números. Assim o jornalista Rodrigo Fiume definia seu pai, Ricardo Pires. Bancário por 40 anos, ele sabia tudo de finanças, mas sua paixão era a leitura.
A serenidade foi a lembrança que deixou aos amigos conquistados ao longo da carreira profissional em cinco instituições bancárias. “Ele era paciente e ajudou na formação de muitos profissionais”, diz Ricardo.
O primeiro salário (em 1956) ilustrou um momento de ousadia. O dinheiro foi investido na compra de uma caneta Parker 51.
Parte dos pagamentos seguintes foi destinada à aquisição de livros, entre eles uma luxuosa edição ilustrada da Divina Comédia de Dante (paga em cinco prestações) e as obras completas de Shakespeare. Sua biblioteca chegou a ter 3.000 livros.
Mesmo dividido entre as obrigações com a família e o trabalho, estudou por conta própria para o vestibular. Ricardo passou em primeiro lugar em direito na UFG (Universidade Federal de Goiás), onde formou-se em 1974.
Quando se aposentou, realizou o desejo de conhecer os locais das histórias que lia nos livros, como a Praga (República Tcheca) de Kafka, a Paris (França) de Vitor Hugo e a Nova York (EUA) de Truman Capote.
Em abril deste ano, visitou Stratford-upon-Avon (Inglaterra), cidade natal de Shakespeare, e Edimburgo (Escócia) de Macbeth.
O próximo destino seria a Holanda para conhecer parte dos caminhos percorridos por Dom Quixote de La Mancha.
Ricardo Pires morreu em 2 de agosto, aos 82 anos, de pneumonia. Deixou a esposa Mirinha, os filhos Raquel, Rodrigo e Rogério, e os netos Ricardo e Felipe.
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