Pai tenta tirar filha de escola invadida e manifestantes pedem 'Fica, Fabíola!'
Avener Prado/Folhapress | ||
Pai tenta tirar filha de escola estadual ocupada por estudantes em Pinheiros, zona oeste de São Paulo |
Era meia-noite quando Fabíola, uma aluna de 17 anos da escola estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, ouviu os gritos do pai.
"Atrevida. Você vem comigo!", vociferou o motorista Francisco Gonçalves à filha do 3º ano do Ensino Médio, uma das cerca de cem estudantes que ocupavam o colégio desde o início da manhã de terça (10). O diálogo se deu no portão –ela do lado de dentro, ele do lado de fora, cercado por policiais militares. Manifestantes assistiam curiosos à discussão.
Os estudantes planejavam passar a noite de terça (10) para esta quarta (11) dentro do colégio, em protesto contra o fechamento de unidades para a reorganização da rede pública estadual, medida do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Fabíola tentou argumentar: "Eu tenho direito de escolha. Eu não quero ficar em casa". Sua mãe, a autônoma Nazaré, suplicou: "Não precisa disso, Fabíola". E depois: "Você vai obedecer seu pai agora!".
Ao ser abordada pela reportagem, Nazaré só questionou se "tinha cabimento" deixar a filha dormir fora de casa.
Para seu marido, não. Aflito porque a filha se recusava a deixar a ocupação, Francisco tentou pular as grades e foi segurado pelos policiais. Ouviu vaias de quem estava na rua observando, cerca de 200 manifestantes: "Você deveria ter orgulho da consciência política da sua filha!", "Resiste, Fabíola!" e "Fica Fabíola!".
A menina resistiu por 15 minutos. Depois, cedeu à súplica dos pais e, sob aplausos, deixou a escola. "Meus pais são muito conservadores", explicou a irmã de Fabíola, que os acompanhava.
ACALMAR OS ÂNIMOS
Oito horas após seu pai ter lhe buscado a gritos da ocupação na escola estadual Fernão Dias Paes, Fabíola Gonçalves, 17, voltou ao protesto contra o fechamento de unidades.
"Esperei acalmar os ânimos em casa", afirmou a aluna.
Às 8h desta quarta (11), a aluna voltou à escola e se juntou aos manifestantes –ela conseguiu entrar novamente no colégio, que está cercado por policiais. Há cerca de 200 pessoas protestando na parte externa, com apoio do MTST, e cem alunos dentro da escola.
"Eu fiquei muito preocupada com eles", diz Fabíola. "Ficaram bravos por causa do tumulto. Os policiais disseram para eles que o protesto era uma bagunça. Eles só não queriam que eu dormisse aqui."
Ela afirma que os pais apoiam a manifestação, mas não a ocupação, porque "tira a aula de outros alunos".
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade