Sem merendeiras, escolas servem bolacha para alunos em SP
Robson Ventura/Folhapress | ||
Sem merenda, alunos da Escola estadual Professora Adelaide Ferraz de Oliveira recebem frutas |
Escolas da capital chegam agora ao fim do primeiro bimestre do ano letivo, ainda sofrendo com a falta de merendeiras. Por causa disso, crianças matriculadas na rede estadual, sob responsabilidade da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), são obrigadas a comer bolacha e tomar suco no lugar das refeições completas, preparadas pelas cozinheiras das unidades.
Ao menos cinco escolas da zona leste trocaram o arroz com feijão pela "merenda seca", composta basicamente por alimentos de baixo valor nutricional, como são os casos das bolachinhas e dos sucos de caixinha.
A reportagem não encontrou merendeiras nas escolas Professor Alfredo Ashcar, em São Mateus, Dona Zalina Rolim, Vila Matilde, Professora Adelaide Ferraz de Oliveira, na Vila Guilhermina, Professor Arthur Chagas Junior, em Sapopemba, e Francisco Mignone, no Jardim Iguatemi.
Em todas essas escolas, a reportagem foi informada de que ainda não foi concluído o processo de licitação para a contratação de novas merendeiras e que, por isso, as crianças estão sem a alimentação normal desde o início do ano letivo.
FRUTAS
Na escola Professora Adelaide Ferraz de Oliveira, uma funcionária, que pediu para não ser identificada, disse que a direção tenta compensar a falta de comida com frutas, mas que, desde o início do ano, só foi possível fazer isso três vezes. "É o dinheiro da APM [Associação de Pais e Mestres], que não recebe muitas doações."
Na Professor Alfredo Ashcar, são cerca de 900 crianças. Nesta semana, elas puderam comer frutas como banana, maçã e melão, mas sem refeição. "Isso não é o suficiente. Muitas dependem da merenda, porque não têm o almoço em casa e os pais já contam com isso. Normalmente, era arroz, feijão, macarrão", disse uma funcionária. O problema não é novo. Em fevereiro, o Agora mostrou que escolas estaduais de Carapicuíba e Cotia (na Grande SP) começaram o ano sem merendeiras e faxineiras.
Pais de alunos da escola Professora Adelaide Ferraz de Oliveira, na Vila Guilhermina (zona leste), são obrigados a bancar do próprio bolso a refeição dos filhos durante o horário de aula. Tudo para não ver as crianças comerem apenas bolacha. Nem todos conseguem fazer isso.
¦A recepcionista Debora Cristina Burri, 31 anos, tem um filho de 11 anos, que tem necessidades especiais. Para não ver o menino passar fome durante o período da tarde, deixa pago todo dia o lanche na cantina da escola. "São R$ 3,50 para ele comprar pelo menos um salgado e mando um suco de casa. É um absurdo essa situação", afirma.
O montador Alexandre Scarmeloto, 40, se aperta para garantir o lanche da filha, de 13 anos. "Ela reclama bastante, diz que não tem merenda. Ela sempre pede um dinheirinho para comprar alguma coisa. Quando tenho, dou. Agora, muitas vezes, não tenho na hora e fico constrangido", diz.
A dona de casa Vera dos Santos, 52, também critica a falta de uma refeição para a filha, de 13 anos. "A minha menina reclama todo dia. Ela sai com fome da escola", diz. "Se não tem merendeira, por que não me contratam? Eu estou desempregada", diz Maiara Cardoso, 23 anos, a outra filha de Vera.
OUTRO LADO
Secretaria Estadual da Educação, sob a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), diz que, durante o pregão, houve o pedido de recurso por parte de uma das empresas, o que prolongou o processo. Após seguir os trâmites legais, a empresa vencedora e responsável pelo preparo da merenda nas cinco escolas iniciará o serviço na próxima semanae os alunos receberão, até lá, "alimentos que não necessitam do cozimento".
Sobre a Escola Professora Adelaide Ferraz de Oliveira, a unidade recebeu apenas no mês de março R$ 1.312,00 verba destinada à compra de frutas e verduras. Um supervisor foi encaminhado à unidade.)
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade