Escolas diversificam currículo com aulas de rock, marcenaria e até debate

Crédito: Divulgação Ana Clara Machado Tomelin, 15, aluna do colégio Móbile Credito Divulgação DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
Ana Clara Machado Tomelin, 15, faz aula de fotografia na escola Móbile, em São Paulo

LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO

Escola é lugar de aprender português, matemática, física, química, biologia, esgrima, marcenaria, skate, circo, fotografia, violino, rock, ioga e muito mais.

Se em outros tempos os cursos extracurriculares se resumiam aos esportes mais conhecidos e, no máximo, a aulas de teatro e de música, hoje os colégios particulares parecem participar de uma competição de criatividade e ousadia nesse setor.

A abertura para novas possibilidades teve início há cerca de uma década, mas se acentuou nos últimos anos, fortalecendo a tendência de manter alunos cada vez mais tempo dentro das escolas.

Os cardápios atraentes transformam o ambiente escolar, que muitas vezes se torna uma mescla de clube com centro cultural. Por trás dessa mudança está um casamento de interesses das famílias e das instituições de ensino.

Para os pais, especialmente nas grandes cidades, é prático concentrar os compromissos dos filhos em um mesmo local. Além de fugir do trânsito e da violência, muitas vezes acabam gastando menos do que se cada curso fosse feito em um local diferente.

Já os colégios ampliam a receita, somando os extras ao valor da mensalidade, e se alinham a um pensamento pedagógico mais moderno.

"Temos de estar conectados às novas demandas da sociedade e ampliar as oportunidades para que os alunos desenvolvam diferentes habilidades", afirma Cleuza Vilas Boas, diretora da escola Móbile, em Moema (zona sul de São Paulo), que oferece mais de 30 opções extracurriculares.

Entre elas, chama a atenção a de debate, que a princípio poderia soar menos atraente em uma lista que vai de esgrima a marcenaria, passando por fotografia e engenhocas. "Foi um pedido dos próprios alunos", conta Cleuza.

"Eles começam a aprendem o debate regrado no horário normal das aulas a partir do 4º ano. Demonstraram interesse em aprofundar esse aprendizado e, como vivemos uma época de ausência de diálogo, aceitamos a sugestão."

A pedagogia valoriza a possibilidade de que os alunos montem grades mais personalizadas.

"Mas é preciso que as aulas extras dialoguem com as curriculares. E elas são grandes oportunidades de passar valores como a solidariedade e o trabalho em grupo", afirma Silvana Marques, coordenadora do setor artístico do núcleo extracurricular do Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana (zona sul de SP).

"Um aluno que não vai tão bem academicamente pode ser ótimo, por exemplo, nas aulas de circo. É bom para a sua autoestima e pode até reverter em melhora nas notas", diz Marisa Ester Rosseto, diretora educacional do colégio.

Apesar de soar enriquecedor e divertido, é preciso cautela com tamanha diversidade. "As atividades devem estar integradas ao projeto educativo da escola", diz Cristina Nogueira Barelli, coordenadora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades, considerado de vanguarda na formação de professores.

Outros riscos são deixar as crianças e adolescentes restritos a um mesmo círculo social e superlotar suas agendas. "As escolhas devem ser feitas em conjunto entre pais e filhos, e o objetivo nunca pode ser preencher o dia. São horários regrados, que exigem comprometimento. É preciso reservar tempo para brincar livremente e até para não fazer nada. Fora isso, sempre que houver oportunidade, é bom frequentar diferentes grupos e espaços."

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