Escolas apostam em pós com aulas em inglês por formação global

FERNANDA REIS
DE SÃO PAULO

Entre os alunos do mestrado em administração do Coppead, escola de negócios da UFRJ, das mensagens nos grupos de WhatsApp ao churrasco de fim de ano, absolutamente todas as conversas são em inglês. "Parecia que a gente estava em outro país", lembra Marcelo Lewin, 36, do terceiro ano, ao descrever a confraternização da turma.

Fora da sala de aula, os estudantes seguem o idioma do curso, dado totalmente em inglês desde 2015, com o objetivo de atrair matrículas de estrangeiros para fazer o curso todo, e não apenas um período de intercâmbio.

A escola não foi a única a abandonar o português. "Há uma tendência de ter aulas em inglês para proporcionar uma formação aqui no Brasil que se aproxime da oferecida nas instituições internacionais", afirma Sandro Cabral, professor do doutorado em economia dos negócios do Insper, em São Paulo, ministrado na língua desde sua criação, em 2015.

Crédito: Keiny Andrade/Folhapress Cena de 'Autofac', com Janelle Monaé, um dos contos de 'Eletric Dreams'
Marcelo Lima, 34

Essa escolha, dizem professores, possibilita que os alunos leiam e discutam as pesquisas mais recentes em suas áreas e que troquem experiências com pessoas vindas de todos os cantos do mundo.

Ir para o exterior também é uma possibilidade maior para quem opta por esses cursos. É o que acontece na Unicamp, que dá um mestrado em economia social e trabalho em inglês. O curso é parte da Global Labour University, rede formada por universidades de Brasil, Alemanha, Índia, África do Sul e EUA. Cada campus dá um curso, com disciplinas em comum.

"Os alunos podem fazer parte num país e parte em outro", diz o professor Anselmo Luis dos Santos, coordenador do programa. "Muita gente viaja. Todo ano a gente tem uma conferência internacional tratando dos temas mais relevantes do momento."

Essa troca com universidades de fora também é possível na FGV-SP, que tem dois cursos com aulas em inglês, o OneMBA e o programa stricto sensu MPGI. O primeiro é uma parceria com quatro instituições estrangeiras, voltado para profissionais experientes. Durante o curso, os alunos passam uma semana em cada um dos outros países.

Já no MPGI, onde apenas um terço dos alunos são brasileiros, existe a possibilidade de duplo diploma com 30 escolas associadas. "Nossa estratégia é ser uma escola internacional. Para isso, é preciso dar cursos em inglês. Na Escandinávia, graduações são dadas no idioma", diz Tales Andreassi, vice-diretor da Escola de Administração de Empresas da FGV-SP.

Marcelo Lima, 34, diz ter escolhido o OneMBA justamente por ser global. Em sua turma de 12 alunos, seis são brasileiros. "Para ser um alto executivo o inglês não é vantagem, é pré-requisito."

O mesmo vale para a carreira acadêmica. Fabio Calderaro, professor do mestrado e do doutorado em administração na FGV-Rio, diz que o curso é em inglês porque é a língua de pesquisa mundial. "Os alunos ficam preparados para fazer pesquisa que será escrita, apresentada e discutida no idioma."

Para os alunos, é um desafio a mais. Segundo Thomaz Teodorovicz, 26, que cursa o doutorado do Insper, a parte mais difícil –mas superável– é discutir um trabalho acadêmico em uma língua que não é a sua. Mas, hoje, sua namorada até brinca que ele se esqueceu de como se fala algumas coisas em português.

Segundo Lima, para seguir as aulas o nível do idioma tem que ser "altíssimo". Na seleção, deve-se comprovar o domínio por meio de exames de proficiência ou entrevistas.

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