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João Mattar

"Não há justificativa para privar o jovem do nível médio da educação a distância"

Permitir que escolas ofereçam EaD significa respeitar as capacidades e a autonomia dos alunos

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​No Brasil, um aluno pode fazer um curso de graduação a distância em praticamente todas as áreas do conhecimento. O MEC (Ministério da Educação) instituiu recentemente um grupo de trabalho para propor instrumentos de regulamentação da educação a distância nos programas de pós-graduação stricto sensu. 

Na pós-graduação lato sensu nós já avançamos bastante, assim como na educação corporativa. A educação básica é, portanto, o único nível de ensino em que essa modalidade ainda não "pegou" no Brasil!

Mesmo documentos legais recentes encontram resistência por parte de educadores e associações. Haveria justificativa para essa resistência?

Nos países de língua inglesa, é sólido e consistente o movimento crescente de "home schooling", em que as crianças são educadas em casa por pais e/ou tutores.

Nos Estados Unidos, é grande a oferta de cursos a distância de "high school" (que corresponde ao nosso ensino médio).

No Brasil, entretanto, a modalidade só pode ser aplicada com restrições na educação básica. Aceita-se, por exemplo, a sua utilização em instituições que oferecem EJA (Educação de Jovens e Adultos) no ensino médio e também em cursos profissionais de nível técnico.

A EaD desenvolve várias habilidades nos alunos, como a gestão do próprio tempo de estudo e o uso de TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação).

Essas e outras habilidades são consideradas essenciais no século 21 e já não há justificativa para privar o jovem que está cursando o ensino médio de desenvolvê-las.

A permissão à EaD no ensino médio não significa que tudo será feito a distância. A tendência mundial é o ensino híbrido ("blended"), em que são combinadas a educação presencial e a distância.

Assim, o argumento de que a EaD influenciará negativamente as relações humanas não se sustenta —mesmo porque boa parte das relações dos jovens, hoje, é online.

Permitir que escolas incluam em seus currículos atividades e disciplinas a distância não significa uma ameaça à formação dos jovens. Ao contrário, é um reconhecimento de que nosso contexto mudou, as tecnologias e a internet desempenham hoje um papel essencial na aprendizagem, na comunicação e no trabalho, e de que a EaD pode contribuir para a formação desses jovens.

Há no Brasil escolas e educadores competentes, capazes de combinar metodologias e tecnologias para preparar os alunos do ensino médio para uma modalidade pela qual eles poderão optar, no nível superior, e para a cidadania na cultura digital —que eles já exercem, de qualquer maneira, fora da escola. 

Permitir que escolas ofereçam educação a distância e que alunos do ensino médio tenham essa opção significa respeitar suas capacidades e sua autonomia.

Significa estabelecer um diálogo em uma nova linguagem pela qual os jovens de hoje se comunicam. A EaD não é a solução para os problemas da educação básica no país. Mas pode contribuir, quando combinada com a educação presencial, para nosso desenvolvimento.

João Mattar

Professor, diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância

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