Só 0,5% das licenciaturas a distância tem nota máxima em avaliação federal

Quase metade de alunos dos cursos de formação está na modalidade não presencial

Paulo Saldaña
Brasília

Apenas 0,5% dos cursos de formação de professores a distância têm nota máxima no indicador de qualidade do governo federal. Na modalidade presencial, esse percentual é de 2,5%. 

A educação a distância é aposta para expansão do ensino superior, principalmente nas instituições particulares. Quase metade (46,8%) dos alunos de licenciaturas (que formam professores) está em cursos a distância. A baixa qualidade da formação dos futuros professores é apontada como um dos entraves para a melhoria da educação.

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão ligado ao Ministério da Educação, divulgou nesta terça-feira (18) os indicadores de qualidade de cursos superiores e de instituições com dados relacionados a 2017.

Os cursos são classificados pelo CPC (Conceito Preliminar de Curso), indicador que leva em conta notas de uma prova feita por concluintes (o Enade) e informações como o perfil de titulação de professores. Esse conceito tem uma escala de 1 a 5 —cursos com CPC 1 e 2 são considerados insatisfatórios e podem ter sua autorização de funcionamento comprometida.

Apesar de ter percentual menor de graduações com notas 5 e 4, as licenciaturas a distância tem um volume menor entre os níveis considerados inadequados: 7,1%. Entre as licenciaturas presenciais, são 8,8%.

De acordo com a presidente do Inep, Maria Inês Fini, os cursos de formação de professores a distância têm cumprido papel importante e não podem ser analisados com preconceito. 

"A educação a distância sofre um preconceito absurdo. Há uma crença por parte de alguns educadores de que precisa estar na presença do sujeito pra saber o que ele está pensando. Temos processos interativos, metodologias ativas, mil maneiras para dirigir aprendizagem dos alunos", disse ela. "O maior interessado no resultado positivo é o aluno."

Fini esteve envolvida em polêmica recente com o presidente eleito, Jair Bolsonaro, que criticou a prova do Enem. Bolsonaro disse que vai ver os cama antes para evitar esquerdismo, o que contraria critérios técnicos e de segurança.

Na coletiva, Fini fez um apelo para que as ações da Educação não sejam descontinuadas. "Eu espero que mais uma vez a gente não cometa o pecado da descontinuidade, que acarreta atrasos gigantescos para a educação do Brasil". 

Os indicadores de qualidade são produzidos todos os anos por grupos de cursos. Assim, as graduações são avaliadas a cada três anos.

As áreas avaliadas no Enade 2017, com resultados divulgados agora, foram letras, matemática, ciências sociais, educação física, geografia, história, filosofia, pedagogia, química, música, ciências da computação, ciências biológicas, artes visuais, sistema da informação e as engenharias. 

Nesse grupo há licenciaturas e bacharelados. Também estão na lista cursos de tecnologia na área de análise e desenvolvimento de sistemas, gestão de produção industrial, gestão da tecnologia da informação e redes de computadores.

São 10.210 cursos com CPC calculado. Do total, considerando cursos presenciais e a distância, apenas 2,3% têm nota máxima. O que representa 231 cursos. Outros 9,5% (969) tiveram índice entre 1 e 2, considerado inadequado.

A partir da média do CPC nos últimos três anos, combinada com outras informações, o Inep calcula uma nota para a instituição. Esse indicador chama-se IGC (Índice Geral de Cursos).Somente 1,6% das instituições têm nota máxima. São apenas 34. Na outra ponta, 13,5% ficaram com IGC menor do que 3, o que também pode comprometer o funcionamento da instituição.

Os indicadores fazem uma comparação entre os cursos e instituições. Ou seja, médias 1 e 2 são consideradas baixas com relação à média de todas os cursos ou instituições avaliados. O mesmo vale para as notas superiores.

O secretário-executivo do MEC, Henrique Sartori, informou que haverá no próximo ano mais de 200 visitas de regulação em instituições como forma de monitoramento da qualidade. O foco será em instituições com denúncias de irregularidades e para verificação das condições exigidas pelas regras.

"A partir desses resultados o MEC faz o estudo desses dados e aplica as medidas de supervisão", diz. "As instituições têm o compromisso de manter os padrões mínimos de qualidade." 

Sartori ressaltou que o maior empenho após a divulgação dos resultados é mostrar o caminho para que instituições melhorem suas condições de oferta de cursos.

Desde 2004 está em vigor o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior). Ele compreende a construção de indicadores destinados a estabelecer um panorama de qualidade de cursos e instituições, além de induzir melhorias. Os indicadores são também base para a supervisão e regulação do setor.

Uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), realizada no meio deste ano, mostrou que o sistema não tem sido capaz de expressar o nível de qualidade dos cursos universitários do país. Ao contrário, superdimensiona em muitos casos a qualidade das graduações.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto trazia gráficos iguais para o resultado do CPC das licenciaturas presenciais e a distância. O erro foi corrigido.

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