Criança é protagonista do aprendizado em nova base curricular infantil

Documento deve começar a ser aplicado até o fim do ano em todo o país

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São Paulo

Até o final deste ano, pré-escolas e creches de todo o país vão precisar ter seus currículos ou propostas pedagógicas adaptados em acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que apresenta uma maneira mais moderna de tratar a criança, agora como protagonista em seu processo de aprendizado e tendo o brincar como maior ferramenta de construção de conhecimento.

A educação infantil —que abriga alunos entre 0 anos e 5 anos e 11 meses— segundo educadores, deixa de ser um espaço de apenas oferecer cuidados, lazer e zelo para as crianças e se transforma em local de potencializar as capacidades cognitivas em ebulição na primeira infância.

Entre os eixos a serem explorados pelas "escolinhas" estão escuta, fala, pensamento e imaginação; corpos, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas. O ambiente esperado é mais livre e lúdico: saem mesas, cadeiras e lousa e entram tapetes coloridos e espaços livres para praticar a imaginação.

"É fundamental uma mudança de paradigma nas práticas com os bebês e as crianças pequenas, e a BNCC pode ser um caminho para isso", diz Carolina Velho, mestre em educação e ex-coordenadora de Educação Infantil no Ministério da Educação

Ainda segundo Carolina, "não existe aprendizagem sem ação, sem que desde bebês haja uma crença pelo professor e pelo adulto de referência de que o bebê deve ser protagonista. Creches e pré-escolas devem acolher as vivências e conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto da sua comunidade".

A rede de colégios Vicentinos de São Paulo, que conta com cinco unidades particulares e quatro sociais, atendendo cerca de 1.800 alunos na educação infantil, já está aplicando a BNCC na prática com as crianças.

Segundo Renata Cenciarelli, diretora-adjunta da rede, os professores de suas unidades já estão habilitados a desenvolver diferentes campos de experiências de aprendizagem com os alunos pequenos, seguindo o que preconiza a base.

"Temos grupos de estudos dentro das escolas para a avaliação de cada ponto proposto pelo documento, que já é para nós habitual e conhecido. São muitos os pontos de contato de nossas práticas com o que diz a base. A partir de 2019, nosso material didático já adequado à nomenclatura e à organização técnica da BNCC chegará às salas de aula ", afirma a diretora.

Especialistas em educação explicam que não se deve misturar os conceitos de oferecer experiências diferentes à criança e o de ofertar atividades diversas a ela, o que pode acabar causando cansaço e até estresse nos pequenos.

"É preciso entender bem a fase de desenvolvimento em que está determinada criança e a medida intencional daquilo que é oferecido para ela. O jogo, por exemplo, tem de ser trabalhado de maneira lúdica, não necessariamente como um desafio, uma competição", diz Renata Cenciarelli.

Já Carolina Velho explica que a oferta de múltiplas atividades à criança —esportivas, artísticas, de lazer e língua estrangeira, por exemplo— em educação infantil não pode ser compreendida como "complemento", mas como "práticas integradas às vivências" dos pequenos.

"Essas atividades são essenciais para o desenvolvimento e aprendizagens. É preciso ter um olhar muito individualizado e cuidadoso. As crianças não precisam ser submetidas a uma rotina estressante. Nesta fase o que verdadeiramente importa é a qualidade das experiências."

Rede municipal de educação de SP vai aperfeiçoar currículo

De acordo com a Secretaria Municipal da Educação de São Paulo, a rede de educação infantil na cidade, que conta com cerca de 1.600 unidades parceiras, está em fase final de implantação de um novo currículo, que vai levar em consideração as recomendações de modernização da base nacional curricular, documento que determina o que deve ser ensinado na educação básica.

Segundo a pasta, o preceito do "brincar" como linha condutora das atividades oferecidas às crianças já está incorporado como regra em toda a rede "por entender que é uma linguagem por excelência" e por ser "a primeira forma de expressão" dos alunos.

"Essa postura [de brincar] também está presente nos anos iniciais do ensino fundamental, em especial no ciclo de alfabetização [1º ao 3º ano], quando a brincadeira, o jogo, as cantigas de roda, parlendas e demais textos de tradição oral são indicados para o ensino da língua e dos demais conteúdos escolares", informou a pasta, em nota.

Apenas na faixa de 0 a 3 anos, a rede municipal conta com cerca de 323 mil alunos, e uma demanda reprimida de 85 mil vagas. Nessa idade, segundo especialistas, os pequenos têm a maior chance da vida em captar informações se houver estímulos para isso.

A secretaria não disse qual a situação atual do mobiliário nas unidades que atendem crianças de 0 a 6 anos, mas informou que, desde 2008, vem divulgando materiais pedagógicos que orientam os professores sobre a maneira de exploração dos espaços nas escolas, reduzindo o uso das tradicionais mesas e cadeiras.

As unidades conveniadas, segundo a pasta, são monitoradas em relação à aplicação das novas premissas. "Relatórios semestrais, feitos pelas equipes gestoras, são divulgados às famílias. Eles se destinam a mostrar o aprendizado das crianças em sala e também individualmente".


O que diz a BNCC da educação infantil 

O que é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) O documento indica o que as escolas públicas e privadas devem ensinar. A parte referente às etapas da educação infantil e do ensino fundamental está sendo implantada nos estados e municípios

Direitos da aprendizagem na educação infantil

Conviver ampliando o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas

Brincar ampliando e diversificando o acesso a experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais

Participar ativamente do planejamento das atividades propostas, decidindo e se posicionando

Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções

Expressar necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões e questionamentos

Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural

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