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Investimento na formação de líderes chega ao berçário

Instituições querem estimular ao máximo crianças de 3 meses a 6 anos, mas especialistas recomendam cautela

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Lisandra Matias
São Paulo

Recursos como imersão em língua inglesa, introdução à cultura maker, desenvolvimento de habilidades interpessoais —as chamadas “soft skills”— e até um primeiro contato com o mandarim estão entre as atividades oferecidas por escolas de elite de São Paulo a bebês a partir de três meses.

De olho no futuro acadêmico e profissional da criança, a ideia é estimular ao máximo suas potencialidades nessa etapa da primeira infância, que vai até os seis anos, considerada um momento crucial do desenvolvimento infantil.

Juliana Maksoud com o filho Guilherme, de 1 ano e 10 meses, na Maple Bear
Juliana Maksoud com o filho Guilherme, de 1 ano e 10 meses, na Maple Bear - Keiny Andrade/Folhapress

“Existe hoje uma demanda muito grande por pessoas que sejam críticas e que tenham habilidades como liderança e criatividade. Isso se constrói desde pequeno”, diz Cintia Sant’Anna, diretora acadêmica da Maple Bear, rede de ensino com metodologia canadense que tem mensalidade a partir de R$ 2.500.

Em algumas de suas unidades, aceita bebês acima de um ano para imersão total em inglês. O contato com o português acontece só a partir dos quatro anos.

Ela ressalta, porém, a importância de criar um ambiente acolhedor e estimulante, mas com muito cuidado, pois as crianças têm ritmos diferentes de desenvolvimento. “É preciso olhar para todos os aspectos —físicos, emocionais e cognitivos.”

A advogada Juliana Maksoud Mahana, 32, diz estar satisfeita com o progresso dos filhos na Maple Bear. Ela queria uma escola que priorizasse o bem-estar das crianças e respeitasse as individualidades e o perfil de cada um. 

Guilherme, de 1 ano e 10 meses, frequenta desde o começo do ano o berçário da unidade da Vila Nova Conceição. Segundo a mãe, ele canta músicas em inglês e fala o nome de cores, frutas e animais. 

Henrique, 5, que cursou a mesma escola por três anos, “tem um inglês maravilhoso e só assiste a desenhos e filmes na língua inglesa e sem legendas”, afirma Juliana.

O desenvolvimento de habilidades como criatividade e empreendedorismo, igualmente valorizadas no mundo do trabalho, também já começa a ser estimulado nas crianças dessa faixa etária. 

Para isso, são montadas atividades que introduzem a cultura maker, com o uso de materiais como sucata, papelão e massinha para a construção de objetos e brinquedos. 

“A possibilidade de concretizar a sua ideia mostra para a criança a potência e a capacidade que ela tem, o que favorece a parte emocional e a autoestima, além de trabalhar o empreendedorismo”, diz Luciana Gama, articuladora pedagógica do Colégio Elvira Brandão, em Santo Amaro, que tem mensalidades a partir de R$ 2.165 (berçário). 

Segundo Gama, a incursão ao universo maker começa no berçário, quando os bebês manuseiam diferentes materiais e texturas, entre eles argila, areia, tinta, massinha e papéis, três vezes por semana. A partir dos três anos, eles começam a fazer suas próprias construções. 

“Nessa faixa etária, quanto mais a criança for estimulada, mais bem preparada estará cognitiva e emocionalmente, o que vai ter reflexos na vida acadêmica e profissional”, diz.

Na Primetime Child Development, no Morumbi, a novidade, oferecida desde o início deste semestre, é a vivência em mandarim para bebês (a partir de três meses) e crianças até quatro anos. A mensalidade parte de R$ 6.500.

Uma educadora chinesa conduz atividades com as crianças durante uma hora, duas vezes por semana.

Segundo Christine Bruder, psicóloga e diretora da instituição, cerca de 50% dos alunos fazem essa vivência, que é opcional. 

Bruder explica que o foco da escola é o desenvolvimento emocional. Há uma educadora para cada dois bebês, e as atividades respeitam o ritmo e o interesse individual de cada aluno, e não a idade, de acordo com o que a neurociência recomenda. 

Para Anete Abramowicz, professora titular da área de infância da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), é preciso ter cautela frente a uma tendência que existe hoje de aceleração da aprendizagem.

“Precisamos lembrar que uma criança não é só um futuro, ela é o presente e precisa ter aquilo que é mais precioso, e que temos cada vez menos, que é a possibilidade do exercício da infância —uma forma singular e específica na qual a criança aprende a pensar, a viver, a se socializar”, diz.  

Beatriz Abuchaim, gerente de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, instituição que é referência no tema da primeira infância, vai na mesma linha: “Aprender uma segunda língua não é fundamental na educação infantil, pois isso pode ser feito mais tarde”.

Ela aconselha que, na hora de escolher um berçário, a família avalie o que quer priorizar na vida da criança. “O importante é pensar em estímulos que sejam adequados e em interações que sejam positivas.”

Para Abramowicz, o mais importante é que a criança possa usufruir da infância e conhecer o mundo a partir de atividades como brincar, mexer nas coisas e se relacionar com outras crianças, além de ter tempo livre para formular questões próprias. 

“A infância é um período da vida que está cada vez menor. O inglês, por exemplo, a criança pode ter depois. O que ela não vai ter depois é a infância”, completa.

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