'Foi um tema fácil, mas perigoso', diz professor sobre redação do Enem

Para educador, temática simples pode ter induzido candidatos à dissertações menos aprofundadas

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São Paulo

O tema da redação do Enem, que surpreendeu profissionais da área do cinema ao falar sobre a democratização dessa arte no Brasil, também não estava no radar da maioria dos professores de cursinhos pré-vestibular e de ensino médio. Para profissionais ouvidos pela Folha, a temática desse ano foi simples, mas arriscada para os candidatos.

Para Fernando Santo, gerente de inteligência educacional do Poliedro, o perigo para os estudantes estava exatamente na aparência simples. “Foi um tema fácil, mas perigoso para estudantes, porque podem ter caído numa abordagem muito rasa. Era preciso entender melhor a proposta, os problemas sociais, as questões financeiras e culturais, para então dissertar.”  

Antunes Rafael dos Santos, professor de língua portuguesa e diretor do colégio Oficina do Estudante, de Campinas, diz que o tema também ficou um pouco vago e pode ter confundido os candidatos. 

“Quando o aluno analisa o enunciado é levado a interpretar que está se tratando apenas ao acesso às salas de cinema, mas o aluno também pode pensar em outros recursos, como as plataformas de streaming, que de certa forma também ampliou o acesso à produção de cinema. Nesse ponto ficamos em dúvida de como a banca vai se posicionar”.

Os professores analisaram o conteúdo da prova e afirmaram que o grau de dificuldade dos últimos anos foi mantido, apesar da ausência de assuntos mais sensíveis ou que pudessem gerar qualquer tipo de polêmica.

“A prova se manteve neutra em assuntos polêmicos e ficou alheia a qualquer divergência entre os idealizadores”, disse Santos.

O professor também afirmou que algumas questões apresentaram falta de conexão entre as possibilidades de resposta e o enunciado. Para ele, a prova de linguagens trouxe maior diversidade nos assuntos abordados e a presença muito forte de temas ligados às minorias.

Fernando Santo, no entanto, disse que falta de proporcionalidade entre os enunciados de linguagens em relação a de ciências humanas pode ter gerado um grau maior de dificuldade aos candidatos.

“A prova de linguagens tinha 18 das 32 páginas da prova. O aluno precisou gastar muita energia com essas questões mais longas, e pode ter faltado o tempo necessário para o restante da prova ou para a redação”, explicou.

Ele diz que o Inep não deixou de pedir conteúdos clássicos nesta edição, e ainda atentou para questões mais atualizadas, que faziam parte do cotidiano dos candidatos.

“Muitas das datas de acesso dos conteúdos eram do segundo semestre de 2018, o que mostra uma preocupação em conteúdos mais atualizados. Ao mesmo tempo os autores clássicos estavam presentes, assim como vários conteúdos abordados ao longo do ensino médio”, contou.

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