Apesar de falha no Enem, governo mantém data do Sisu e corre para evitar estrago maior

Governo avalia que é preciso saber dimensão do problema para calcular danos a Weintraub

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Brasília

O MEC (Ministério da Educação) ainda não tem a dimensão do número de participantes do Enem 2019 com notas erradas por causa da falha na gráfica. Mesmo assim, o ministro Abraham Weintraub se apressou em minimizar o impacto do problema e manteve o calendário do Sisu, que seleciona alunos para universidade públicas. 

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em entrevista coletiva sobre o Enem
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em entrevista coletiva sobre o Enem - André Coelho/Folhapress


O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do MEC responsável pela prova, promete ter a situação resolvida até segunda-feira, véspera da abertura das inscrições no Sisu (Sistema de Seleção Unificada). O presidente do Inep, Alexandre Lopes, disse não trabalhar com a hipótese de adiar as inscrições.

O governo identificou a falha nas notas a partir de relatos de candidatos nas redes sociais e aposta numa solução rápida do problema. O Inep disponibilizou um email (enem2019@inep.gov.br) para receber reclamações, e Lopes disse que vai analisar todas as mensagens recebidas até a noite de segunda.

Se os questionamentos sobre as notas se avolumarem, porém, o Inep terá dificuldades de garantir a confiabilidade dos resultados.

Weintraub esteve no Inep na manhã deste sábado (18), gravou um vídeo ao lado de Lopes e o publicou em sua conta no Twitter relatando o problema. Não compareceu, entretanto, na entrevista concedida no final da manhã.

O ministro disse a interlocutores que a realização de um Enem sem problemas sempre foi crucial para sua permanência no cargo. A preocupação se tornou ainda maior quando sua saída da pasta passou a ser defendida por vários aliados do governo —o presidente Jair Bolsonaro, entretanto, garantiu sua permanência até agora.

No início da noite de sábado, Bolsonaro falou com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, residência oficial, em Brasília. Questionado pela imprensa sobre as falhas no Enem, o presidente não respondeu. 

Bolsonaro passou ao menos duas horas com o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo. Ramos deixou o local sem falar com os jornalistas. 

Ministros do alto escalão do governo indicaram que o Palácio do Planalto não foi informado oficialmente sobre os problemas no Enem. Auxiliares do presidente Bolsonaro disseram ter conhecimento do caso apenas pela imprensa.

A avaliação, tanto de integrantes do governo quanto de parlamentares que acompanham o MEC de perto, é a de que é preciso esperar qual será dimensão do episódio para calcular um possível dano maior a Weintraub.

Ministros próximos a Bolsonaro dizem que o vídeo com alusão ao nazismo que derrubou o secretário de Cultura, Roberto Alvim, elevou o sarrafo dos deslizes que são aceitos pelo presidente. De acordo com essa avaliação, uma eventual demissão do ministro da Educação neste momento só viria se os problemas com o Enem não forem solucionados e atingirem um número muito grande de estudantes.

Bolsonaro também foi questionado, na noite de sábado, sobre a expectativa de que a atriz Regina Duarte venha a assumir a secretaria de Cultura. Ele não respondeu, só disse que ela era a "namoradinha do Brasil".

Os primeiros relatos de problemas com a nota começaram a aparecer na noite de sexta-feira (17), quando o MEC liberou o acesso aos participantes. Candidatos com elevado número de acertos se viram com notas baixas.

Inicialmente, o Inep afirmou que se tratava de reflexo do modelo matemático adotado pelo exame, a TRI (Teoria da Resposta ao Item). Com a TRI, a nota final depende também de quais questões foram anotadas como corretas.

Como os relatos se avolumaram, técnicos do Inep, da gráfica Valid (que passou a imprimir a prova no ano passado) e do consórcio aplicador da prova se debruçaram sobre as bases de dados em busca de inconsistências. O trabalho teria ocorrido ainda durante a madrugada de sábado.

Segundo o instituto, foram constatados erros na identificação dos candidatos e da respectiva cor de sua prova. A falha ocorreu na gráfica: os arquivos com essas informações chegaram ao Inep com divergências. O candidato fez a prova de uma cor, mas, nos arquivos encaminhados ao Inep para o cálculo da nota, a nota era corrigida como se fosse de outra cor.

Quatro casos foram confirmados inicialmente, todos em Viçosa (MG). Servidores do órgão foram convocados a comparecer às 8h do sábado no Inep para trabalhar nessa questão.

Pelas análises iniciais do Inep, o problema pode chegar a 1% dos participantes, o que representa cerca de 39 mil pessoas. Segundo Lopes, a conferência prevê várias etapas, inclusive com checagens manuais.

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