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De aula ao vivo a grade flexível, escolas privadas diversificam métodos durante pandemia

Pais e alunos ainda têm dificuldade em se adaptar ao modelo virtual diante da quarentena para deter coronavírus

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São Paulo

Aulas com transmissão ao vivo pela internet, gravadas para a televisão, lista de exercícios por email, fóruns de discussão. São inúmeras as formas de ensino a distância adotadas pelas escolas particulares durante a pandemia de coronavírus para substituir as atividades presenciais.

Apesar do uso das mais diversas metodologias de ensino, pais e alunos ainda têm dificuldades de se adaptar às atividades remotas. Para especialistas da área, os problemas ocorrem pela falta de experiência com o modelo e pela expectativa de reproduzir o mesmo formato e dinâmica das aulas presenciais.

“As escolas foram pegas de surpresa e entraram em uma corrida para manter as atividades de ensino de alguma forma. Todos tiveram muitas falhas, mas ninguém deve se envergonhar disso”, diz João Mattar, diretor da Abed (Associação Brasileira de Ensino a Distância). Para ele, depois de duas semanas nessa situação, os colégios já conseguem mapear o que não funcionou e fazer ajustes.

Teste para aula à distância pelo colégio Porto Seguro
Aluna do colégio Porto Seguro, em SP, em atividade de ensino a distância - Divulgação

Segundo ele, as escolas que melhor se adaptaram foram as que optaram por combinar mais de uma metodologia e entenderam que o tempo de aula mudou. “Não adianta começar a aula às 7h, como ocorria no colégio, e fazer transmissão ao vivo até as 12h. Podem até tentar, mas o aluno não vai ficar parado na frente do computador todo esse tempo prestando atenção”.

O colégio Dante Alighieri, no Jardim Paulista, em São Paulo, optou por manter para os alunos dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e do ensino médio a mesma rotina das aulas presenciais. As aulas acontecem nos mesmos horários e na mesma grade de antes.

“Foi uma opção arrojada, por entendermos que para essas etapas era importante mantermos a mesma rotina de estudos. Os alunos ligam o computador às 7h, e o professor está lá dando bom dia para começar a aula”, conta Valdenice Minatel, diretora da escola. Dos cerca de 2.000 alunos nessa etapa, ela diz ter registrado 90% de presença diária nas aulas ao vivo.

Aluna do 3º ano do Dante, Rafaela Morel, de 16 anos, diz que sua rotina mudou muito pouco no isolamento por causa da estrutura montada pela escola. “Eu acordo praticamente no mesmo horário, me visto, tomo café da manhã e vou para o computador. Os professores dão aula e aparece um powerpoint na tela que funciona como a lousa. Eles dão tempo para tirarmos dúvidas e fazermos exercícios”.

Isabella Dotta, de 17 anos, também relata que manter a rotina a tranquilizou em relação aos vestibulares no fim do ano. “É muito parecido com a sala de aula, só sinto falta de estar perto dos meus amigos, das conversas. Mas temos um grupo da turma no Whatsapp e às vezes conversamos por lá durante as aulas”, disse.

As duas, no entanto, relatam que ao fim do dia têm sentido dores de cabeça e nas costas por passar muito tempo em frente à tela do computador. “Quando as aulas acabam os professores falam para fazermos outra coisa, nos distrairmos, mas a distração também é mexer no celular”, diz Rafaela.

No colégio Rio Branco, em Higienópolis, a opção foi por mesclar metodologias que privilegiam a interatividade em vez de usar apenas aulas com transmissão ao vivo. “Entendemos que não dá para simplesmente fazer a transposição da aula presencial para a virtual. Então, as aulas têm vários momentos diferentes. Usamos webconferência, lista de exercícios, fóruns de discussão, grupos de trabalho”, afirma a diretora Esther Carvalho.

Ela conta que a opção de não simular exatamente as aulas como ocorriam presencialmente foi alvo de críticas de alguns pais, mas a escola explicou entender que o modelo é mais saudável para os alunos e atende melhor ao projeto pedagógico. “Às vezes os pais fizeram uma MBA a distância e acham que devemos replicar a mesma metodologia para os filhos. Nós explicamos que o EAD para um adulto não funciona para uma criança ou adolescente”.

Esther também diz que os professores têm relatado a sensação de “ampliação” da sala de aula com uma participação mais intensa dos pais. Para evitar que o envolvimento atrapalhe os alunos, a escola teve de dar algumas orientações.

“O pai está sendo demandado a dar um suporte a mais aos filhos, mas não tem que fazer o papel de professor. Se ele sente isso, deve conversar com a escola para fazermos novos ajustes. Tivemos casos de pais respondendo os exercícios online como se fossem os filhos ou questionando a forma como o professor resolveu uma questão, isso não ajuda”, disse.

Mattar destacou ser importante que os pais tenham paciência e compreendam que nenhuma atividade a distância consegue replicar a aula presencial. “É uma oportunidade para que adolescentes desenvolvam mais autonomia e responsabilidade nos estudos. Devemos aproveitá-la”.

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