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Escolas usam rádio para levar conteúdo a estudantes de todo o país

Iniciativas de redes públicas de educação ajudam alunos sem internet a acompanhar aulas

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Paula Sperb Ícaro Carvalho
Porto Alegre e Natal

“A Era Vargas termina com um golpe, em que Eurico Gaspar Dutra e Góis Monteiro, os mesmos que colocaram Vargas no poder, expulsam o Getúlio”, explica o professor de história Elvis John, da rede estadual do Maranhão.

A aula é transmitida pela rádio Timbira, emissora pública do estado e que agora tem levado aulas para os 322.961 estudantes matriculados nas 1.071 escolas estaduais. Além da rádio, o programa pode ser escutado no formato de podcast e também com aula em vídeo na TV Assembleia e YouTube.

O conteúdo transmitido por rádio é uma forma que as redes públicas de ensino de diversas partes do país encontraram para levar a escola para dentro das casas durante a pandemia da Covid-19. A doença obrigou o fechamento das salas de aula para evitar a proliferação do novo coronavírus.

Além disso, o rádio alcança quem normalmente não tem acesso à internet ou aqueles que, quando possuem conexão, não contam com um computador adequado, esbarrando na tela diminuta do celular.

“A gente saiu de dentro das quatro paredes da sala de aula. As ondas de rádio nos levam além. Foi uma mobilização rápida. Assim que veio a pandemia, em questão de instantes, o governo se organizou. Como professor de escola pública fiquei muito contente”, diz John, o professor de história.

No Rio Grande do Norte, com cadernos abertos e lápis em punho, os irmãos Gabriel, 7, e Samantha, 4, estudam em casa, acompanhados da mãe Salésia Maria da Silva, 34. Moradores da zona rural de de Serra Negra do Norte, a 260 km de Natal, a família é uma das que acompanha as aulas com transmissão no rádio.

“A tecnologia está por toda parte, mas tem lugares de difícil acesso, que não têm internet. Essa transmissão foi muito importante. Nós, pais, aprendemos junto com os filhos”, opina a mãe.

Sem aulas presenciais desde 18 de março, a cidade de 8.078 pessoas possui apena suma emissora, a rádio Princesa da Serra, que transmite as aulas no programa "Educa Quarentena" desde 20 de abril.

“Fizemos aulas de Inglês pelo rádio. Trabalhamos aqueles verbetes que já são incorporados na nossa língua, como 'feedback', 'fastfood', 'delivery'”, diz Petrucio Ferreira, secretário municipal de educação e agora apresentador do programa, que conta com participação dos professores das escolas públicas.

Também no Rio Grande do Norte, em Caicó, a 269 km da capital potiguar, os ouvintes da rádio Rural podem acompanhar o programa “EJA em Ação”, promovido pelo governo estadual especialmente para o público da Educação de Jovens e Adultos — a sigla EJA do nome do programa.

“O objetivo é dar oportunidade à continuidade da trajetória escolar dos estudantes”, explica a coordenadora Suenyra Nóbrega. Porém o programa foi mais longe e passou a atrair pessoas que haviam abandonado a escola, e não apenas os matriculados nessa modalidade.

“Escutamos depoimentos que [o projeto] está chegando em diversas comunidades, setores e níveis de ensino", conta a coordenadora.

No Rio Grande do Sul, a rede municipal de Candelária, a 155 km de Porto Alegre, também tem feito transmissões diárias para os alunos. “A transmissão é exatamente na hora em que o aluno teria aula. Os estudantes recebem os planos de estudo seguindo o que foi escutado”, explica o jornalista Cyro Visalli, gerente da rádio Princesa.

A rede estadual não transmite aulas pelo rádio. Alunos do ensino fundamental ficaram sem aulas remotas, que serão retomadas na segunda-feira (1°). Apenas alunos prestes a fazer o Enem recebem conteúdo pela televisão pública gaúcha.

No estado vizinho, em Santa Catarina, as aulas por rádio levam atividades até para os bebês. A rede municipal de Joinville transmite aulas que vão do berçário ao EJA. A rádio que transmite é da própria prefeitura –o período de pandemia acabou reforçando a importância da comunicação pública.

“Sujar é brincar. Você vai precisar dos seguintes materiais: elementos da natureza, tais como folhas, gravetos, pétalas de flores, barro, argila, baldinho ou potes plásticos”, dizem os narradores.

O conteúdo é elaborado por professores concursados e gravados pela equipe da rádio.

“Os programas estão baseados naquilo que os professores estão desenvolvendo na semana. As famílias recebem o conteúdo correspondente pela internet ou impresso. O rádio tem um poder de chegar nas pessoas que é diferenciado”, explica a secretária municipal de educação,Sônia Victorino Fachini.

Enquanto as redes municipais e estaduais estão usando o rádio e até canais públicos de televisão para levar as aulas aos estudantes em isolamento, não há uma iniciativa coordenada em nível federal.

A reportagem procurou o Ministério da Educação (MEC), que foi questionado sobre a possibilidade de uso dos canais de rádio e TV da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e da TV Escola para transmitir aulas durante a pandemia. O MEC respondeu por meio de sua assessoria que o questionamento deveria ser feito a prefeituras e estados.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto identificava erroneamente a cidade de Caicó, no Rio Grande do Norte, como Caiacó. O texto foi atualizado.

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